No dia 22 de Agosto, Eu e o José
Maçarria, partimos de comboio da estação da Figueira da Foz em direcção a Porto
Campanhã, aqui, fomos obrigado a embrulhar as bicicletas com celofane já que na
ligação seguinte até Valença do Minho, não podiam ser transportadas de outra
forma já que estas deveriam ser consideradas bagagem de mão, coisa ridícula,
mas verdadeira.
Chegados a Valença, hora de
jantar. Entretanto chega o Otelo Gonzaga e mais um grupo constituído por Paulo
Rua, e Paulo Machado.
Cerca das 22:30 começámos a
descer.
Chegados à Póvoa de Varzim, o
Otelo deixou-nos, e em Matosinhos foi a vez do Paulo Rua e do seu colega, eram
cerca de 03:30 horas do dia 23 de Agosto.
Continuei com o Maçarria até
encontrarmos na zona da Cortegaça, o António Fernandes, e seguimos até São
Jacinto, local onde às 07:45 iríamos apanhar o Ferryboat para a Gafanha da
Nazaré. Hora de um pequeno almoço reforçado. Chegados à Gafanha, um grande grupo esperava-nos: Hugo Nascimento, Luís
Sousa, Teresa Cardoso, Estevão Espadilha, Alexandre Gandarinho, Roberto Gandarinho,
e mais um colega que desconheço o nome.
Daqui em diante fomos até Mira
onde acabaram por ficar o Estevão e seus amigos (Alexandre e Roberto), e
seguimos até à Figueira. Pelo caminho ainda ficou o Luís Sousa, e chegados à Figueira,
precisamente às 10:50 horas, que era a hora prevista no roadbook, o Hugo Nascimento
deixou o grupo.
Eram quatro os que dali em diante iriam pedalar até à Nazaré. E assim foi, entramos na Estrada Atlântica, e quase a chegar à Praia da Vieira, o Maçarria disse estar a acusar muito cansaço, o que era claramente visível na sua expressão. Já tínhamos pedalado uma noite, e na noite anterior também não tinha dormido bem, acresce também que não treinava há muito tempo, assim, sabendo que faltava ainda mais do dobro da distância a percorrer, e mais uma noite a pedalar pela frente, penso que foi uma decisão acertada não querer continuar. A bravura de um homem avalia-se pela inteligência, e esta foi efectivamente a melhor decisão naquele momento. Foi no entanto com muita pena minha que via o meu colega a ficar para trás, afinal de contas, ele acompanhou-me na viagem do ano passado (Figueira-Monte Gordo) e este era mais um projecto a dois.
Eram quatro os que dali em diante iriam pedalar até à Nazaré. E assim foi, entramos na Estrada Atlântica, e quase a chegar à Praia da Vieira, o Maçarria disse estar a acusar muito cansaço, o que era claramente visível na sua expressão. Já tínhamos pedalado uma noite, e na noite anterior também não tinha dormido bem, acresce também que não treinava há muito tempo, assim, sabendo que faltava ainda mais do dobro da distância a percorrer, e mais uma noite a pedalar pela frente, penso que foi uma decisão acertada não querer continuar. A bravura de um homem avalia-se pela inteligência, e esta foi efectivamente a melhor decisão naquele momento. Foi no entanto com muita pena minha que via o meu colega a ficar para trás, afinal de contas, ele acompanhou-me na viagem do ano passado (Figueira-Monte Gordo) e este era mais um projecto a dois.
Almoçámos na Praia da Vieira,
connosco estavam os pais da Teresa Cardoso, a quem desde já agradeço a
gentileza de nos pagarem o almoço.
Depois da barriga cheia, hora de
seguir. Estava apenas eu e o António Fernandes. Mantínhamos um ritmo constante,
um andamento razoável para tentar permitir recuperar algum tempo perdido, já
que tínhamos de chegar a tempo de apanhar o último Ferryboat de Setúbal para
Tróia, às 00:25 horas.
Chegados a Sacavém, o amigo
António Fernandes diz-me que fica por Lisboa e que regressa de comboio para
cima, sabia pois que dali em diante iria enfrentar o resto do percurso sozinho,
e pelas minhas contas, dificilmente iria conseguir apanhar o último ferry das
00:25 horas para Tróia. Prosseguimos para Lisboa, chegados ali, jantámos na
Estação do Oriente e separámo-nos, ele de comboio, e eu de bicicleta para o
Cais do Sodré.
Do Outro lado, em Cacilhas,
pedalei até Setúbal, mas como previsto, não consegui chegar antes das 00:25
horas. Iria pagar isso caro, pois teria de contornar todo o Estuário do Sado
até chegar a Alcácer do Sal, cerca de 60 kms, em que iria precisar de mais de 2
horas para os fazer. Tinha Tróia a pouco mais de 3 kms em linha recta, mas tive
de fazer esses penosos 60 kms até Alcácer. E fez-se!
Daqui em diante iria apanhar a
N120 que me levaria até Sagres, eram umas 02:00 horas. O troço que liga Alcácer
a Grândola tem um piso em muito mau estado de conservação, e isto preocupou-me,
visto que os buracos e o alcatrão levantado pelas raízes das árvores,
obrigavam-me a ziguezaguear numa estrada onde os veículos circulam a alta
velocidade. Qualquer descuido meu, ou de um automobilista, e a coisa ficaria
muito feia.
