APOIO/PATROCÍNIOS

APOIO/PATROCÍNIOS

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

NORSEMAN, UM BELO INFERNO

Galeria de fotos


RELATO DA MINHA PARTICIPAÇÃO NO NORSEMAN 2014

Norseman antes de ser uma prova de triatlo é um exemplo, um excelente paradigma no mundo do desporto. 
No ano 2000, apenas 9 noruegueses tinham realizado um Ironman, o triatlo na Noruega estava pois periclitante. Norseman é pois uma vontade saída do desejo de reavivar esta modalidade, e assim, começaram diálogos para criar uma competição que fosse diferente de tudo quanto existia, no início, algo onde a experiência seria mais importante que o tempo de chegada, uma viagem pela natureza, onde os atletas partilham experiências com a família, e amigos que farão parte do seu suporte de apoio, uma prova, com início de noite nas águas frias de um fiorde, e a terminar no alto de uma montanha, donde se pode ver um sexto da parte continental da Noruega. Estava pois lançado o mote para um grande evento.

Na sua primeira edição em 2003 alinharam à partida 21 atletas (19 terminam), hoje, muitos desejam um lugar na tão jovem e mítica prova, e o nível de competição do Norseman tornou-se tão elevado que já faz parte do circuito de alguns atletas famosos, tais como o campeão do mundo Chris McComarck. Por outro lado, se tivesse participado na primeira edição teria ficado em 3º lugar, o que evidencia o nível que esta prova atingiu.

Mas porque razão Norseman se tornou em algo tão desejado? Norseman caminhou seguramente ao lado da exponencial proliferação do desporto, mormente a febre pelo mais exigente, mas também esteve de mãos dadas com os seus repetidos sucessos de ano para ano.


A PREPARAÇÃO

Em Outubro passado submeti a minha inscrição ao Norseman, algumas semanas depois soube que tinha sido seleccionado. Essa notícia foi uma enorme satisfação, mas sabia que ia me dar muito trabalho. Depois de não conseguir participar na maratona do Porto, devido a uma tenossinovite dos peroniais, tinha uma dificuldade acrescida na minha preparação para o Norseman. Electroacupunctura com o Doutor Eduardo Francisco, e vinte sessões de fisioterapia, embora com melhoras temporárias, revelaram-se ineficazes no combate ao problema. Este estava longe de se resolver.



Perante tal entrave, e aconselhado por um ortopedista, “caminhar” devagar, reduzir a intensidade e o volume na corrida eram uma saída. Uma receita que veio a revelar-se eficaz, na medida em que, apesar de ter realizado apenas dois terços do que estava planificado para a corrida, acabei por dar mais descanso ao pé, e concomitantemente, reforcei-o, o que me permitiu chegar ao Norseman ainda com o problema, mas fundamentalmente sem dores incapacitantes.

Na medida em que os meus dois últimos Ironman’s foram realizados em montanha (Embrunman), estava confiante que o segmento de ciclismo não seria a maior preocupação, antes pelo contrário, centrei muito cuidado no primeiro segmento. A minha preocupação estava precisamente na natação, sobretudo pelo facto desta ser realizada em águas muito frias. Durante o inverno consegui fazer um treino de 12ºC e dois de 13ºC, tudo o resto foi acima destes valores. Acreditem ou não, mas a nadar com temperaturas a rondar os 12ºC, o frio dá lugar à dor, uma dor lancinante que se espeta na cara e nos tolhe o raciocínio. Experimentem e dar-me-ão razão. Com excepção de 3 treinos de piscina, todos os restantes foram feitos no rio, maioritariamente contra a corrente, o que me permitiu fortalecer o nado, mas inevitavelmente impossibilitou-me de melhorar tecnicamente. Chegado que estava o dia da prova, tinha de decidir se queria nadar com camisola térmica, e se usaria touca de neoprene ou balaclava. Deixaria a decisão para a véspera da prova.



No que toca ao 2º segmento, fui-me preparando, cumprindo a planificação definida, e realizando apenas dois treinos semanais de ciclismo. Substancialmente pouco, mas o que me era permitido fazer devido ao constrangimento profissional. Realizei alguma preparação que considero decisiva para melhor trepar, como por exemplo o de Guimarães-Mondim de Basto (Sr.ª da Graça), e no plano, enriqueceram-me aqueles que fiz com o Nuno Gameiro, Paulo Polónio, Jordão Alves, e Tiago Mendes.


Já a corrida, embora limitada devido à lesão supra referida, foi feita tendo em conta o perfil da prova. Os 17 kms finais a subir eram a minha preocupação, e nesse sentido, o meu propósito estava direccionado para uma corrida muito vertical. Realizei alguns limiares anaeróbicos no plano, e trabalho de subida em asfalto. O trail, inicialmente previsto, esteve proibido devido ao elevado risco de agravamento da lesão.


