APOIO/PATROCÍNIOS

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terça-feira, 13 de setembro de 2016

RELATO NORSEMAN 2016

É um tanto difícil falar-se reiteradamente de uma prova em que já se participou, corremos o risco de nos repetirmos, e de sermos enfadonhos, não obstante, importa realçar que nunca nenhuma prova ironman será igual a uma edição anterior, e o Norseman é seguramente daquelas provas onde efectivamente podem existir enormes dissemelhanças, sobretudo porque, vale a pena dizer-se, a organização considerou esta edição como estando entre as 3 mais difíceis até hoje realizadas. Por outro lado, o factor humano é indubitavelmente o elemento que mais pode fazer disparar essa diferença, por essa razão, vale sempre a pena escrever alguma coisa,
Sobre as características do Norseman já muito se disse, quem quiser aprofundar do que se trata, pode aceder à minha postagem “Porque Norseman é Extreme”, pelo que irei apenas descrever, muito sucintamente, a minha participação na edição de 2016.

Sem nunca ter tido treinador para a prática do triatlo, entendi que não perderia nada se passasse pela experiência de cumprir um plano, e essa ideia tornou-se uma convicção quando em 2015 decidi que a próxima prova seria com o apoio técnico de alguém. Após a selecção para o Norseman, contactei o Paulo Conde, o Mister, epíteto pelo que é vulgarmente conhecido, que de imediato se disponibilizou a apoiar-me nessa aventura. Paulo Conde, é um profissional com enormes capacidades técnicas e científicas, capaz de perceber, diferenciadamente, cada atleta que tem a seu cargo, possuindo ainda uma elevada capacidade motivacional, algo muito importante para quem trabalha e objectiva praticar uma modalidade tão exigente como o triatlo de longa distância.


A PREPARAÇÃO
Fizemos uma fase preparatória até Dezembro 2015, e daí em diante começamos a trabalhar com afinco. Cumprir um plano diário foi uma novidade, mas simultaneamente um enorme gozo. Sentir o corpo a adaptar-se, e os progressos a notarem-se, foi a minha motivação.
Tudo corria a bom ritmo, e a conseguir absorver cada treino, quando em Junho bate à porta a síndrome da banda iliotibial. Muito eu tinha ouvido falar dessa lesão, e o quanto ela importunava. Chegou a minha vez de contactar directamente com ela, obrigando-me a parar por 3 semanas. Depois de observado por dois médicos (Doutor Páscoa Pinheiro e Pereira de Almeida), várias sessões de fisioterapia, alongamentos, e electroacupunctura (Doutor Eduardo Francisco), tudo se revelou ineficaz para combater o problema, restava-me prosseguir com os treinos e suportar o desconforto da dor, quer na bicicleta, quer na corrida, e assim foi até ao dia da prova.

Electroacupunctura

ANTES DA PROVA
Os dois dias que antecederam a prova permitiram-me contactar com o João Canhão e a sua namorada, curiosamente alojados na mesma localidade, em Ulvik, a cerca de 1000 metros de mim, deu para trocar impressões sobre o Norseman, provar a água, e no fundo criar um laço de amizade. O João é uma pessoa muita bem disposta, agradável na conversa, e disponível para desafios, isso ficou desde logo presente.

Eu e o João Canhão

Foi também tempo de me encontrar com a minha equipa de apoio, a quem desde já dirijo um especial agradecimento, mormente ao Hugo Miguel, Milan Chhaganlal, Nuno Lopes, e Carlos Correia, mas em particular ao Bergen Vest Sportsklubb, o clube que me acolheu, e me apoiou nesta aventura, estou certo que sem ele, tudo seria mais difícil. Uma equipa fantástica sempre bem disposta, todos arreigados à bandeira portuguesa. Com eles, estive em família. Muito obrigado.

Nuno Lopes, Milan Chhaganlal, Hugo Miguel, Carlos Correia

DIA DA PROVA
Depois de traçadas algumas directrizes com o meu apoio da prova, o Nuno Lopes, chegou a hora de perder o nervosismo, e enfrentar a besta de frente. Check-in feito, entrei no barco, tendo este zarpado com uns 10 minutos de atraso. Durante a viagem fui conversando com o João. O ambiente no barco é sereno. A água devia estar fria, está sempre, o vento era muito forte, iríamos ter grande dificuldades no nado. Abre a rampa do barco, e gera-se algum silêncio, todos vislumbram a beleza da escuridão.

Salto para a água, como sempre coloquei-me no grupo de trás. Quando se inicia a natação percebo que o vento estava a gerar uma ondulação considerável. Entrei num grupo muito apertado, onde mal conseguia mover os braços, pensei logo que teria de sair dali se quisesses manter um ritmo mais fluído, e assim foi, afastei-me um pouco e a coisa resolveu-se… por momentos. O vento prometia não dar tréguas, tinha a sensação que estava no fim do grupo, olho para trás e não consigo confirmar com exactidão, porém, percebo que muita gente estava parada, outros a nadar a bruços, isso deu-me algum alento. Apesar das condições não serem boas, fiz muitos treinos no rio Mondego em que as condições, com excepção do frio, até eram piores.
Chego à transição e julgava estar dentro do meu tempo médio, quando olho para o relógio assustei-me, 01:19 horas, não podia acreditar no que via. Vim a saber mais tarde que os atletas de elite saíram da água com 1 hora, estava pois explicado porquê tanto tempo. Ainda assim, fiquei em 63º, o que, entre 250, considero ser uma boa marca.
Saí da água com frio, com pouca reacção nas mãos, e foi neste momento que o apoio do Nuno se revelou crucial. Ele ajudou-me a vestir, e foram precisos 08:15 min para o fazer, sem ele seria muito difícil consegui-lo.

