A presente reportagem no Canal televisivo Sport+ refere-se ao Embrunman 2011 e tem comentários de Vincent Bachelot e Cyrille Neveu, este último vencedor em 2003 da mítica prova e até ao momento recordista no segmento de natação com 44 min 18 seg. (coisa pouca).
O vídeo é o mesmo que está publicado no Dailymotion, mas tem comentários diferentes.
Quem quiser aceder ao vídeo do Dailymotion, clique aqui (francês) ou aqui (inglês)
APOIO/PATROCÍNIOS
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
AINDA O EMBRUNMAN
Para quem deseja conhecer virtualmente os percursos de ciclismo e de corrida do Embrunman, pode aceder aos vídeos abaixo. Sobretudo o vídeo do ciclismo, permite ter uma pequena ideia da espectacularidade do percurso desta prova.
Boa viagem.
Errata: o percurso de ciclismo são 188 kms e não 185 como erradamente é informado no vídeo
PERCURSO DE CICLISMO
PERCURSO DE CORRIDA
Boa viagem.
Errata: o percurso de ciclismo são 188 kms e não 185 como erradamente é informado no vídeo
PERCURSO DE CICLISMO
PERCURSO DE CORRIDA
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
EMBRUNMAN 2011
RESULTADOS CHUVA VASCO
Tempo final: 13:05:35 horas
Classificação geral: 177º
Classificação no escalão (V1): 67º
Natação: 1:09:33 horas (521º lugar)
Ciclismo: 7:49:37 horas (377º lugar)
Corrida: 3:56:04 horas (73º lugar)
RESULTADOS PAULO SEQUEIRA
Tempo final: 13:45:44 horas
Classificação Geral: 310º
Classificação no escalão (S4): 157º
Natação: 1:01:25 horas (200º lugar)
Ciclismo: 8:07:14 horas (501º lugar)
Corrida: 4:33:04 horas (275º lugar)
RESULTADOS JORDÃO ALVES
Tempo final: 15:08:56 horas
Classificação geral: 541º
Classificação no escalão (S3): 243º
Natação: 0:59:08 horas (127º lugar)
Ciclismo: 8:39:23 horas (691º lugar)
Corrida: 5:24:37 horas (570º lugar)
IMAGENS DA PROVA
VÍDEO DA PROVA
RELATO EMBRUNMAN 2011
«(…) gostaria muito de repetir o Embrunman, pois muito ficou por fazer e dizer, desta vez seria interessante ir acompanhado de mais portugueses para animar a terra de gauleses e quem sabe fazer-lhes cair o céu na cabeça (risos)». Foi desta forma que conclui o relato do ano passado relativamente ao Embrunman e em tudo se concretizaram estes meus desejos, repeti a prova, estiveram presentes mais dois portugueses e quem sabe se não fizemos cair o céu na cabeça de alguns franceses.
Ao invés do que é frequente acontecer com os meus extensos relatos, proponho-vos desta vez uma síntese do que aconteceu nesta 28ª edição do Embrunman. Realçarei pois apenas os aspectos de maior relevância.
No dia em que cheguei a Embrun – 12 de Agosto, voltei a maravilhar-me com a surpreendente paisagem que rodeia aquela pequena cidade. Este ano ocupei o mesmo alojamento que o Jordão Alves, que estava ali para realizar o seu primeiro Ironman, mas que Ironman! Ficamos alojados na localidade de Les Orres a cerca de 12 kms de Embrun. Uma localidade belíssima com uma vista surpreendente para o sopé das montanhas. Curiosamente o outro português inscrito, Paulo Sequeira, mais vulgarmente conhecido por Sica, também estava alojado em Les Orres.
Na véspera da prova, fomos depositar as bicicletas no parque de transição e rumamos a casa para os últimos preparativos do grande dia. Neste momento o Jordão estava stressado com o tempo, queria deitar cedo, mas uma ida ao Col d’Izoard e uma procura de pão à última da hora atrasou-nos, o que nos obrigou a jantar mais tarde.
Cerca das 21:30 horas caiu uma chuvada que em certa medida assustou, mormente a mim que por causa dela acabei por escorregar num degrau de madeira que estava molhado, tendo caído sobre o meu braço esquerdo e magoado o meu ombro.
Cerca das 22 horas o Jordão já estava a descansar, eu, porém, ainda me mantinha em pé a verificar todo o material que teria de levar no dia seguinte. Às 23 horas fiz um pouco de gelo no ombro, e pouco tempo depois também já estava deitado.
Às 03:30 horas levantei-me, tomámos o pequeno-almoço e abalamos até ao plano de água. Aqui encontrámos o Sica, conversamos um pouco, depositamos as coisas que iríamos necessitar na prova, deram-se as últimas despedidas à família e logo seguimos para a linha de partida.