A VÉSPERA – 01 DE AGOSTO

Na véspera da prova é comum os atletas se reunirem para sentir a água, então, num momento de confraternização, encontrei-me com o Paulo Rua, o outro atleta português que ia realizar o Norseman, e lá fomos nós “molhar os pés”. Eram umas 10:30 horas da manhã, a água, límpida, estava a 15ºC, nada que nos incomodasse, porque estar pela primeira vez a nadar no meio de uma paisagem idílica desviava a nossa atenção de qualquer frio que pudesse existir. O fantástico ambiente, com aqueles monstros de rochas a mostrar a grandiosidade da natureza, e as nuvens muito baixas, formando um ligeiro nevoeiro, criavam o cenário perfeito para qualquer artista romântico.


A tarde foi preenchida com o famoso briefing, que afinal não era tão obrigatório quanto anunciavam, já que ninguém controlava as presenças. De todo o modo, foi imprescindível, dado que muita informação que foi veiculada era nova, e de extrema relevância para o dia da prova. Ficámos a saber que houve um deslizamento de terras num dos túneis que teríamos de passar: o túnel Måbø. Assim, a autoridade rodoviária, pela mão da organização do Norseman, aplicou algumas regras de circulação nomeadamente a do “pace car” usada na fórmula 1, e que proíbe qualquer tipo de ultrapassagem, mesmo que alguém parasse. Além disso, não poderia haver qualquer tipo de apoio até Vøringsfossen, numa extensão de 18 kms. Foi também no briefing que se fez um minuto de silêncio pela morte do Norseman Øyvind Slørdahl (1977-2014). Também a notícia meteorológica que previa mau tempo no Monte Gaustatoppen, e que forçosamente poderia impedir o seu acesso, elevou a expectativa.
Regresso a casa para jantar, e depois disso, tempo para conhecer e confraternizar com os 4 elementos da Lusofonia de Bergen que fizeram questão de vir apoiar os seus compatriotas.


De volta a casa, hora de verificar os últimos preparativos, e descansar um pouco.
Uma última mensagem deixada no facebook e por volta das 03:30 horas, saímos para Eidfjord, a cerca de 1 kms do alojamento. 


A PROVA – 02 DE AGOSTO

Depois do Check-in feito, encontrei-me com o Paulo Rua e deixamos as nossas equipas de apoio. Entramos no barco, e às 04:00 horas zarpou.


A partir daqui estávamos sós, a nossa prova tinha para todos os efeitos começado. O ambiente dentro do barco é muito sereno, alguns meditam, outros aquecem, o medo, esse, em consonância com o respeito da prova, estava bem estampado na cara dos atletas. Imaginava o que os outros sentiam naquele momento. Entretanto, ouvia-se um murmúrio complacente de atleta para atleta. E eu!? Estava ali a contemplar toda aquela beleza.


Olhava o horizonte e apercebia-me da beleza daquele cenário, que acredito, único no mundo. Uma garganta de rochas, um espelho de água verde, nuvens quase a roçar o plano de água, e o sol a querer nascer. É inefável o que senti, naquele instante percebi que independentemente do resultado, aquele seria um dia memorável. Tantos vídeos que vi, tantos relatos que li, e ali estava eu, à minha vez, para cumprir com aquilo que sempre desejara.

A natação

Tenho bem presente o salto para a água, este ficará gravado em memória para todo o sempre. Em grupos fomos saltando, fiquei na retaguarda e lancei-me, o choque térmico, apesar de ter optado pelo balaclava e pela camisola térmica, foi de facto grande. Em seguida nadei para a linha de partida situada a cerca de uns 300 metros do barco, e como previsto, às 05:00 horas da manhã soou a buzina de partida. Naquele momento tinha início um dia fabuloso, mas muito extenuante.

A natação foi 75% confortável, mas pelo facto de ter levado camisola interior térmica, fiquei com alguma limitação no movimento de ombros, o que me obrigou a solicitar mais os músculos, os restantes 25% foram feitos com um cansaço não previsto, foi aqui que senti a falta de trabalho específico. Havia momentos em que a temperatura da água baixava abruptamente, e eu continuava a nadar com alguma tranquilidade, embora cansado, sabia que estava quase a terminar o primeiro segmento. Contorno o pequeno porto, e saio da água em 84º, vejo o tempo e pensei: “01:12 horas, não posso acreditar”. De facto esperava fazer cerca de 3 minutos menos, valeu pela experiência e dali retirei uma lição para outras provas semelhantes.


Apesar de cansado, entrei bem no parque de transição, vesti o equipamento, que era bastante, e por isso demorei muito tempo. Coloco o colete reflector, acendo as luzes e saio do parque de transição com 08:42 minutos (143ª posição).

