RESULTADOS (todos os resultados podem ser consultados AQUI)
Tempo final: 13:30:47 horas (chegada às 19:30 horas)
Classificação geral: 284º (total de 894)
Classificação no escalão (S4): 72º (total de 205)
Natação: 01:10:45 horas (posição geral: 464º; posição no escalão: 111)
FC média: 150 bpm
FC máxima: 155 bpm
1ª transição: 07:20 minutos (posição: 553º)
Ciclismo: 08:07:27 (posição geral: 437º, +24; posição no escalão: 110)
FC média: 141 bpm
FC máxima: 165 bpm
2ª transição: 07:49 minutos (posição: 515º)
Corrida: 03:57:28 horas (posição geral: 140º, +156; posição no escalão: 40º)
FC média: 139 bpm
FC máxima: 155 bpm
Registo FC natação
Tempo final: 13:30:47 horas (chegada às 19:30 horas)
Classificação geral: 284º (total de 894)
Classificação no escalão (S4): 72º (total de 205)
Natação: 01:10:45 horas (posição geral: 464º; posição no escalão: 111)
FC média: 150 bpm
FC máxima: 155 bpm
1ª transição: 07:20 minutos (posição: 553º)
Ciclismo: 08:07:27 (posição geral: 437º, +24; posição no escalão: 110)
FC média: 141 bpm
FC máxima: 165 bpm
2ª transição: 07:49 minutos (posição: 515º)
Corrida: 03:57:28 horas (posição geral: 140º, +156; posição no escalão: 40º)
FC média: 139 bpm
FC máxima: 155 bpm
Registo FC natação
Imagens da prova (clique na imagem para as ver todo o álbum)
Vídeo da prova
ALGUMAS CURIOSIDADES DA PROVA:
Total de atletas: 894 (860 homens; 37 mulheres)
1ª classificado: Marcel Zamora (ESP) – 09:38 horas (chegada às 15:38 horas)
1ª transição: 01:12 minutos
2ª transição: 01:43 minutos
1ª mulher: Teresa Macel (CZE) – 11:20 horas
Último classificado: Steve Dremont (FRA) – 17:51 horas (chegada às 23:51 horas, refira-se que das 5 edições em que participou, este ano foi o único em que acabou)
Desistências: 140 entre os quais se encontram Xavier Le Floch (vencedor 2008) e Hervé Faure (vencedor 2006 e 2007)
Melhor natação: Julien Coudert (FRA) – 47:39 minutos (9º classificado)
Melhor ciclismo: James Cunnama (AFS) – 05:52 horas (2º classificado)
Melhor corrida: David Canac (FRA) – 02:22 horas (263º classificado)
Distância do ciclismo: 188 kms
Acumulado ciclismo: 3600 metros, a organização aponta 5000 metros.
Acumulado corrida: 425 metros
Temperatura da água: cerca de 21º C
Temperatura exterior no plano de água: 9º C (manhã)
Temperatura exterior no Col de l’Izoard (2400 mts): 3º C
Total de atletas: 894 (860 homens; 37 mulheres)
1ª classificado: Marcel Zamora (ESP) – 09:38 horas (chegada às 15:38 horas)
1ª transição: 01:12 minutos
2ª transição: 01:43 minutos
1ª mulher: Teresa Macel (CZE) – 11:20 horas
Último classificado: Steve Dremont (FRA) – 17:51 horas (chegada às 23:51 horas, refira-se que das 5 edições em que participou, este ano foi o único em que acabou)
Desistências: 140 entre os quais se encontram Xavier Le Floch (vencedor 2008) e Hervé Faure (vencedor 2006 e 2007)
Melhor natação: Julien Coudert (FRA) – 47:39 minutos (9º classificado)
Melhor ciclismo: James Cunnama (AFS) – 05:52 horas (2º classificado)
Melhor corrida: David Canac (FRA) – 02:22 horas (263º classificado)
Distância do ciclismo: 188 kms
Acumulado ciclismo: 3600 metros, a organização aponta 5000 metros.
Acumulado corrida: 425 metros
Temperatura da água: cerca de 21º C
Temperatura exterior no plano de água: 9º C (manhã)
Temperatura exterior no Col de l’Izoard (2400 mts): 3º C
RELATO DA PROVA
«Nós não sabemos ainda, do que pode o corpo»
Spinoza
O relato abaixo é uma descrição da aventura a que me propus: realizar o Embrunman, e aborda o dia da prova e os dias que a antecederam, é por isso uma referência exaustiva daquilo que aconteceu nesses períodos. A extensão do texto revela que se trata mais de um texto para mim do que para o leitor. Um dia que a memória me falhe será bom recordar os pequenos pormenores aqui expressos. Alguns elementos nele contido não têm relevância para a prova em si, não obstante, acho pertinente apresentá-los pois revelam-se como factores que podem condicionar o aspecto psicológico do atleta, e quem sabe do que falo sabe o quanto isso é importante quando em causa está o assunto competição.
Quer queiramos apenas terminar uma prova, melhorar os nossos tempos, ou ainda lutar por um lugar na classificação geral, temos de estar a todos os níveis bem preparado e a preparação acaba no momento da buzinadela que determina a partida, até aí estamos constantemente a ser sujeito a condições e factores que podem adulterar a nossa prestação desportiva.
Para facilitar a leitura distingui os vários momentos com texto de cores diferentes, o que permitirá ao leitor saltar e escolher o momento que mais lhe agradar, dispensando pois alguma leitura considerada desnecessária e exaustiva. Assim, distinguem-se três momentos, a VERDE, apresentarei tudo o que antecede a prova propriamente dita (treinos, viagem, etc.); a BRANCO, tudo o que diz respeito ao dia da prova; e a LARANJA, encontrará os agradecimentos e as conclusões.
Algumas palavras do texto estão linkadas para imagens e definições que ajudam a complementar a descrição textual.
1. CONTEXTUALIZAÇÃOQuando ainda tinha pouco mais de um ano de triatlo, já pretendia fazer um Ironman, e essa era também a vontade de Eduardo Alçada, atleta do Ginásio Clube Figueirense. Acontece que um dia reuni-me com o Eduardo em sua casa para discutir qual das provas iríamos fazer. Os nossos critérios eram unicamente dois, a saber, o preço de inscrição e a localização geográfica da prova. Na longa pesquisa pelo ciberespaço esbarramos no Embrunman, mas após a análise da altimetria do segmento de ciclismo e do número de desistências fomos conclusivos em achar que seria asneira optar por aquela prova, daí que ficou no ar a possibilidade de nos inscrevermos no Ironcat.
Em 2007 concluo o meu primeiro Ironman, o Ironcat, e fiquei com a vontade de em 2008 realizar outra prova do género, desta vez o Embrunman, acontece que por razões financeira não me foi possível cumprir tal desiderato. Em Maio de 2009 realizo o meu segundo Ironman e coloco-me como objectivo, realizar em Agosto a 26ª edição do Embrunman. Acontece porém, que cerca de um mês depois desisto da ideia, trocando essa vontade por férias em Marrocos. O Embrunman foi portanto adiado duas vezes, pelo que à terceira tinha de ser, daí que empreendi desde Janeiro deste ano esforços no sentido de poder concretizar proficuamente essa prova.