Estava uma brilhante lua cheia que iluminava bem o espaço, suponho que isso deve ter cortado um pouco a ideia do breu da noite que tanto amedronta algumas pessoas. Os flashes eram sucessivos e aleatórios, o speaker da prova entusiasmava o público e logo partimos. O Jordão e o Sica colocaram-se numa posição dianteira, enquanto que eu, como sempre, prefiro a retaguarda (desse modo vejo toda a tropa, lol).
Comecei a nadar, e logo no início, levei uma cotevelada na cara que me fez sair os óculos da cara. Paragem para recompor, e novamente a nadar. Entretanto, tive de parar mais 3 vezes para tirar a água dos óculos que teimava em chatear-me. Só da última vez percebi, que, afinal o problema era da borracha que estava pouco esticada (como foi ela encolher?).
Saí da água, olhei para o relógio e não queria acreditar, 1:09:33. Com tanta paragem, menos de 20 treinos de natação e faço menos 1 minuto do que o ano passado? Fiquei animado com o resultado. Cheguei ao parque, e como previsto, o Jordão e o Sica já tinham saído. Saio do parque e começo a secar a roupa na primeira subida de 8 kms, estava a trepar com pouca energia, e a dada altura questiono-me: “mas que estou eu aqui novamente a fazer?”. Começo a descer, desfruto um pouco dos verdadeiros postais que tinha à frente, e embalo. A dada a altura, surge um cotovelo apertadíssimo que quase não consigo fazer. Travo demasiado com o travão de trás a roda traseira levanta, alivio o travão, a roda volta a pousar o chão, insisto no travão da frente , inclino-me ligeiramente e por instantes pensei que era o fim da minha prova, Ainda hoje não sei como consegui dominar a bicicleta naquelas condições. Por muito pouco que não me estatelava no chão. Seria trágico se isso acontecesse, pois a última vez que tinha olhado para a velocidade, circulava a 71 kms/h. Nasci de novo.
Ao km 72 encontro o Jordão, sigo um pouco com ele, convido-o para me acompanhar, mas este, com receio da sua lesão no joelho, manda-me seguir. Posteriormente, ao passar na vila de Arvieux, começo a sentir alguma dificuldade, não entendendo muito bem porquê, dado que a subida era bem ligeira, na ordem dos 2 a 5%. Mais à frente começam a surgir as maiores pendentes para os 2400 metros do Col d’Izoard. Aí, apesar de mais inclinadas e de me mover lentamente, senti-me um pouco melhor. O público, que era constante na subida, apoiava-nos naquele esforço e também eles faziam parte da prova e gozavam com a nossa presença.
Chegado ao cume, tempo para trocar de bidon, comer umas coisas na banca dos “comes e bebes”, e descer em direcção a Briançon. Mais ao menos ao km 120 encontro o Sica que descia cautelosamente. Seguimos juntos, conversamos um pouco e a dada altura surge a encosta de Pallon, uma pendente de cerca de 2 kms, com uma percentagem bem perto dos 14%, por esta altura a minha síndrome da banda iliotibial já me estava a incomodar, havia pois de aguentar os restantes quilómetros sem exercer muita pressão no pedal esquerdo. Continuamos, e entre subidas e descidas começamos a fazer a aproximação à cidade de Embrun, mas sem antes nos deliciarmos com a cereja no topo do bolo, a encosta de Chalvet, com cerca de 4 ou 5 kms e uma média duns 8%. Quando começo a subir verifico que o Sica não me seguia, logo pensei que se tinha cortado nas descidas que antecederam a supradita subida. Chegado lá acima, parei para beber Coca-Cola, porque os meus bidons estavam totalmente vazios. Subo na burra, e um miúdo empurra-me uns metros até encaixar os pedais, por momentos senti-me um verdadeiro corredor da volta.
Começo a descer, entro no parque de transição, aprovisiono-me com o essencial e começo a correr. Este ano, mal comecei a correr não foi o vencedor que estava a chegar à meta como no ano passado, mas sim, a primeira mulher que estava a entrar na segunda parte da corrida (estou a fazer progressos, pensei eu, lol). Mal começo a correr, cruzo-me com o Hervé Faure, vencedor da prova. Nunca tal me tinha acontecido.
A dada altura sinto uma picadela na planta do meu pé direito, tentava aliviar a picada, mas esta teimava em não querer desaparecer, até que fui obrigado a parar, descalçar-me e verificar que afinal tinha um vidrinho espetado. O mesmo já se tinha enterrado bastante e após algum esforço lá consegui extraí-lo.
Entretanto, estava a manter um bom ritmo, sempre abaixo dos 5min/km, e estava mesmo esperançoso que conseguiria manter aquele ritmo até ao fim, todavia, a partir do km 21 comecei a acusar algum cansaço e quebrei bastante. Mantive sempre em cabeça, como de resto sempre acontece, que não podia parar, para além dos abastecimentos e foi o que aconteceu.