O ciclismo

Faço-me à estrada, e 1 km depois noto que me faltava o dorsal. Pensei: “estou tramado!”. Como fui eu sair do parque de transição sem que notassem a ausência do dorsal? A culpa seria sempre minha e com direito a desclassificação. Sabia que tinha de conjugar o meu andamento com a resolução do problema, assim, indo contra o regulamento, pego no telemóvel a pedalar, e ligo ao meu apoio. Estava a cometer a minha segunda infracção. Ninguém atende, uns kms adiante volto a tentar, e novamente sem sucesso, deixo então uma mensagem: “traz-me o dorsal rapidamente”. Tinha de chegar ao próximo posto de controlo em Dyranut, ao km 40, com o dorsal, caso contrário seria detectada a sua falta, até lá restava-me esperar que nenhum árbitro desse pela infracção.
Os primeiros 35 kms deste segmento, incluem passagem nalguns túneis, são muito selectivos, e sempre a subir, com algumas pendentes a rondar seguramente os 10 ou 12%.



Embora me sentisse bem a subir, não podia meter o meu ritmo por causa da falta do dorsal, fiz alguma ginástica para circular entre ciclistas de modo a dificultar a visibilidade da minha traseira, mas nem sempre era fácil porque alguns atletas, devido ao meu ritmo mais lento, ultrapassavam-me. Entretanto, eis que toca o telefone, era o meu apoio a dizer-me que vinha a caminho com o dorsal, mas que o trânsito estava muito congestionado e lento por causa da prova, nalgumas partes do percurso estava mesmo bloqueado para permitir a passagem dos atletas, que ora circulavam em vias paralelas à estrada nacional, ora circulavam nessa estrada principal.

Toda esta situação deixou-me muito stressado, mas mais ou menos ao kms 18, chega, finalmente, o meu dorsal. Foi um alívio saber que dali em diante estava tudo em ordem e pronto para efectivamente iniciar o meu ciclismo.
Chego ao km 40 na 131º posição, com o tempo de 02:06 horas, a partir dali iria descansar um pouco as pernas. Nada mais errado! Olhando para o perfil do segmento de ciclismo percebemos que a partir do km 40, somos lançados numa descida de 51 kms, porém, isso não corresponde à verdade. Efectivamente nós passamos dos 1263 metros para os 779 metros, o que significa que há uma perda de 484 metros, portanto, substancialmente pouco para uma extensão de 51 kms. Isto significa que esta descida é um “rompe pernas” constante, com descidas pouco acentuadas. Descia e logo estava a subir, acresce a isto que todo o percurso é descampado e com um vento muito forte, onde por vezes a descer tinha dificuldade em manter uma velocidade superior a 30 kms/h.


Chego a Geilo (km 90), com dois lugares recuperados (129º), e com o tempo de 03:44 horas, francamente pouco para uma prova deste género, porém, notei que todos estavam a aguentar o ritmo e ninguém arriscava nada. O espírito é altamente competitivo, todos querem uma t-shirt preta. É constante vermos os atletas a olharem para trás para saber se estamos a fazer drafting, ou para tentar descolar, por outro lado, ouvem-se as equipas de apoio a gritar as suas posições, para os incentivarem a progredir. Também estava a receber informação da minha equipa de apoio, e embora fossem dados provisórios, permitiram-me gerir o esforço.


Chegado aqui sabia que devia comer uma sandes de presunto, mas não me apeteceu, tendo-lhe dado apenas uma trinca. Fiz o resto da alimentação seguindo os conselhos da minha nutricionista Filipa Vicente, comendo e hidratando no tempo certo, mas aqui, uma vez mais o meu lema prevaleceu: “por mais preparado que estejas, o inesperado espera-te”. O meu hábito de consumo recai nas barras PowerBarEnergize C2MAX, são possivelmente as melhoras barras energéticas do mercado, mas têm um grande inconveniente que, embora o conhecendo, esqueci-o completamente: Quando a temperatura é muito baixa, as barras endureceram de tal maneira que é muito difícil mastigá-las, tornou-se um desconforto tremendo passar cerca de meia hora para comer uma barra, assim, acabei por desistir delas.


A seguir a Geilo, tinha a primeira de quatro pendentes com 4 kms (5 no total, incluindo a primeira de 35 kms), nada que exigisse muito esforço. Segue-se depois ao km 105 mais uma subida de 5 kms um pouco mais acentuada. A terceira subida, de 10 kms, surge ao km 114 e sobes até aos 1108 metros, por fim, ao km 135 aparece aquela que considero ser a mais difícil subida da prova, não pelos seus 15 kms, mas porque as pernas já acusam algum cansaço, e porque a inclinação é acentuada.


Entretanto, a organização envia uma mensagem sms para a equipa de apoio, alertando para que nos preparássemos para o mau tempo que se aproximava. A partir do km 150 iríamos estar sujeitos a um forte temporal, com chuva torrencial, muito vento e trovoada, e colocaram de sobreaviso o uso obrigatório do colete.