Se na primeira noite não tive
sono, a segunda noite estava a pesar-me imenso. A dada altura, tive de encostar numa paragem de autocarro, e deitar-me 20 minutos no banco para descansar um pouco.
Estava consciente que dali em diante, sobretudo quando nascesse o dia, o meu estado
de fadiga iria acentuar-se, e faltavam ainda cerca de 200 kms.
O dia começa a romper, e o sono
aumenta. O percurso, um rompe pernas constante, não estava a dar tréguas.
Chegar a Santiago do Cacém, cada vez me custava mais, o meu estado oscilava
entre fortes náuseas de sono, e alguma frescura momentânea. Para superar as
dificuldades do sono, frequentemente fazia paragens técnicas, que me ajudavam a
recuperar ligeiramente.
Pequeno-almoço em Santiago do
Cacém, e hora de rumar a Odemira onde me iria encontrar com o Filipe Torres,
que me ia ajudar a fazer os últimos 70 kms.
Até lá, eram cerca de 60 kms num
percurso nada fácil para as condições em que me encontrava, mas havia que
prosseguir, e tentar não me atrasar demasiado. Neste troço, tive oportunidade
de parar junto a uma figueira para comer uns deliciosos figos, que, talvez por
estarem ao sol, me provocaram um desarranjo intestinal, obrigando-me a efectuar
duas paragens de urgência para fazer necessidades.
Mesmo antes de chegar a Odemira,
uma parede com cerca de 3 kms estava à minha espera, chegado lá acima foi só
descer até à vila, onde encontrei o Filipe.
Fiz uma pausa, conversámos um
pouco, bebi uma Pepsi, e uns minutos depois seguimos viagem. Pelo caminho tive
vários momentos de muito sono, por isso, tivemos de parar umas duas vezes. O
meu estado era o mesmo: fisicamente, as pernas estavam bem, mas o sono
debilitava-me, e subtraía-me o estímulo necessário para continuar. Mais uma
paragem, mais um café bem cheio (5 num dia). Entretanto, uma agradável
surpresa: o Romeu Sousa aparece-me como que do nada. Ele sabia que ia fazer a
aventura e portanto tinha esperança de me encontrar. E não é que encontrou?
Chegados à Carrapateira fizemos
mais uma paragem técnica, e depois disso, à medida que me aproximava de Sagres,
sentia-me mais entusiasmado e com força para continuar. Entretanto, quase a
chegar à Vila do Bispo, ao nosso encontro vinha o Álvaro Calado na sua casa com
rodas, e trocadas algumas saudações, continuamos. Chegámos à Vila do Bispo,
onde o Filipe ficou e eu continuei até Sagres. Os últimos 8 kms de entrada em
Sagres fiz questão de os fazer a fundo, o meu objectivo acabava ali, portanto
foi uma forma de me vingar do esforço, do sono, das dificuldades que ao longo de
quase 800 kms fui encontrando.
Finalmente estava em sagres.
Ainda houve tempo, juntamente com o Álvaro, para conhecer a
Fortaleza e apreciar a beleza daquela região.
Não é uma tarefa fácil fazer
quase 800 kms seguidos, a falta de sono é sem sombra de dúvida o maior
obstáculo a enfrentar. Alguns dirão que é uma irresponsabilidade, outros que se
trata de uma maluqueira, eu acho que é uma maneira de estar comigo próprio.
Tinha de fazer esta viagem (por vezes é bom não sonhar). No cômputo geral,
posso afiançar-vos que uma viagem desta natureza é, a todos os níveis,
altamente enriquecedora: social, cultural, fisicamente permite-nos conhecer
melhor o nosso corpo, e obriga-nos a encarar as dificuldades de um modo
diferente, mas sobretudo, encontrar soluções criativas.
Valeu muito a pena.
AGRADECIMENTOS
Agradeço o apoio de Paulo Rua,
Otelo Gonzaga, Paulo Machado, António Fernandes, Estevão Espadilha,
Alexandre Gandarinho, Roberto Gandarinho, Hugo Nascimento, José Maçarria,
Teresa Cardoso, Luís Sousa, Filipe Torres, por me terem acompanhado
em parte do percurso, e ao Álvaro Calado por se ter encontrado comigo
em sagres e trazido de regresso até Lisboa. Também um especial agradecimento ao Miguel
Silva e seu filho, que pela minha demora acabaram por ter de se retirar.
Um grande obrigado aos pais da Teresa Cardoso pela oferta do almoço na Praia da
Vieira. Já de regresso e em Lisboa, um agradecimento especial à Anabela Oliveira por
me permitir pernoitar em sua casa. Um agradecimento final à minha namorada, à
namorada do Paulo Rua e do Paulo Machado pela paciência na espera e apoio
prestado em Matosinhos.
ALGUNS NÚMEROS
Partida de Valença do Minho:
22:30 horas
Chegada a Sagres: 16:00 horas
Duração do trabalho efectivo: 31
horas
Duração da viagem: cerca de 40
horas
Velocidade média: 24,60 km/hÁlbum de fotos |
3 comentários:
Parabéns por mais esta aventura Vasco!
Um abraço e continuação de boas pedaladas (e braçadas e corridas)!
Obrigado Hugo,
Saudações desportivas
Grande vasco sempre a superar desafios.
Foi um lês a lês daqueles mas pelo que conheço de ti bem ai mais... Espero em breve poder estar acompanhar te numa dessa aventuras que também sou apreciador...
Um abraço amigo.
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