Pouco tempo depois, surge um ardor no meu calcanhar esquerdo, olho para o pé e verifico que a meia tinha descaído, estando a pele a roçar com a sapatilha. Voltei a parar, e recompus a meia. Uns kms mais adiante, novamente o mesmo problema, nova paragem, e aí verifico que já tinha uma enorme bolha. Puxei novamente a meia e continuei ignorando o fole que ali tinha despontado. Entretanto agarrava esponjas de água e espremia-as na cabeça, escorrendo a água em todo o corpo, mas também para o calcanhar que estava dorido. Isso aumentou a fricção, levando a irritar ainda mais a bolha.
Faltavam 4 kms e colei-me a um francês que segui a bom ritmo. Conversamos um pouco e lá seguimos até à recta da meta, onde o público fervia com a prova.
Transpus a linha que todos almejam pela segunda vez, com 13:05 horas, numa prova simplesmente sublime, onde a vontade de voltar está presente.
Sucedeu-se o Sica a cortar a meta, seguindo-se o Jordão Alves. Em ambos via-se a satisfação de terem concluído a prova.
Conclusões
A experiência de fazer o Embrunman é única. Quando estive presente na edição do ano passado não me tinha apercebido da grandeza da prova. Em 2010 a prova perdeu algum brilho, porque o tempo não estava bom: o frio, a chuva e o vento eram uma constante e assustaram muita gente que fruía o espectáculo. Este ano foi diferente, a temperatura estava agradável, rondando os 28ºC, o que permitiu elevar a prova ao seu mais alto nível.
Participar numa prova onde o esplendor da paisagem reina, faz-nos esquecer qualquer sofrimento que nos possa assolar. Embrun é uma pequena cidade no seio dos Alpes Franceses, onde toda a gente se conhece, é portanto fácil perceber que o dia 15 de Agosto é um grande dia para aquela localidade. É muito frequente ver nos estabelecimentos, cartazes dizendo: «este estabelecimento apoia o Embrunman», já para não falar da publicidade espalhada, e de alguns restaurantes abrirem de madrugada para servir massa aos atletas.
Consegui subtrair 25 minutos ao tempo do ano passado, o que é muito bom, dadas as circunstâncias de ter menos de 3 meses de treino e alguns percalços físicos na preparação. O último segmento era aquele em que estava mais à vontade, mas o facto de ter tido poucos treinos de bicicleta obrigaram-me a não conseguir tirar o melhor partido da corrida.
Felicitações
Congratulo-me com a participação de mais dois portugueses nesta prova, porém o meu regozijo vai para o Jordão Alves, que na sua primeira incursão pelo mundo dos Ironmans escolhe precisamente o mais difícil. Acresce ainda, que teve uma malograda preparação, com sucessivas ameaças a comprometerem a sua participação. Com energia, persistência, força de vontade e espírito de vencer, conseguiu chegar lá e cortar a meta. Com todas as dificuldades que o acompanharam, podemos dizer, que é um verdadeiro atleta, onde o espírito para se ter tornado Ironman esteve sempre presente.
Recomendação
Esta prova é altamente recomendável. Vão a Embrun e tenham o prazer de desfrutar de uma das mais belas provas do calendário mundial de Ironmans.
Embrunman é bom por todas as razões, entre outros predicados, destaco as soberbas paisagens, o acolhimento dos residentes, o entusiástico público sempre a dar ânimo e conforto, e um belíssimo local de turismo onde se tem à disposição várias actividades, sejam elas em terra, na água ou no ar. Não se assustem com a dificuldade da prova, pois tudo é exequível desde que haja uma franca vontade em vencer.
Sendo um desconhecedor do mundo dos Ironmans, atrevo-me a dizer que Embrunman é possivelmente, em todos os contextos, o superlativo dos Ironmans.
Agradecimentos
Como é habitual os meus agradecimentos recaem sobre todos aqueles que tiveram a paciência de aguentar as minhas ausências, sejam eles, pais, ou amigos.
Um especial obrigado ao Jordão Alves que muito insistiu para que estivesse presente nesta edição, e pela partilha de alguns treinos. Sem ele seguramente não teria estado presente.
Também um merecido agradecimento às ironwomens presentes (Helena Barbosa, Dulce e Martina), quer pelo apoio como pela reportagem da prova.
Projecção futura
Termino como comecei, completando: gostaria muito de repetir o Embrunman no aniversário da sua 30ª edição que se realiza em 2013. Muito ficou por fazer e dizer, desta vez seria interessante ir acompanhado de muitos mais portugueses, já se fala em charters, gostaria muito de marcar lugar nesse voo. Que as coisas se encadeiem desse modo e é sinal de vida. Até lá, bons treinos.