Não sei como conseguem controlar com precisão a meteorologia, mas a verdade é que chego a Imingfjell, (km 150), na 113ª posição, com o tempo de 06:13 horas, e o clima muda radicalmente, adquirindo um aspecto tenebroso: chove copiosamente, rajadas de vento fortíssimas faziam-me balançar na bicicleta, era impensável pegar no bidon para beber, o nevoeiro por sua vez limitava substancialmente a visibilidade, estávamos a 1180 metros de altitude, a temperatura baixou impetuosamente, tudo fazia jus àquilo que é o Norseman.


Por esta altura, tanto o meu apoio como a Lusofonia de Bergen, mantiveram-se firmes e com coragem para suportar as difíceis condições daquele momento.



A penalização

Faltavam-me 30 kms, não queria perder tempo a vestir o impermeável, então prossegui, vencendo o vento, até que em boa altura pensei: «vais ficar ainda mais encharcado, a temperatura está excessivamente baixa, vais arrefecer muito e enfraquecer, não vais conseguir pedalar, e muito menos travar na descida que se segue, consequentemente vais perder lugares, ou até cair», então, neste rasgo de pensamento decidi pedir o impermeável. Aproxima-se o carro de apoio, que encosta à berma, e coloco-me no lado do condutor. Tantas vezes li o regulamento e nem me lembrei que estava a cometer uma infracção. Num ápice, pego o impermeável das mãos do meu apoio, e nesse preciso momento pára um carro à paisana com árbitros, que imediatamente me aplicam um cartão amarelo referente a uma penalização de 5 minutos.

Tinha cerca de 25 kms para arriscar tudo, e recuperar o tempo que acabava de perder. Neste intervalo, o meu apoio, grita-me sucessivas vezes que tenho de deixar o colete visível, pois este tinha ficado por baixo do impermeável, contudo, não tinha nenhuma intenção de o trocar, porque seria mais tempo perdido, mas dada a insistência e reparando que todos os atletas vestiam os seus, acabei por ceder e regularizar a situação. Soube mais tarde, que a juíza arbitro que me penalizou tinha enviado uma mensagem, dizendo que se não vestisse imediatamente o colete seria desclassificado. No fundo corria sérios riscos na segurança rodoviária, como também estava a colocar em causa a prossecução da prova. Aprendi que devemos dar ouvido, e atenção a quem nos apoia, afinal, eles estão lá para isso mesmo, e nessa medida, eles têm uma realidade diferente da nossa, mas que obviamente se complementa.

Desde este momento até ao final do segmento não tinha outra opção do que andar no limite, e é um facto que andei bem. Não me poupei na descida, fui ganhando lugares. A lente escura do meu capacete Casco Speedairo era demasiado hermética, e devido ao mau tempo, não me deixava ver bem a estrada que estava em muito mau estado de conservação, então decido levantá-la, a partir deste momento, os pingos de chuva pareciam agulhas a espetarem-me a cara e os olhos. Arrisquei muito na descida, talvez demais, naquelas condições, o risco de queda era elevadíssimo, mas se assim não fosse não teria chegado ao fim na 104ª posição, ganhando 9 lugares e totalizando 07:24 horas neste segmento.

Chegado à segunda transição, em Austbygda sou recebido por uma senhora que me mandou encostar para cumprir a pena de 5 minutos. Sentado, lá fiquei a ver passar todos aqueles que fui conquistando nos últimos kms. Eu sabia que isso me iria acontecer, tal como também sabia que dali em diante teria de fazer a minha corrida de modo folgado, mas a tentar recuperar posições.




A corrida

Chego ao parque de transição todo molhado, troco então de roupa, e saio com 15 minutos (penalização incluída). Dou início à corrida. Mal saio do parque apercebo-me que esqueci o relógio na bicicleta, neste momento estava ao meu lado o Nuno Lopes da Lusofonia de Bergen, a quem lhe peço o favor de o ir buscar. E assim foi, o Nuno corre ao parque e por intermédio do meu apoio rapidamente mo traz de volta.


Por esta altura não chovia, começo solto, e com boas sensações, seguia a 04:30 min/km, vou passando pessoas, estava no último segmento da prova, aquele onde consigo obter os meus melhores resultados. Estou cansado, mas com muita força nas pernas para suportar o que estava para vir. A minha táctica foi correr os primeiros 25 kms o mais rápido possível, porque provavelmente iria sentir dificuldades na subida de 17 kms. Estava confiante, e continuo a dobrar outros atletas.