2. ANTES DA PROVA2.1. OS TREINOSTer estado a trabalhar em Guimarães permitiu-me fazer treinos que não seriam possíveis caso estivesse a trabalhar na Figueira da Foz. O perfil geográfico do norte de Portugal oferece-nos condições suficientes para preparar uma prova tão dura como o Embrunman. Sabia que a preparação seria longa e penosa, daí que tenha envergado uma postura relaxada para os mesmos. Durante todos os treinos de ciclismo nunca me preocupei com tempos, nem tampouco os complementei com potência aeróbica, nem limiar anaeróbico. A grande maioria dos treinos foram feitos a frequências cardíacas muito baixas e em modo solitário, no entanto, tive durante alguns treinos a companhia do Abel Condesso, Otelo Gonzaga, Leandro Pinto e Pedro Brandão. É nesses momentos que nos apercebemos que partilhar o esforço com outra pessoa, possibilita-nos uma maior frescura nos treinos.
2.2. OS PROBLEMAS FÍSICOS E MECÂNICOSDurante toda a preparação fui confrontado com vários problemas físicos que abalaram o meu estado de espírito, um dos quais quase inviabilizou a concretização do meu objectivo. O primeiro problema que me atormentou foi a Condromalácia, problema que se revela por uma dor na traseira da rótula e que causa dor quando se faz força no pedal, mormente a subir. Depois de iniciar um reforço muscular específico para esse tipo de problema e após a mudança do trabalho de força, o problema felizmente desapareceu.
Outro problema que me aflige sempre que faço muitos quilómetros de bicicleta é a Síndrome da Banda Iliotibial, ou seja, após cerca de 70 a 80 quilómetros inicia-se um processo de inflamação num tendão do lado externo do joelho, provocado pela sua fricção na membrana que o envolve. O resultado é uma intensa e aguda dor semelhante ao espetar de uma agulha. Este problema não é uma lesão, mas sim um processo inflamatório originado pela repetição do movimento. Este pode ser atenuado por uma melhor afinação da bicicleta, por trabalho muscular específico e pela prevenção efectuada por estiramentos com características próprias. No meu caso, logo que começo a integrar um plano de força muscular o problema diminui, por vezes só aparecendo ao fim de um maior número de quilómetros, no entanto, sempre que entro em provas longas, como o esforço é maior, o problema surge sempre o que veio uma vez mais a acontecer no Embrunman como veremos adiante.
A dois meses da prova surge outro entrave, este sim de cariz bem mais relevante. Estava a iniciar um treino de 70 kms de bicicleta com a companhia do Leandro Pinto, quando cerca de 15 minutos após o seu início vejo o meu pulso disparar para os 227 bpm. Imediatamente disse ao Leandro que estava com uma arritmia claramente assumida e que deveria ir urgentemente ao hospital para ser observado. Esperei um pouco e passados 5 minutos decidi dirigir-me ao hospital de Guimarães. Quando comecei a pedalar para ali me dirigir vejo a arritmia desaparecer. Acabei por continuar o treino mas em formato abreviado (50 kms). O problema que me assolou era por mim sobejamente conhecido, muito embora só tenha sentido esse tipo de arritmias duas vezes na vida.
Em 2004, quando ainda andava no remo, no exame de aptidão física foi detectado através de um electrocardiograma um WPW (Wolf Parkinson White), problema congénito que causa arritmias devido à dupla condução eléctrica (normal e aberrante) e pode levar a morte súbita por fibrilação. Na ocasião o médico cardiologista referiu que não havia qualquer problema porque no meu caso a arritmia não “pegava”, quer isto dizer que vinha mas logo desaparecia, contudo, o protocolo internacional médico-desportivo implicava que quem fosse portador de tal problema deveria fazer a ablação, que consiste num cateterismo e queima por radiofrequência da via acessória que causa a arritmia. Na altura a minha decisão foi não fazer tal intervenção, já que não tinha sinais de arritmia. Acontece porém que após o incidente nesse treino as coisas mudaram e acrescentou-se um dado novo: uma arritmia de 5 minutos a quase 230 bpm. Uma semana depois fui ao cardiologista que me aconselhou a fazer a ablação antes da prova, mas isso requeria no mínimo três semanas de recuperação, que correspondiam à cicatrização da veia ou artéria que iria ser cortada na virilha para fazer veicular um cateter até ao coração. Após ponderada análise, uma vez mais decidi não fazer a intervenção, adiando-a para depois do Embrunman e prosseguindo com os treinos. Sabia que estava a ser egoísta colocando a minha vida em risco, mas também sabia que se fizesse a intervenção a dois meses da prova, com uma paragem obrigatória de três semanas seria dizer o adeus a todos os treinos até ali efectuados e ao Embrunman por mais uma vez. Os treinos que se seguiram foram muito cauteloso, tendo-me mantido muito vigilante a todas as sensações corporais, felizmente não tive sinais que me obrigassem a recuar na minha decisão e a dada altura esse problema já fazia parte do passado.
Outro problema que me afligiu os últimos treinos de corrida foi o Neuroma de Morton, que se caracterizou por uma dor na zona inferior do pé e por pequenos choques eléctricos num dos dedos do pé. Tal problema tem origem em várias causas, mas no meu caso o problema é devido ao pé cavo que obriga o pé a suportar o corpo apenas numa zona do pé não distribuindo o peso uniformemente. Mas esta situação só surgiu após a compra das Gazelle da Adidas. Trata-se de um bom modelo de sapatilhas, mas como possui uma altura no calcâneo mais reduzida obriga a um maior esforço da zona dianteira do pé, provocando maior fricção e dor. Depois de testar várias palmilhas, e uma semana antes da prova constatei que as palmilhas Ironman eram as mais indicadas para o meu problema, dado que com elas conseguia correr sem dor, na verdade tal não veio a verificar-se na prova.
Não foram só físicos os problemas com que me deparei na preparação do Embrunman, vários foram os problemas técnicos que criaram desalento. Quando decidi mudar a cassete de 11-23 para 12-27, tive problemas de afinação das mudanças e num dos momentos em que levei a bicicleta para afinar, um mecânico da Bike Zone de Guimarães destruiu-me irremediavelmente o desviador das mudanças (ver post AQUI), obrigando-me pois a adquirir um novo para sua substituição.
2.3. A VIAGEMEmbrun dista cerca de 1700 kms da Figueira da Foz pelo que seria crucial fazer uma revisão ao meu carro para que não tivesse nenhum desaire durante a viagem. Muita coisa havia a reparar já que fui acumulando coisas que acabaram por se juntar nesta revisão. Acontece que na manhã do dia seguinte à entrega do carro que correspondia ao dia em que deveria partir (11 de Agosto), deparei-me com uma avaria que me atrasou a viagem em 15 horas. Após o esforço do mecânico para me entregar o carro a tempo de seguir viagem, consegui arrancar cerca das 15 horas do dia 12 de Agosto (5ª feira). Tal atraso não só contribuiu para me retardar a chegada como também tive de pagar um dia de alojamento que não usufruí.