Saída da água
1ª transição

Começo a pedalar naquela que é a primeira grande subida da prova, cerca de 35 km, em plena ascenção, e com inclinação a chegar aos 8%. No topo, aos 1300 metros, já não se via nada com o nevoeiro que se tinha instalado, por esta altura começa a chover copiosamente, e a temperatura tinha baixado para os 5ºC. Molhado e com frio, a prova iria ser uma verdadeira via sacra, pelo que uns kms adiante pedi umas luvas mais quentes, já que tinha saído do parque com luvas de dedos curtos. Quando tento enfiar as luvas, não consegui, as mãos molhadas e sem sentir os dedos, não me permitiram calçá-las convenientemente. O Nuno bem que ajudou, mas a tarefa não estava mesmo fácil. Numa das mãos só consegui enfiar 4 dedos, e os outros também não estavam bem, de todo o modo, dado que não podia perder mais tempo arranquei. Tinha alguma dificuldade em meter as mudanças, por causa das luvas mal calçadas, mas também devido ao frio. Uns kms à frente consegui obter algum conforto, as mãos, os pés e naturalmente o resto do corpo, aqueceram um pouco.

Nuno Lopes ajuda a calçar as luvas

A bom ritmo

A hidratação, a par com a alimentação estava a funcionar bem, consegui ingerir, mastigar e engolir sem problemas, e no tempo certo, o que era muito bom.

Até às duas últimas subidas, as mais difíceis, a minha lesão não se manifestou, mas quando entro nessas fortes pendentes, o meu joelho que já se vinha ressentindo, começa a fragilizar. Começo igualmente a sentir sintomas de inflamação no outro joelho. A progressão nas subidas foi lenta, mas de forma preventiva.

Penúltima subida

Entro no parque de transição, e consigo sair em 04:45 min, para um pachorrento como eu, é um bom tempo.

2ª transição

Comecei a correr fluído e a bom ritmo, sentia-me bem, entretanto o Miguel Pereira, o outro português em prova, alcança-me, e daí em diante seguimos sempre juntos até ao final da prova em boa cavaqueira. Ele estava com problemas na barriga, o que o fez parar algumas vezes para aliviar o intestino. Continuámos a caminho do monte Gaustatoppen. Não sei precisar, mas talvez por volta do km 10/12 alcançamos o João que estava com cãibras e a caminhar. Fomos passando imensa gente, entretanto, chegámos ao km 25, e a árdua subida de 17 kms estava à porta.

Início da corrida
Com Miguel Pereira a caminho do km 25

Eu sentia-me bem, fiz média de 145 bpm até este ponto da corrida. Estávamos muito dentro do tempo de corte, o que nos permitiu andar. E assim foi até ao final da prova. Atingimos os 32,5 kms muito dentro do tempo de corte, e com 03:41 horas de corrida. Entretanto, até ao km 37,5, juntou-se o Milan que me acompanhou por 5 kms, seguíamos portanto em grupo, eu, o Milan, o Miguel e o seu apoio, o Rui Dolores.

Monte Gaustatoppen

É já ali!

Já no km 37,5 segui com o Nuno Lopes até o final, com quem viria a cortar a meta ao fim de 14:28 horas de prova, e classificando-me em 84, curiosamente, o número do meu dorsal. Os últimos 5 kms são sempre muito delicados, porque aquilo é uma montanha de pedras soltas, mas igualmente porque a temperatura desce imenso, e a visibilidade reduz-se devido ao nevoeiro, não podemos esquecer o facto de estarmos a quase 2000 metros de altitude.

Eu, Miguel Pereira, Nuno Lopes, e Rui Dolores, a caminho do topo

Nuno Lopes e eu, na ascensão ao Gaustatoppen

A caminho do monte Gaustatoppen

Após cortar a meta

Este ano achei a subida mais fácil porque não estava tanto frio, nem tanto vento, ainda assim, no topo, não é nada agradável ficar no exterior. Entramos na casa de abrigo, e comemos uma valente sopa com carne que era de distribuição gratuita. Nesta prova, a fazer jus a uma afirmação da organização, senti frio, odiei as montanhas, por vezes senti-me sozinho, mas tive, uma vez mais, uma experiência invulgarmente emocionante, é isto que fica e recordamos.

Obrigado a todos.


FOTOS DA PROVA
https://goo.gl/photos/K5HmgLo2qQQEfeq8A


VÍDEOS DA PROVA


 Chegada do Norseman 2016 (parte 1)


 Chegada do Norseman 2016 (parte 2)


RELATO DA ORGANIZAÇÃO E RESULTADOS OFICIAIS
http://nxtri.com/wet-wet-cold