Como alguns frutos secos, e bebo uma mistura de Coca-cola e água, na proporção de 50/50. Mais uns quilómetros e não estava a conseguir comer o pouco que levava, então, sabia que não podia falhar a hidratação, contudo, já não suportava a bebida isotónica, e apenas a Coca Cola me estimulava, só que esta tinha acabado, é neste momento que o meu apoio pediu a outra equipa, e esta, benevolentemente, disponibilizou cerca de meio litro, o que me permitiu continuar mais uns quilómetros. Por esta ocasião já tinha baixado o ritmo de corrida, mas ainda assim seguia bem. Chegado ao km 25,5, tenho 02:18 horas de corrida (média de 05:20 min/km), com o 68º melhor tempo da corrida e na 119ª posição global.

Noto que a Coca-Cola acabara, e aqui uma vez mais o meu apoio se revelou precioso. Sabia que não iria conseguir hidratar tão bem com outro líquido, foi então que lhe pedi para ir à localidade de Rjukan comprar. Sem qualquer obstáculo, e sem conhecer aquela região, foi procurar uma loja onde pudesse adquirir a tão famigerada bebida. Isto é revelador de um bom apoio.

Entretanto comecei a empreender o início dos 17 kms da subida, entrando naquilo que chamam o “Zombie Hill”, uma extensão de cerca de 7 kms com um declive muito acentuado.


A prova não me estava a correr mal, coloquei-me então como objectivo ficar entre os 100 primeiros, para isso tinha de trabalhar arduamente naquela subida, e assim foi. Começo a subida a correr e paro para andar apenas umas 3 vezes até ao km 32,5, os treinos de subidas estavam a revelar-se eficazes. Cerca de 98% dos atletas preferem andar do que correr, eu aproveitei-me disso para conseguir ganhar mais uns lugares. Chego ao km 32,5 com 03:30 horas, estava bem abaixo do tempo de corte de 14:30 horas, e entre os 100 primeiros, logo, entre os 160 primeiro a quem era permitido subir ao Monte Gaustatoppen. Fiquei contente, mas sabia que cumulativamente tinha de perfazer os 5 kms seguinte em menos de 1 hora, tudo estava ao meu alcance e eu sabia-o. Continuei a correr e ainda consegui ultrapassar mais 4 atletas que penosamente caminhavam.


Ao km 36 vêm ao meu encontro o Nuno Lopes e o Milan Chhaganlal que me encorajam e acompanham até ao km 37,5. Chegado aqui, hora de encontrar o meu apoio, pegar as mochilas para ir ao posto de controlo, e atacar o terreno hostil dos últimos 5 kms.



O cume do monte estava coberto de nevoeiro, previ imediatamente que não ia ser fácil a ascensão. Dado que a maioria do percurso é inacessível para a corrida, estes 5 kms finais foram feitos a caminhar. No início existe um trilho misto de terra e pedra, mas à medida que vamos subindo esse mesmo trilho deixa de ser perceptível e é totalmente constituído de lascas de pedras enormes. A primeira sensação é que trituraram uma montanha, e a despejaram ali.




À medida que subíamos, o vento soprava com mais intensidade, a temperatura baixava, e o nevoeiro obliterava a nossa visão. Nesta fase já não estava preocupado com a minha posição, até ter visibilidade deixei-me seduzir pela paisagem, parei para bater umas chapas, e deslumbrar o quanto de belo tinha à minha frente. Entretanto, fotógrafos pedem-me para ser fotografado com a Bandeira Portuguesa, e mais uns quantos atletas passam-me.

 

A meio do percurso, a falta de cartilagem do meu apoio impede uma progressão mais aturada, e paramos uns breves momentos para recuperar. Neste entretanto, estava a ser ultrapassado por imensos atletas que caminhavam bem. Pouco significado isso teve para mim, o objectivo estava praticamente cumprido – obter a camisola preta. O meu apoio, constrangido por este facto, sugere-me várias vezes que seguisse ao meu ritmo e o deixasse para trás, obviamente que a minha resposta foi negativa, afinal de contas éramos uma equipa, em que a separação seria inadmissível. Não posso deixar de realçar o seu esforço, que sujeito aos seus problemas físicos, e dadas estas circunstâncias, esteve ao melhor nível, conseguindo acompanhar-me até ao topo.

O tempo estava cada vez pior, sobretudo o vento e o frio que começavam a ser insuportáveis, a minha capacidade de aquecer estava enfraquecida e sabia que não podia ficar ali muito mais tempo. Continuamos a trepar aquele monte até que à nossa frente aparece uma escadaria de pedra com cerca de 150 metros, e que nos iria levar até à meta. Aquilo pareceu-me tão inusitado que se afigurava impossível estar ali, depois de tantos quilómetros sem qualquer facilidade via-me a subir degraus para terminar, até nisto Norseman espanta-nos.



A escassos metros da linha de chegada, tempo para compor a nossa Bandeira, e caminhar até cortar a meta. Terminei o último segmento com 05:51 horas, com a média de 8:22 min/km, acabando a prova com um total de 14:52 horas, e posicionando-me em 109º.