A viagem foi feita sem dificuldade, sem percalços, mas com muita ansiedade por atingir o destino. À medida que me aproximava de Embrun ficava mais fascinado com os Alpes, pois nunca tinha visto tamanha grandeza de montanhas – era um cenário fascinante.
2.4. A ANTEVÉSPERA DA PROVADepois de me ter instalado numa casa de montanha apelidada La Grande Ferme onde prima a rusticidade e com uma vista impressionante sobre a vila de Embrun, dirigi-me ao secretariado para levantar o material da prova. Foi o primeiro contacto que tive com a organização. No pack que nos foi atribuído estava uma t-shirt branca, o que me levou logo a pensar que não era aquela que queria, mas sim a tão desejada finisher.
Logo de seguida, uma passagem pela feira da prova que se situava junto ao plano de água. Muita coisa boa, que tinha tanto de qualidade como de preço elevado. É claro que a maioria do material estava em promoção, todavia, continuavam a ser demasiadamente caros, pelo menos para a minha bolsa, de resto, tudo naquela região de França é um pouco caro.
Mais umas voltas pela vila, jantar e retorno ao alojamento.
2.5. A VÉSPERA DA PROVANa manhã do sábado dia 14, fui fazer um ligeiro treino de bicicleta que era simultaneamente o reconhecimento de um pequeno troço do percurso da prova. À frente seguia a minha namorada com o meu carro para depois do treino arrumar a bicicleta no porta-bagagens e seguir o percurso por mais uns quilómetros. O objectivo era ir até ao Col de l’Izoard e subir aos 2400 metros. Esse era segundo alguns a parte mais difícil do percurso. Depois de uns quilómetros a pedalar, senti um cansaço que me assolava, daí que estipulei fazer mais uns 5 kms e depois enfiar-me no carro, acontece porém que 1000 metros adiante na vila de Guillestre dei comigo frente a uma parede e se estava previsto fazer mais uns quilómetros, logo optei por terminar o treino ali. No dia seguinte tinha tempo de a subir (lol).
Arrancamos pois no carro e fomo-nos deslumbrando com a paisagem. Passamos pela Garganta do Guil e pelas vilas de Maison du Roi e Arvieux, depois seguiu-se a subida do Col de l’Izoard onde tive o primeiro contacto com as subidas e os apertados cotovelos. Mais uns quilómetros acima surge a Casse Deserte, de facto uma zona totalmente descaracterizada no contexto daquela montanha. Dizem que se assemelha à superfície lunar e agora percebo bem o significado dessa afirmação, pois somos confrontados com uma quase total ausência de vegetação onde predominam unicamente as rochas. É uma paisagem que tem tanto de desolador como de belo, usando as palavras de Neil Armstrong quando pisou a Lua, diria que «É de uma beleza agreste». Ainda neste sítio houve tempo para uma pequena paragem no monumento dedicado aos dois grandes ciclistas, Louison Bobet (francês) e Fausto Coppi (italiano). Cerca de 2,5 kms mais acima atinge-se finalmente o cume da montanha, o afamado Col de l’Izoard, que se situa a 2360 metros. Aproveitei para calibrar a altimetria do meu Polar e tirar umas fotos. Durante a descida começaram a cair alguns pingos de chuva que ameaçavam as previsões de bom tempo para o dia da prova.
Depois, regresso a Embrun tempo para almoçar e após isso, por volta das 14:30, encontrei-me com o João Santos o outro português que iria participar na prova. Não nos conhecíamos, e foi necessário estar em França para que isso acontecesse. Entretanto fui depositar a bicicleta no parque de transição e fazer algum tempo até à hora do briefing que atrasou uma hora por causa da forte chuva que caía. Às 18 horas, mesmo com uma chuva inoportuna deu-se início ao briefing que teve lugar no plano de água sem qualquer protecção para a chuva que desabava. O barulho desta, um problema na projecção do powerpoint e a fraca projecção de voz dos oradores hermetizaram o conteúdo do briefing. Se as minhas dúvidas se prendiam com o terceiro segmento da prova, acabei por não as esclarecer, o que me deixou um pouco preocupado, porém nada estava perdido porque haveria de conversar com outras pessoas que talvez me pudessem elucidar, o que veio a acontecer na hora do jantar quando ao meu lado estava o francês Patrick Bringer que já tinha feito a prova por 10 vezes consecutivas, tendo em 2007 ficado em 2º lugar, Embrun é mesmo uma cidade pequena. As suas informações foram extremamente preciosas, sobretudo quando me alertou para o frio que iria fazer no dia seguinte, sobretudo aos 2400 metros e para me preocupar com a descida para Briançon. De facto, na véspera para além da chuva já se fazia sentir muito frio de tal modo que tive de comprar um casaco térmico de ciclismo, já que não estava preparado com roupa adequada para tal situação. De resto, julgo que poucos eram os que esperavam tal clima, pois as previsões apontavam para um dia limpo.
Às 21:30 horas, como combinado, fui ter com o João Santos que estava instalado na Estância de Ski de Les Orres e que dista 16 kms da cidade de Embrun. Aproveitamos um pouco para conversar, falamos de triatlo, da prova e das nossas ambições na mesma. Cerca das 22:30 regressei ao hotel para ultimar preparativos e tentar dormir alguma coisa até às 03:30 horas.
Chegando a casa, comecei a organizar o material que deveria levar para a prova, mas aquilo que parecia ser uma tarefa fácil acabou por se complicar pois estava um pouco stressado e preocupado com o esquecimento de qualquer artigo. Por várias vezes visualizava mentalmente a sequência da prova e mesmo assim acabei por me esquecer dos manguitos.
3. DIA DA PROVA
Cerca das 00:30 deitei-me, mas até ao momento de me levantar (03:30 horas) nunca consegui pregar olho pois estava constantemente a pensar no que faltava, chegando inclusivamente por duas vezes a levantar-me por causa de material que estava esquecido. Está visto que as 03:30 horas chegaram depressa, sem ter pregado olho, contudo tenho ideia de ter dormitado e senti que quando me levantei estava quase a conseguir adormecer.
Tomei o pequeno-almoço reforçado, vesti a parte inferior do fato, peguei no material e cerca das 04:10 horas saí de casa. O céu estava estrelado, tudo parecia que não ia chover tal como previsto pelos serviços meteorológicos, ainda assim, estava frio. O meu carro começou a dar sinais de fraqueza na embraiagem, quase não conseguindo chegar ao destino, porém consegui fazer os 7 kms que me separava do plano de água. Caminhava em direcção ao parque de transição e vejo o Xavier Le Floch, vencedor da edição de 2008, a sair do seu carro, parecia-me calmo, mas pergunto-me como se sentirá naqueles instantes alguém que é candidato a um título. Xavier Le Floch acabara por desistir no segmento de ciclismo.