Finalmente o sonho de ganhar a tão cobiçada camisola preta estava cumprido.


Os vencedores deste ano foram Allan Hovda (10:52 horas) e Line Foss (12:56 horas) que receberam um prémio patrocinado pela United Bakeries de 5000 dólares cada, a ser doado a uma associação de caridade à sua escolha.


Usando um termo do David Caldeirão, diria que Norseman é o verdadeiro “monstro” Ironman, um belo inferno, que pela sua beleza e dureza, mas sobretudo pela inefabilidade da prova, qualquer triatleta deveria experimentar. Terminei a prova e o que me ocorreu foi: “Norseman nunca mais!”. Estava obviamente mentalmente enfraquecido, mas a prova é tão contagiante que no dia seguinte não me saia da cabeça a ideia de voltar.


CONSELHOS

Norseman é uma prova minimalista, elitista, dispendiosa, com uma logística complicada, uma prova com duas metas, mas sobretudo muito exigente, não só do ponto de vista físico, mas fundamentalmente psicológico.

Norseman é distância Ironman, e não obstante isto, não posso também de deixar claro que quem quiser fazer o Norseman terá de ter presente que irá sofrer (ao menos um pouco, lol). As águas frias do fiorde de Hardanger será a primeira provação, preparem-se para sair gelado, com dislexia no raciocínio, dificuldade em falar, e com as mãos a tremer, assegurem-se que por esse facto conseguem comer, hidratar, e pedalar, em segurança. Pode demorar muito tempo até se sentirem confortáveis.

Não se deixem enganar pelo perfil do ciclismo, não haverá tantas descidas quanto parece. Realço ainda o início com uma subida de 35 kms e a partir do km 91, quatro subidas acentuadas.

Norseman, já vimos, não é uma prova vulgar. Tenham também presente que as condições climatéricas nunca serão as ideais. Para lhes fazer face, em toda a prova é obrigatório o uso de luzes à frente e atrás, bem assim como colete reflector. Acreditem ou não, mas apanharão sempre chuva e vento, senão em todo o percurso pelo menos nalgum momento da prova, sobretudo no Plateau, sensivelmente ao km 145, uma zona alta e descampada, com uma extensão de alguns kms, onde o vento sopra de forma absurda.

Também não podem esquecer, que a corrida, a partir do km 25, é um dos momentos onde se consegue ganhar posições, porque a maioria dos atletas sobem a andar, mas para isso terão de correr. O Zombie Hill ficar-vos-à na memória. Essa ascensão de 7 kms vai até ao controle dos 32,5 kms com o tempo de corte de 14:30 horas, seguem-se mais 5 kms que terão de fazer em menos de 1 hora. Chegados ao km 37,5 serão vistos por um médico e só ele permite a ascensão (cuidem de ter bom aspecto, lol). Não vos será permitido subir sozinho, o elemento da equipa de apoio terá de vos acompanhar, e ambos terão de levar uma mochila contendo alguns artigos. A partir daqui têm mais 5 kms e vão ao cume do Monte Gaustatoppen para ganhar a tão desejada camisola preta. Por esta altura estarão muito cansados, o perfil destes 5 kms finais parece ter saído de uma qualquer ficção fílmica, provavelmente o tempo estará mau, e, portanto, é possível que o ânimo esteja em baixo.

Porque a ascensão é vedada ao público, não esperem encontrar uma multidão para vos receber na meta, muito pelo contrário, contem com algo austero, será um momento que reflecte intimidade.


Para descer, apenas há transporte disponível para o atleta, o seu apoio terá de regressar a pé independentemente das condições meteorológicas, o que pode ser extremamente complicado.

No final, o atleta e a equipa, chegarão à conclusão que todo o sacrifício daquele dia valeu a pena, independentemente da camisola que trouxerem, viverão momentos únicos e inesquecíveis, afinal de contas, só isso importa.


AGRADECIMENTOS

Falar de agradecimentos é falar de pessoas, assim, agradeço à Empresa Fertiprado, em particular a João Paulo Crespo, por ter depositado confiança neste projecto e me ter patrocinado.


Também agradeço à nutricionista Filipa Vicente pelo precioso plano alimentar, ao José Canhola e Ricardo Biscaia do Centro de Fisiologia Desportiva pelo bikefit e alguns conselhos adicionais, à Altis pelo apoio prestado nalgum equipamento desportivo, e ao Daniel Barros do Gymno B e Eng.º Carlos Lavoura da secção náutica do Ginásio ClubeFigueirense, pela utilização do ginásio.

A todo aqueles que estiveram envolvidos neste meu projecto, fundamentalmente ao Doutor Eduardo Francisco, e à fisioterapeuta Márcia Silva, respectivamente pelo apoio médico e pelos conselhos de terapia para a recuperação da minha lesão no pé. Ao Nuno Gameiro pelos agradáveis treinos que fizemos em conjunto, ao Mauro Correia, Arlete Silva, Planeta do Triatlo, e Ricardo Fradinho pela divulgação da minha imagem, ao Geraldo Ferreira pela ajuda na obtenção de patrocínios, ao João Rocha pelos conselhos sobre pneus, ao Alcino Oliveira e Paulo Conde pelas preciosas informações sobre a prova, ao Paulo Alves por gentilmente ter mantido contacto com o meu apoio, informando atempadamente as minhas posições de passagem, ao Carlos Romeira pelo apoio, conversas e dicas sobre a Noruega. Ao Hugo Miguel, Nuno Lopes, Tavares Rodrigo, e Milan Chhaganlal da Lusofonia de Bergen que estiveram presentes no evento, me estimularam e deram ânimo antes e durante toda a prova, o meu muito obrigado.

Agradeço igualmente ao Paulo Rua, Francisco Carvalho e Nuno Amaral Bastos pela boa disposição e bons momentos de confraternização na Noruega.
Também teço agradecimentos a todos aqueles que me seguiram, e que me conhecendo ou não, estiveram do meu lado até ao dia da prova. Aos meus Colegas de trabalho, que tiveram paciência e compreenderam a dimensão do projecto em que estava envolvido, obrigado.

Uma palavra especial de agradecimento ao Atletismo Clube de Portalegre por me ter acolhido no seu seio e me permitir vestir a sua camisola.

Por fim não podia deixar de enaltecer a cumplicidade que se estabeleceu entre mim e a minha namorada que desde o início esteve do meu lado neste projecto, constituindo-se como uma equipa que trabalhou arduamente na preparação do mesmo, quer em termos logísticos, preparação física, e no dia da prova, como suporte de apoio em toda a competição, numa vontade incondicional de ambas as parte. Realço e felicito o esforço e o empenho que demonstrou ao longo destes meses, em prol de uma causa que considerou sua desde o início.

Finalmente um agradecimento especial aos meus pais por entenderem as minhas ausências. 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

RELATO DO MEU APOIO NO NORSEMAN





Vivi esta experiência frenética, alucinante e apaixonante que se intitula Norseman juntamente com o IronVasco como sua equipa de apoio e é nessa perspectiva que de um modo efusivo descrevo o que foi esta aventura extrema em terras Vikings.

Não vou me alongar em pormenores da prova, esses ficam a cargo do IronVasco, mas vou enaltecer o mérito e a bravura de um homem que chegou a Eidfjord de um modo humilde com um sorriso modesto e de uma simplicidade invulgar capaz de conquistar um lugar no alto da montanha Gaustatoppen, e ser o primeiro português a trazer para o país a tão famosa t-shirt preta, numa competição considerada por muitos experts como pertencendo ao top 10 das mais difíceis, radicais e extremas do mundo, mas em que foi um exímio finalista!

Nas horas que antecederam a prova teve sempre um espírito relaxado, pacifico, controlado, de focalização, de método e organização, essenciais para a mesma.
Mas a boa disposição e serenidade no brutal objectivo que se aproximava, fez com que tudo se tornasse mais tranquilo ao mesmo tempo entusiasmante, atitude de um verdadeiro desportista.
Às 03.30 horas da madrugada a sensação de ver quem apoiamos, entrar para uma barcaça com uma calma, com um sorriso, com um aceno, é um turbilhão de sensações e esperar que volte a uma janela ou a um patamar para um último acenar e eu poder dar um grito de força, é no mínimo um looping de adrenalina.





Depois é ver a barcaça partir às 04.00 horas numa paisagem idílica, e ficar à espera de ouvir o som de partida dado às 05.00 horas. Desde este momento, e quando todos já estão a nadar em águas glaciares, só me restava olhar à distância, e esperar pela sua chegada no tempo estimado, desejando que tudo fluísse pelo melhor. Este momento, confesso, tardava em passar!


Euforia, alegria, palmas, mais 3 minutos que previsto, o IronVasco cumpriu a 1ª etapa, chegou cansado mas sem frio o que foi importantíssimo.Bravo, afinal foram águas geladas e temperatura exterior de inverno!


Quando se fala em Norseman é do conhecimento geral existirem duas metas, t-shirt preta e t-shirt branca, Sabia, e sempre disse que todos os participantes iriam "rasgar-se" pela mesma finalidade, mas acreditem que é indescritível a competitividade. Todos os membros de apoio estão a gritar os lugares em que os atletas se encontram, e estes estão sempre a lutar ferozmente para não perderem a posição e tentar melhorar como é óbvio. Nada tem de igual a outros Ironmans, é arrepiante e tremendo!