Entrei no parque de transição, deixei o meu saco para ser levado para 2400 metros de altitude (lol) de modo a poder recolhê-lo na passagem pelo Col de l’Izoard e fui marcar o número na perna já que no dia anterior teve de ser adiado devido à chuva. O parque começava a encher de atletas mas também de ansiedade, o olhar da malta era revelador disso, as luzes de halogéneo mantinham o espaço quente. Àquela hora o público já era muito. Cheguei ao meu lugar e o João já lá estava (foi simpático que a organização colocasse os dois portugas juntos) com um ar bastante calmo, de resto outra coisa não seria de esperar de alguém que já muito palmilhou no mundo do triatlo. Organizamos as coisas, conversamos um pouco, fechamos o fato e dirigimo-nos para a zona da partida. Aí houve tempo para umas fotos e esperamos pela partida, eram cerca de 05:45 horas. O João e eu passamo-nos pelo chuveiro e logo de seguida assistimos à partida das mulheres que saíram às 05:50 horas. Faltavam 10 minutos para o início da longa jornada, o público fervia, o comentador aumentava a adrenalina dos atletas e no meio da escuridão víamo-nos rodeados de flashes da comunicação social e do público em geral, só esta parte, única no mundo, vale a prova. Olhei à minha volta e a expressão de alguns atletas era no mínimo de medo. O João e eu ocupamos um lugar no fundo do grupo para não sermos muito sacudidos. A partida estava eminente.
3.1. NATAÇÃODe repente uma grande buzinadela, era o momento esperado, desejamo-nos boa sorte e começamos aos poucos a andar pelo areal. Em poucos segundos já estava na água. Só nesse momento tinha sentido a sua temperatura e fiquei agradado pois estava-se melhor dentro do que fora dela, posteriormente alguém comentou que estava a 21º C.
No momento em que me lanço à água senti algo inexplicável mas preocupante: por cerca de 30 segundos não conseguia respirar, não sei bem mas acho que devo ter entrado num curto momento de pânico. Eu estava calmo, bastante até, mas senti aflição por não conseguir respirar, isto aconteceu no momento onde ainda tinha pé, portanto foi logo no momento inicial da natação. Alguns segundos depois, essa sensação desapareceu sem deixar rasto como se nada tivesse acontecido e pude começar a nadar calmamente.
Apenas sentia as pessoas a tocarem-me, alguns a quererem passar-me por cima indiscriminadamente, pois não se via nada, optei portanto por me colocar na lateral esquerda do grupo, aí tive uma maior abertura e o nado era mais facilitado. As bóias eram contornadas pelo lado direito e sempre que nos aproximávamos de uma havia uma corda com cerca de uns 50 metros com pequenas bóias que nos direccionavam para a bóia a contornar, acontece que a dada altura vejo malta a fugir para fora da linha dado que do seu lado esquerdo não havia ninguém e ali seguramente nadar-se-ia muito bem, optei pois por seguir a intenção de uns 3 atletas que seguiam à minha frente, e quando já estava do lado esquerdo da corda, que é como quem diz, fora da pista (lol), uma juíza MUITO má e em tom agressivo perguntou-me se eu não via por onde andava, nem repliquei pois não tinha razão alguma e fiquei feliz por não ser penalizado, só fiquei um pouco chateado por ter sido o escolhido para a repreensão.
De volta ao rumo certo e por volta das 06: 15 horas começa a abrir o dia e finalmente começo a entrever as minhas mãos a passar na água. Dei uma volta ao percurso e na segunda volta naturalmente a dispersão dos atletas na água era cada vez maior, ainda assim, continuava a levar pancada. A dada altura o tipo que seguia à minha frente começou a nadar literalmente na perpendicular ao rumo certo, e fez-me lembrar aqueles golfinhos ou baleias que sendo perturbadas por sinais exteriores perdem o sentido de orientação. Agarrei-lhe no pé, dei-lhe uma sacudidela e ele parou de nadar olhou para mim um pouco chateado e indiquei-lhe o rumo certo, de imediato ofereceu-me um franco “merci”. Ai francês se não fosse o portuga ainda lá andavas às voltas (risos). O triatlo também é isto: ajuda recíproca.
Uns metros mais à frente, outra situação idêntica, mas com outra pessoa. Desta vez não parei, pois tinha a minha prova para fazer, foi esquisito ver-me a nadar em frente e o tipo ir para o lado esquerdo, enfim coisas que acontecem.
Ao fim de 1 hora e 10 minutos saí da água, imediatamente comecei a tirar o fato que teimava em não querer sair, dirigi-me para o meu lugar e quando lá cheguei já lá estava o João que estava a preparar-se para sair. A primeira coisa que me disse foi: “fartei-me de levar porrada!”, ao que respondi: “também eu!”. Estava relaxado na transição, limpei-me todo para não arrefecer mais na bicicleta já que estavam 9º C, e pedalar molhado com essa temperatura não seria nada confortável, entretanto o João saiu do parque. Continuei calmamente a preparar-me e 7 minutos e 20 segundos depois já estava a sair do parque.
3.2. CICLISMOO segmento de ciclismo começa logo com 8 kms a subir, a subir bem até Prunière, mas felizmente que assim foi, pois estava muito frio e nas subidas sempre se aquecia alguma coisa. Durante essa subida metia dó ver alguma malta (pouca) só com o fato de triatlo (brrrrrrr!!!!). Entretanto inicia-se a primeira descida acentuada, aí começou o martírio, pois o frio aumentava cada vez mais e a reacção não era a mesma, lembrei-me nessa altura, quanta falta me fazia os manguitos esquecidos e as luvas de dedos inteiros. De repente passa por mim um tipo com luvas grossas de inverno, e pensei: “caramba, que sorte a dele!”.
Volvidos alguns quilómetros, eis que me salta a corrente, ainda tentei metê-la em andamento, mas não me foi possível, logo, parei, corrigi o problema e voltei a pedalar. Chegado à localidade de Guillestre lembrei-me de lá ter estado no dia anterior a fazer um ligeiro treino e de ter parado numa subida para não me cansar demasiado, pois bem, aquele era o momento de a fazer. A partir dali começava a dureza da prova e só haveria um pequeno descanso quando chegasse ao topo dos 2400 metros, cerca de 35 kms depois. A partir dali também começava a surgir a mais bela paisagem do percurso. O que tinha feito no dia anterior de carro, não tinha comparação possível com aquele momento de puro prazer de cultura desportiva quando passava entre as pequenas localidades da Garganta do Guil. Antes de começar a grande subida, tempo para comer uma sandes que levava, aliás o meu abastecimento era composto de 2 sandes (baguete) de queijo e mortadela, algumas barras energéticas e banana seca.
Depois de atravessar Maison du Roi e Arvieux, eis que começa a maior inclinação do Col de l’Izoard. Obviamente que já lá tinha estado de carro no dia anterior, mas sentir aquilo de bicicleta é outra coisa, só desse modo temos acesso à verdadeira noção do que é subir uma montanha tão mítica. Para quem acompanhou os meus treinos sabe que subi várias vezes a Sr.ª da Graça em Mondim de Bastos, inclusivamente numa das vezes subi-a 3 vezes (ver vídeo AQUI), não obstante, nenhum dos treinos que fiz tem comparação com o que ali estava a encontrar, devido à extensão da subida e à sua inclinação que em alguns casos era de 14%. Do Col d’Izoard, tantos vídeos e fotos eu vi, mas nada se assemelhava àquela dimensão, que tem tanto de dificuldade, como de beleza. Apesar de me sentir bem a subir, percebi bem o inconveniente de ter 78 kg. A dada altura começaram-me a surgir sintomas da minha Síndrome da Banda Iliotibial, ou seja, senti uma ligeira inflamação no lado externo do joelho direito e que se revelou alguns quilómetros mais tarde com uma dolorosa picadela nessa região. A opção foi reduzir a pressão nessa perna porque sabia que se insistisse a dor iria progressivamente aumentando até que se tornaria insuportável e de facto não era isso que desejava.
O pessoal seguia uns atrás dos outros ou em grupo, não era possível naquela situação penalizar alguém por drafting, porque subir a 9 ou 10 km/h em grupo não pode ser considerado drafting, além de que seria complicado gerir as distâncias regulamentares em tão complicado percurso com muitos cotovelos.
O público era surpreendente, sempre a aplaudir e a oferecer entusiasmo. A cerca de 1000 metros para atingir o cume estava escrito no chão que falta só mais 2 cotovelos para o topo: que fantástica notícia. E ainda por cima correspondia à verdade. A poucas dezenas de metros já se ouvia o barulho de música no alto da montanha e alguma algazarra das pessoas a falar. Chegado lá acima, foi tempo de sair da bicicleta, pedir o meu saco que tinha entregue da parte da manhã e que continha 2 bidons, um deles quase despejei completamente no momento, e o outro troquei-o pelo vazio da bicicleta. Entretanto, comi um pouco de tudo, frutos secos (ameixa, alperce e amêndoa), “riz au lait” (uma espécie de arroz doce, que nada se parece com arroz doce), bolo de especiarias (muito rico em hidratos de carbono) e bebi um pouco de Coca Cola. À medida que o corpo arrefecia começava a sentir o frio que lá se fazia, e que era de 3º C. Olhando à volta, os cumes tinham apontamentos de neve, que no dia anterior não existiam. Estava realmente muito frio e preparava-me para descer cerca de 17 kms. Vesti o impermeável para servir de corta-vento e comecei a descer pelo outro lado da montanha em direcção a Briançon. Em todo este processo e após análise do registo polar estive parado 9 minutos, o que é muito, todavia isso não era importante para mim.
A descida foi feita com muito frio, sobretudo na ponta dos dedos, mas valeu o facto da temperatura aumentar à medida que descia. Desci sozinho, tendo atingido os 70 kms/h e num dos cotovelos ia dando um trambolhão devido a um cotovelo muito acentuado. Quando cheguei ao sopé, estava uma temperatura bastante agradável, pelo que continuei calmamente no meu ritmo após uma breve paragem para tirar o impermeável.
Depois da descida surge o primeiro momento rolante, com alguns quilómetros de plano, mas agora se o frio já não constituía um problema, surgia outro de que pouco gosto: o vento. Este começava a querer mudar a meteorologia daquele dia, porque se até aqui estava um dia aberto começou a partir deste momento a notar-se algumas nuvens.
Uns quilómetros mais à frente ao passar numa das aldeias estava um grupo de pessoas a confraternizar que simultaneamente apoiava os atletas e ofereciam copos de vinho (risos).
Mais ou menos ao quilómetro 150 surge mais uma dureza, a subida de “Pallon”, uma subida com mais de 14% e uma extensão de 2 kms. Esta é referida por quase todos nos seus relatos e inclusivamente nas reportagens da Eurosport. Apesar de curta é de facto a subida de maior inclinação, no entanto, aqui senti que tinha feito o trabalho de casa, pois sentia-me bem a trepar e de modo confortável, consegui sem grande esforço ultrapassar algumas pessoas que se arrastavam. O meu problema no joelho, embora estável, ameaçava aumentar, por isso subi, tendo sempre em atenção os sinais do meu corpo. Para “entusiasmo” dos atletas, alguém do público tinha escrito no chão de forma irónica que a subida era de 29%, isso deu evidentemente lugar a risos entre a malta que bufava a subir.
Depois de chegar ao cimo, seguiu-se uma pequena descida e nesse momento começa torrencialmente a chover, muitos dos que me acompanhavam seguiram em frente, mas eu optei por não me molhar daí que vesti o meu impermeável. Continuei e passados uns minutos a chuva abrandou tendo 10 minutos depois parado completamente. Continuei com o impermeável vestido, mas uns quilómetros adiante surge uma ligeira subida e comecei a transpirar devido ao excesso de roupa, portanto permiti-me uma nova paragem para retirar pela segunda vez o impermeável. De cada vez que retomava a marcha ia num grupo diferente, pois estas pequenas paragens em nada abonavam o meu ritmo, fazendo-me inevitavelmente perder muitos lugares.
Mais uns quilómetros adiante e eis que surge a derradeira e badalada subida do “Chalvet”. Não sei porquê, mas Chalvet soa-me a “Calvário” (lol). É uma subida um pouco menos acentuada do que Pallon, mas mais extensa, com 4 kms a subir bem e mais 1000 metros com declive menos acentuado. Nesta subida foi o único momento do ciclismo em que me esforcei mais, o meu joelho já me estava seriamente a doer, mas não me preocupei pois sabia que quando chegasse ao topo, o passo seguinte seria uma descida de aproximadamente 3 kms até ao parque de transição, por isso pedalei forte e recuperei muitos lugares, o pessoal olhava para mim e suponho que se devam ter perguntado onde tinha ido buscar energia para subir daquela maneira aos 180 kms (risos).
A última descida merece dois reparos. O primeiro é o péssimo estado da estrada. Não consigo compreender como é possível terem numa prova daquela dimensão, uma estrada tão esburacada e repleta de remendos, ainda por cima tratando-se da 27ª edição (em que eu estaria presente, lol). Percebi então naquele momento as palavras proferidas por um atleta quando subíamos, tendo dito algo como: “ils vont nous casser les couilles dans la déscente” [eles (a organização) vão nos partir os colhões na descida]. Naquele momento não parecia estar em França, só me recordando daquilo que vejo na minha região de residência. O outro ponto a realçar é o facto de só neste momento final ver algum espírito competitivo, pois reparei que havia malta que tinha ultrapassado na subida que fazia tudo para me passar na descida, mas todos de um modo geral se esforçavam por manter uma posição. Eu entrei um pouco no jogo e aumentei o ritmo, mas estava receoso devido ao mau estado do piso, ainda assim consegui que ninguém me ultrapassasse de modo que cheguei ao parque na frente do grupo e com 8 horas e 7 minutos. No final fiquei satisfeito por tudo ter corrido bem neste segmento. O que se seguia não ia seguramente ser fácil.
Chegado ao parque de transição, o João já lá estava, mas logo achei estranho o facto de estar com um fato de treino vestido, perguntei-lhe de forma irónica se já tinha acabado a prova, ao que me respondeu que tinha desistido pois tinha caído na descida para Briançon, disse-me ainda que nunca tinha tido tanto frio e que deixara de ter funcionalidade nas mãos devido ao arrefecimento acentuado destas. Sabia perfeitamente o que ele estava dizendo embora eu estivesse mais protegido porque ele não levava qualquer tipo de luvas. Felizmente não se aleijou com gravidade, queixava-se de uma dor nas costas mas provavelmente provocado por alguma contractura muscular. Apesar da queda acabou por concluir o segmento de ciclismo, mas não se sentia bem para empreender a corrida.