Em relação ao IronVasco é com uma aclamação exuberante que dignifico a sua etapa de ciclismo porque, para que saibam, ele sai da T1 sem o dorsal e não pode assim pedalar com toda a rapidez que pretende enquanto eu não o encontro para o colocar evitando correr o risco de uma desclassificação, no entanto, acaba por fazer o segmento de ciclismo de uma forma alucinante.



O trânsito era caótico, tudo em fila, estradas estreitas sem possibilidade de ultrapassagem, minutos parada para os atletas passarem. Entretanto, o meu veículo teve de encostar por sinal de sobreaquecimento e para piorar, tive de esperar por um árbitro da prova para justificar porque parei na estrada, onde claro, não podia, tudo com muitas regras. Lembrem-se que eu era parte da sua equipa e qualquer erro meu poderia penalizá-lo. Tudo isto atrasou a prova do IronVasco!

Dorsal entregue segue-se péssimo tempo, chuva torrencial, vento fortíssimo, temperaturas gélidas e quando me preparo para sair do veiculo para entregar o impermeável ao atleta que tinha de parar para vesti-lo, ele num lapso de rapidez, desconcentração e desobedecendo às regras impostas, arranca-mo das mãos, levando deste modo uma penalização de 5 minutos.
Nem sei se me atreva a dizer bendita penalização pois fez com que o IronVasco pedalasse como eu nunca imaginei que ele fosse capaz de o fazer em condições tão agrestes e perigosas chegando à T2 numa posição fabulosa!


Foi surpreendente ver e seguir, ou tentar seguir esta etapa final do imparável e desenfreado, IronVasco, porque às vezes era bastante difícil acompanhá-lo devido à rapidez do próprio, do tráfico, e das condições atmosféricas.
A sua saída para a maratona é na posição 148 mas é brilhante a recuperação de posições numa corrida onde na subida de 17 kms, incluindo o famoso Zombie Hill, cerca de 98% dos participantes, sem exagero meu, caminham acompanhados com amigos e não correm, mas ele não para de correr, completamente sozinho, chegando ao 32,5 km com a 61º melhor posição na corrida!!!



Não posso deixar de salientar a determinação, força, e coragem para ultrapassar qualquer dor que possa ter sentido causada pela grave lesão dos seu pé que infelizmente ainda não está recuperada, recusando-se sempre a tomar um analgésico ou anti-inflamatório para a amenizar.

Lamento que não terem efectuado nenhum controlo aos 37,5 km porque do 32,5 km até àquela distância, ainda ultrapassa uns quantos participantes e consegue baixar o 61º lugar. Pouco importa, o objectivo de atingir o tempo e o lugar para ir ao topo da montanha estava conseguido: a t-shirt preta era do IronVasco!

É UM NORSEMAN


A minha vaidade e o meu orgulho por ele aumenta quando na subida até à meta, no topo da montanha Gaustatoppen ele poderia manter a sua posição ou até ganhar mais alguns lugares no ranking final, mas IronVasco é grande, humano, agradecido, educado, simpático... fica para trás, tira fotos com a Lusofonia de Bergen que muito o apoiou, e que por isso merece toda a sua consideração, tira fotos com quem no trajecto lhe pediu para parar, com ele mesmo pois o deslumbramento da paisagem foi esmagador e perde tempo comigo pois inevitavelmente os meus joelhos por falta de cartilagem ressentiram-se, naquela subida infindável de tresloucados, um trail absurdo, exigente, com um frio, um vento, um nevoeiro no final e uma humidade atroz que nos invade o corpo e inunda a alma.


Antes da meta, o seu patriotismo ainda fez com que alguns lhe passassem à frente, pois queria a bandeira bem erguida ao cruzar a linha de chegada, e as condições atmosféricas não estavam a ajudar em nada!

UUUUUUUUHHHHHHHHUUUUUUU Final ESTONTEANTE do Norseman, e IronVasco é COLOSSAL!



Mas ARREBATADOR mesmo é quando depois de um dia exaustivo e penoso destes em que se sente todo o tipo de emoções, stress, descarga de adrenalina e só se quer descomprimir, relaxar, sossegar, o IronVasco telefona ao colega participante Paulo Rua e sabendo que este ainda está em prova diz:
Temos de o ir apoiar! E fomos!
E a bandeira Portuguesa uma vez mais foi erguida em terras Norueguesas!

IRONVASCO PRESTIGIAS E RESSALTAS O VALOR DESPORTIVO!

IRONVASCO ÉS MAGNÂNIMO! ÉS AVASSALADOR!

ÉS MAIOR QUE O GAUSTATOPPEN!!!!!

FOI UMA FAÇANHA HOMÉRICA, ÉS HOMÉRICO!

PARABÉNS PRIMEIRO PORTUGUÊS A GANHAR A T-SHIRT PRETA DO NORSEMAN!!!!

PARABÉNS NORSEVASCO!!!!



De mim para ti...