Estava a preparar-me para a corrida e fiquei na dúvida de levar o casaco de ciclismo, porque afinal o tempo parecia estar bom, mas fazia vento e tinha receio de piorar, pedi então a opinião do João que imediatamente me disse para levar. Apesar do receio de aquecer em demasia acabei por seguir o seu conselho.
Mais conversa menos conversa, mais dúvida menos dúvida, acabei por sair do parque de transição com 7 minutos e 49 segundo, mais do que na primeira transição. Era um tempo exagerado, mas enfim não estava preocupado com isso, o importante era ser um finisher.
3.3. CORRIDAQuando saio do parque de transição e entro num corredor com cerca de 3 metros de largo que dá acesso à recta da meta, ouço as pessoas a gritar de modo eufórico, perguntei-me o que se passava e se aquilo era tudo por minha causa (lol), quando ao olhar para a frente vejo o vencedor Marcel Zamora a vir na minha direcção a agradecer ao público os aplausos. Cruzei-me com ele e olhando-lhe nos olhos deu para ver a enorme satisfação de ser vencedor, tendo terminado com 9 horas e 38 minutos. A triste constatação daquele momento é que ele me ganhou por uma maratona (risos).
Assim que comecei a correr, parece que nada tinha feito de bicicleta, não sei se era devido ao facto de ter acabado a prova com uma descida, o que permitiu algum descanso, mas a verdade é que no maior treino que fiz (192 kms), e na transição que se seguiu, senti a mesma coisa e nesse caso pelo contrário havia uma pequena subida. A resposta, seja ela qual for não é importante, o interessante foi sentir-me bem. Importa dizer que o percurso de corrida, de duas voltas, acreditem, não era de todo negligenciável, com um acumulado de 425 metros, com várias subidas uma das quais com uma extensão de 1500 metros e uma boa inclinação. Este percurso era igualmente interessante no que diz respeito à beleza. Passava no centro da cidade, atravessava algumas aldeias, passávamos uma ponte, Pont Neuf, que afinal nada tinha de novo, era uma velha ponte de ferro, por baixo dela um rio de um azul transparente onde navegavam alguns praticantes de rafting. O percurso terminava com uma volta ao lago onde se tinha desenrolado a natação.
A dada altura quando começo a correr começo a ouvir as pessoas a chamarem o meu nome mas de uma forma estranha, pois normalmente ninguém me chama Nuno Miguel, mas sim ou Chuva ou Vasco, mas isso não tinha importância, o interesse residia em saber como sabiam as pessoas o meu nome. Percebo então que tinham uma grande folha (50 x 34 cms) com todos os nomes dos atletas participantes, nacionalidade e respectivo número do dorsal – mas que grande ideia. Não sei se isso é prática comum nos outros ironmans, mas a verdade é que aquelas folhas distribuídas gratuitamente por toda a cidade cumpriam impecavelmente a sua função. Como é bom ouvir o nosso nome e os encorajamentos da parte de todos, e quando digo todos é todos sem excepção, pois desde os mais pequenos aos mais idosos, todos estavam empenhados em apoiar os atletas. Do que vi sobre Roth, o Embrunman não se pode comparar, mas para quem só conhece o Ironcat aquilo é fantástico – um berço de afectividade. Para além desta particularidade, um dos momentos mais animadores e marcantes da prova foi o apoio de um grupo de portugueses, (emigrantes?) mormente um deles gritava bem alto PORTUGAL e metia-se à minha frente a dar-me ânimo. É agradável, reconfortante e faz-nos pensar que nunca estamos sozinhos no mundo.
Quando chego ao km 7 acuso algum cansaço nas pernas, toda a facilidade no início da corrida foi “sol de pouca dura”, pois dei por mim a fazer contas sobre os quilómetros que me faltavam e começava a sentir o peso nas pernas do esforço anterior. Quando assim é, algo começa a não correr bem. Continuei num ritmo calmo, pois estava com receio de aumentar e de dar de caras com o “homem da marreta”. Volvidos 21 kms percebo que o meu ritmo tinha quebrado bastante, um pouco por força das subidas em que cheguei a correr a 7 min/km, e o meu tempo à passagem da primeira meia-maratona era o reflexo disso mesmo: 2 horas e 3 minutos.
Não obstante o péssimo tempo na primeira metade da corrida, encontrava-me relativamente bem. Em termos musculares e cardíacos não podia estar melhor pois o meu pulso baixou dos 140 bpm à 1h20 de corrida para pouco mais de 130 bpm ao fim de duas horas. Tinha portanto muito para esgotar na segunda metade. Interiorizei isso e meti na cabeça que queria fazer a maratona abaixo das 4 horas. Acho que percebi bem o que pretendia pois comecei a aumentar o meu ritmo, tendo durante muito tempo andado abaixo dos 5 min/km. É claro que nas subidas havia sempre uma quebra substancial, mas tentava recuperar nas descidas e fundamentalmente nas rectas, onde me sentia mesmo muito bem.
De vez em quando parava para hidratar e quanto a este aspecto convém realçar que devido ao decreto Natura 2000 todos os atletas eram obrigado a andar com a sua bebida, não havendo entregas de garrafas de plástico, ou seja, sempre que alguém queria hidratar podia fazê-lo de duas formas, a primeira era beber no local, e a segunda seria encher o recipiente que acompanhava o atleta. Para esta última opção, a organização forneceu um copo personalizado para ser levado à cintura, mas foram poucos os atletas que vi correr com ele, porque afinal de contas o seu transporte não era prático. Eu optei por transportar um bidon que a organização forneceu para a bicicleta e sempre que abastecia enchia metade do recipiente com água e cerca de ¼ com coca-cola. Esta bebida era fantástica porque não era doce e assemelhava-se a uma água gaseificada refrescante.
Tudo corria conforme o desejado quando mais ou menos ao km 25 aumentou a dor na planta do meu pé esquerdo devido ao Neuroma de Morton. Mal tinha começado a correr comecei a sentir um ligeiro desconforto, nada de preocupante, mas no momento em que já levava um ritmo mais acentuado, a dor começa a aumentar consideravelmente de modo que a dada altura se torna insuportável. Foi o único momento da prova em que me preocupei com a ideia de não acabar, mas tal não passou apenas de uma preocupação pois nunca em momento algum me passou pela cabeça desistir. Havia portanto que resistir e suportar a dor até ao último quilómetro. A cada passada encolhia os dedos dos pés e voltava a esticá-los de modo a promover o relaxamento dos mesmos, isso ajudou bastante, mas não era de todo confortável manter essa postura na corrida, daí que deixava de o fazer por alguns instantes e só quando a dor se tornava intolerável é que tomava esse procedimento. Mesmo a arrastar essa dor eu teimava em não abrandar e mantive sempre um ritmo elevado, fartei-me de passar gente (agora sei que foram 156), até parecia um atleta de top (risos).
O tempo começou a esfriar bastante e se no início me tinha arrependido de correr com o casaco de ciclismo, este revelou-se uma peça crucial, dado que havia muito vento frio. Quando já só faltavam aproximadamente 3 kms e quando eu corria à volta do lago, começou a cair água de forma torrencial. Em muito pouco tempo fiquei totalmente encharcado e arrefeci um pouco. O casaco que vestia, apesar de mais pesado, dava-me algum aconchego. Continuei a um passo forte e quando faltava 1 km senti um grande alívio por saber que faltava muito pouco para terminar aquela jornada. Estava todo molhado, se bem que entretanto a chuva tenha parado.
Quando entro na recta da meta, tiro a bandeira portuguesa que transportava ponho-a à frente, deixo passar um francês que me iria seguramente estragar a fotografia e finalmente ao fim de um esforço de 13 horas e 30 minutos corro em direcção à linha de chegada. Foi um grande alívio ter conseguido acabar, já me podia apelidar finisher do Embrunman, o mais duro Ironman do mundo. Foram 3h57 a correr, tendo conseguido recuperar 6 minutos desde a primeira metade da corrida.
Mal cortei a meta deram-me a medalha e a tão desejada t-shirt finisher e como foi bom ouvir o speaker pronunciar o meu nome. Parei de imediato na bancada dos “comes e bebes” e comecei a enfardar líquidos e sólidos. Poucos minutos depois comecei a arrefecer e a tremer devido ao frio, dirigi-me a uma bombeira que estava de serviço e perguntei-lhe se me podia dar uma protecção de papel metálico que estavam a distribuir aos atletas, ao que ela respondeu que sim e que a acompanhasse à tenda dos socorros. Quando ela se preparava para pegar o artigo, o médico presente perguntou-lhe o que ia fazer, tendo aquela dito que a folha metálica se destinava a mim, o médico imediatamente lhe disse que não ma podia dar, de seguida ela olhou-me e ficou um pouco sem saber o que dizer, eu perguntei o que se passava e o médico olhou-me e disse que não podia levar a protecção porque não teria qualquer efeito, estando eu todo molhado. Na minha ignorância, aceitei a sua desculpa, mas fiquei reticente com aquela resposta já que outras pessoas circulavam embrulhadas nela, restava-me saber se estariam molhada ou secas. Não me preocupei em aferir a verdade, mas agora estou certo que fui alvo de racismo, isto porque me dirigi a ele com a bandeira portuguesa na mão e ele viu-a. No momento eu pensei nisto mas estava cansado e com frio, seguramente ele levaria a melhor, daí que ausentei-me daquele espaço e depois pedi uma massagem à mesma bombeira que me levou ao mesmo local onde se encontrava o médico. Quando lá cheguei, o tipo ficou com um ar comprometido porque estavam a sair da tenda outros atletas bem embrulhado na folha protectora. Olhei-lhe nos olhos e ele percebeu que eu não era nenhum otário. Segui para a tenda das massagens, embrulhei-me num cobertor e esperei pacientemente pelo fim da massagem, até porque ali estava mais confortável. Finda a massagem, que diga-se foi muito fraquinha, deixei-me estar algum tempo deitado e embrulhado no cobertor. Minutos depois vesti a t-shirt finisher que estava seca e sai da tenda onde encontrei a Helena, minha namorada, que me procurava.
Os momentos seguintes, ainda dentro do parque de transição, foram a beber uns chás quentes. A chuva voltou a cair violentamente mas mesmo assim levantei o material, entreguei o chip e saí do parque de transição. Depois de ter dado um jeito na mecânica do meu carro, rumei a casa contente e satisfeito.
Do João não sabia nada, a Helena disse-me que ele estava no posto médico, mas nunca o consegui localizar, suponho que já tivesse saído com a esposa.
4. AGRADECIMENTOS
Falar de agradecimentos é falar de pessoas e por essa razão é sempre susceptível de não as abraçarmos todas, por isso, agradeço a todos o apoio prestado antes, durante e após a prova. Não poderia deixar de tecer um agradecimento especial ao Abel Condesso, Otelo Gonzaga, Leandro Pinto, e Pedro Brandão pela companhia nalguns treinos que se revelaram bem mais agradáveis nas suas companhias.
Um obrigado ao Martins de Fafe e ao Julinho da Ciclo Cross por prontamente me terem apoiado mecanicamente.
Aos meus pais por estarem sempre do meu lado.
Por fim agradeço à Helena Barbosa pelas palavras de encorajamento desde que me propus participar nesta prova e pela paciência que dispensou nos meus treinos, compreendendo desde o início a importância que depositei no Embrunman e o quão importante seria realizá-lo.
5. CONCLUSÃONo cômputo geral posso afiançar que a prova é muito simpática, com um público bastante afectuoso. Quanto à organização, tudo correu lindamente com excepção do briefing e dos abastecimentos que eram muito pobres para uma prova daquela dimensão. Apenas no plano de água e no cume do Col de l’Izoard existia um abastecimento mais consistente tanto em quantidade como em variedade. Estava a comer um “riz au lait” no Col de l’Izoard quando entretanto chegou outro atleta e pediu um para ele, ao que a organização respondeu que já não havia. Situações destas não podem acontecer. Durante todo o percurso da prova os alimentos que mais eram fornecidos eram as bananas e os frutos secos.
Concluo dizendo que todos os desafios que são colocados ao homem podem ser ultrapassados, desde que para tal esteja presente um desejo efectivo de os concretizar, não importa se é duro ou muito duro pois tudo é vencível. Além disso percebi nesta prova, que para melhorar a nossa performance devemos sempre ultrapassar os nossos medos. Estes são um bem útil à nossa sobrevivência, mas por vezes obliteram a nossa condição física.
Relativamente a projectos futuros, não sei bem o que dizer, mas gostaria muito de voltar a repetir o Embrunman, pois muito ficou por fazer e dizer, desta vez seria interessante ir acompanhado de mais portugueses para animar a terra de gauleses e quem sabe fazer-lhes cair o céu na cabeça (risos).
16 comentários:
Grande reportagem ó Vasco!
Ao nível de uma longa e dura prova.
Parabéns!!!
Espero vir a ser um desses portugueses a acompanhar te, nao sei se logo ai mas nao vai demorar muito a aventurar me a fazer o meu 1º IM .
Mais uma vez parabéns li o teu relato 2 vezes e acho que ainda o vou voltar a ler um dia destes....
Um forte abraço.
vasquinho mts parabens novamente epá temos que ir fazer é ibiza também que dizem que também é bem duro, grande relato da prova li tudinho e curti bué esses avecs não gostam de tugas não sei porquê. um resto de boa continuação e temos de ver para o ano qual ironman que vamos fazer, vamos ver é se vou gostar de fazer estas coisas lol já só falta 1 mês. um abraço
Ass: Rui Trovão
Olá grande Chuva Vasco,
Não sou nem nunca fui praticante de qualquer modalidade desportiva, no entanto sempre valorizei a dedicação, o esforço e a paixão daqueles que o fazem. Por isso, de vez quando, vou consultando o teu blog, tendo ficado agora verdadeiramente sensibilizado com o relato que fizeste dessa extraordinária "aventura", e da dureza das suas várias etapas. Todo esse esforço revela bem que, se por um lado, quem teme as tempestades acaba a rastejar, por outro, quem acredita acaba sempre por conseguir. Por isso, é um orgulho muito grande ter um amigo com um leque tão variado de potencialidades (a começar pelas artísticas, que são aquelas que eu conheço melhor...). Por isso, muitos, muitos Parabéns...
Eusébio Almeida e Susana Rosa
Obrigado a todos pelos vossos comentários.
se leram até ao fim é porque das duas uma, ou gostam muito de mim, ou muito de desporto, sei que o texto é maçudo, todavia talvez seja um relato único porque ao que tudo indica sou a segunda pessoa a fazer essa prova, o primeiro já foi há muitos anos e não acredito que nessa ocasião existisse esta coisa de blog, para se expandir as emoções em texto, contudo seria interessante partilhar com ele impressões.
Jordão, seria um enorme prazer acompanhar-te num Ironman, cada vez mais o desporto é menos competição e mais companheirismo.
Trovão, tu agora tens de ter calma e acabar o mês que falta com muita cabeça senão estragas tudo. É claro que vais gostar, pois mesmo os que falham gostam a tal ponto que chegam a repetir, a título de exemplo basta veres o último classificado no Embrunman deste ano, que já era a 5ª vez que lá ia, pois em nenhuma das 4 anteriores tinha conseguido terminar. Persistência é uma sabedoria.
Eusébio, como é bom ver-te por aqui, um grande homem das artes a comentar sobre desporto, assim é que é. Pois é verdade tenho estado mais presente no desporto do que nas artes, mas pretendo inverter isso a breve trecho, porque afinal, o deporto é bom e saudável, mas não dá carreira nem pilim.
Abraço e beijos
Grande Vasco. FOi uma delicia ler tudo o que escreveste. Para além de um grande atleta és um grande escritor :) Não fosses tu das artes.... É um orgulho poder dizer que sou teu amigo acredita. Não especificamente por teres feito o Embrunman mas pela tua postura e pelo tua paixão pelo desporto e personalidade. Acredita que já muito apreendi contigo e pode não parecer. O desporto tem o dom de nos juntar e fazer partilhar coisas que de outro modo nunca falariamos. És um verdadeiro campeão. Um Ironman, seja ele qual fôr, é sempre uma aventura extraordinaria, estando só ao alcance daqueles que tem o sonho e a capacidade de sofrimento para o fazer. Tu já fizeste 3!!!! Tens de ser alguem especial de facto. Um grande bem haja para ti amigo Vasco.
Grande Vasco, obrigado pelo excelente relato de uma jornada épica! agradeço tb o relato dessa experiência alargada que começou na fase de preparação e prolongou-se até ao final do Embrunman. Considero quase uma experiência pois não pude deixar de sentir que estava a seu lado na bike atrás. desde as lesões e as preocupações da impossibilidade de continuar, dos treinos, das avarias e da prova onde "quase" senti o arreliante frio Alpino e a vertigem das descidas. de certa forma tb me senti um "ironman/ Embrunman" ainda que virtualmente ahahahah
um grande abraço
quem sabe se o próximo não partilharemos a vitória com a nossa bandeira Portuguesa
Parabens!!!
grande triatlo esse EMBRUMAN ;-)
boa recuperação....
forte abraço,
Pedro Pinheiro,
obrigado por teres acompanhado esta luta. O relato tinha de ter a dimensão da prova tal como dizes.
Obrigado Pedro Brandão pelas tuas palavras,
eu acho isso mesmo, o desporto permite-nos de facto essa agregação e enriquecimento pessoal, e logicamente recíproco.
O Ironman julgo que é um caso à parte, porque por ser um pouco exclusivo acaba por nos unir mais.
Não havia 2 sem 3 pergunto-me se não ahverá 3 sem 4, não sei bem, talvez ainda façamos alguma coisa juntos.
Obrigado Jorge pelas amáveis palavras. Quando lia os relatos de Ironmans antes de ter sequer feito um ficava sempre fascinado e vivia intensamente o que imaginava. Para mim os relatos não são apenas pessoais, são fontes inspiradoras para outros atletas vindouros. Acredita que já li o meu texto várias vezes e a cada leitura tenho uma vontade crescente em repetir a prova.
E claro que partilhar uma prova com a Bandeira Portuguesa com outro português é sempre admirável.
David, o Embrunman é de facto uma prova mítica a juntar a outras (e.g. Roth, Havai) que vale apena fazer.
Abraços
Parabéns, pelo des"empenho", neste grande desafio quem sabe não será a minha escolha no próximo ano, se for o caso agradeço umas dicas adicionais.
Olá Sica,
obrigado pelas palavras.
já to disse mas volto a repetir que estás à vontade para questionar o que quiseres sobre o Embrunman, penso que actualmente serei a melhor fonte de informação sobre o Embrunman, porque ate ao momento só participaram dois portugueses nessa mítica prova, o primeiro dos quais há alguns anos, quando o Embrunman tinha características diferentes.
Abraço
Chuva Vasco
Parabéns Vasco, pela prova e pela crónica.
Uma abraço e força.
Adorei ler o teu relato e viver essa aventura como se estivesse lá! Proezas destas dão uma dimensão épica à nossa vida, parece que nos sentimos especiais, não é verdade? Mas eu bem sei, como tu sabes, que nada temos de especial, para além de grande determinação e perseverança. Aquilo que muitos chamam de teimosia, mas que é bem diferente...
Não posso dizer que serei uma das compatriotas que poderão estar lá contigo para o ano... Além de Roth já estar marcado, também "ainda" não me sinto capaz de uma coisa destas... Sou muito caloira nestas andanças.
Persiste nos teus objectivos, nota-se determinação em tudo o que fazes, e isso para mim é que é de valor!
PARABÉNS!
Filomena
Filomena,
as tuas palavras acertaram e assentam-me na perfeição, afinal de contas sempre fui determinado nas coisas que faço e a perseverança tem-me acompanhado ao longo da vida. Esta é a nossa melhor amiga, mas nalgumas circunstâncias torna-se aborrecida. Quantas vezes não nos apeteceu que algo acontecesse naquele momento imedato sem termos de esperar por longos períodos de tempo? Mas é assim que tem de ser, pois só desse modo podemos valorizar as coisas da melhor forma.
Uns chamam-nos apaixonados, outros perferem a loucura como epíteto para algo que não compreendem, enfim não me interessam os nomes, pois o que resulta no final de tudo são os resultados e a nossa realização pessoal.
Obrigado pelas tuas palavras e boa sorte para a próxima aventura.
Beijos
Parabens Vasco pelo teu sucesso nesta prova, pela esclarecedora reportagem.
The rowing coach as you no.
PT
Como está fazer quase um ano que li este relato e já na altura disse aqui num comentário que um dia voltaria a ler.
Esse dia chegou, agora que tudo indica que irei a não ser que aconteça algum transcendente, posso dizer te que estou a cumprir com o que tinha dito no comentário do ano passado. Só não imaginava que iria inscrever me logo neste IM.
Mas ainda bem que um dia liguei te e tu dizes o Jordão isso é um mito a muita gente que o 1º IM faz la. Conclusão foi o que faltava alguém dizer me para eu ficar logo convencido.
Como tal este ano estamos 3 inscritos para tentar subir o ranking dos portugueses neste mítico Im. Até um abraço.
Enviar um comentário