Tempo final: 13:05:35 horas
Classificação geral: 177º
Classificação no escalão (V1): 67º
Natação: 1:09:33 horas (521º lugar)
Ciclismo: 7:49:37 horas (377º lugar)
Corrida: 3:56:04 horas (73º lugar)
RESULTADOS PAULO SEQUEIRA
Tempo final: 13:45:44 horas
Classificação Geral: 310º
Classificação no escalão (S4): 157º
Natação: 1:01:25 horas (200º lugar)
Ciclismo: 8:07:14 horas (501º lugar)
Corrida: 4:33:04 horas (275º lugar)
RESULTADOS JORDÃO ALVES
Tempo final: 15:08:56 horas
Classificação geral: 541º
Classificação no escalão (S3): 243º
Natação: 0:59:08 horas (127º lugar)
Ciclismo: 8:39:23 horas (691º lugar)
Corrida: 5:24:37 horas (570º lugar)
IMAGENS DA PROVA
Embrunman 2011 |
VÍDEO DA PROVA
RELATO EMBRUNMAN 2011
«(…) gostaria muito de repetir o Embrunman, pois muito ficou por fazer e dizer, desta vez seria interessante ir acompanhado de mais portugueses para animar a terra de gauleses e quem sabe fazer-lhes cair o céu na cabeça (risos)». Foi desta forma que conclui o relato do ano passado relativamente ao Embrunman e em tudo se concretizaram estes meus desejos, repeti a prova, estiveram presentes mais dois portugueses e quem sabe se não fizemos cair o céu na cabeça de alguns franceses.
Ao invés do que é frequente acontecer com os meus extensos relatos, proponho-vos desta vez uma síntese do que aconteceu nesta 28ª edição do Embrunman. Realçarei pois apenas os aspectos de maior relevância.
No dia em que cheguei a Embrun – 12 de Agosto, voltei a maravilhar-me com a surpreendente paisagem que rodeia aquela pequena cidade. Este ano ocupei o mesmo alojamento que o Jordão Alves, que estava ali para realizar o seu primeiro Ironman, mas que Ironman! Ficamos alojados na localidade de Les Orres a cerca de 12 kms de Embrun. Uma localidade belíssima com uma vista surpreendente para o sopé das montanhas. Curiosamente o outro português inscrito, Paulo Sequeira, mais vulgarmente conhecido por Sica, também estava alojado em Les Orres.
Na véspera da prova, fomos depositar as bicicletas no parque de transição e rumamos a casa para os últimos preparativos do grande dia. Neste momento o Jordão estava stressado com o tempo, queria deitar cedo, mas uma ida ao Col d’Izoard e uma procura de pão à última da hora atrasou-nos, o que nos obrigou a jantar mais tarde.
Cerca das 21:30 horas caiu uma chuvada que em certa medida assustou, mormente a mim que por causa dela acabei por escorregar num degrau de madeira que estava molhado, tendo caído sobre o meu braço esquerdo e magoado o meu ombro.
Cerca das 22 horas o Jordão já estava a descansar, eu, porém, ainda me mantinha em pé a verificar todo o material que teria de levar no dia seguinte. Às 23 horas fiz um pouco de gelo no ombro, e pouco tempo depois também já estava deitado.
Às 03:30 horas levantei-me, tomámos o pequeno-almoço e abalamos até ao plano de água. Aqui encontrámos o Sica, conversamos um pouco, depositamos as coisas que iríamos necessitar na prova, deram-se as últimas despedidas à família e logo seguimos para a linha de partida.
Estava uma brilhante lua cheia que iluminava bem o espaço, suponho que isso deve ter cortado um pouco a ideia do breu da noite que tanto amedronta algumas pessoas. Os flashes eram sucessivos e aleatórios, o speaker da prova entusiasmava o público e logo partimos. O Jordão e o Sica colocaram-se numa posição dianteira, enquanto que eu, como sempre, prefiro a retaguarda (desse modo vejo toda a tropa, lol).
Comecei a nadar, e logo no início, levei uma cotevelada na cara que me fez sair os óculos da cara. Paragem para recompor, e novamente a nadar. Entretanto, tive de parar mais 3 vezes para tirar a água dos óculos que teimava em chatear-me. Só da última vez percebi, que, afinal o problema era da borracha que estava pouco esticada (como foi ela encolher?).
Saí da água, olhei para o relógio e não queria acreditar, 1:09:33. Com tanta paragem, menos de 20 treinos de natação e faço menos 1 minuto do que o ano passado? Fiquei animado com o resultado. Cheguei ao parque, e como previsto, o Jordão e o Sica já tinham saído. Saio do parque e começo a secar a roupa na primeira subida de 8 kms, estava a trepar com pouca energia, e a dada altura questiono-me: “mas que estou eu aqui novamente a fazer?”. Começo a descer, desfruto um pouco dos verdadeiros postais que tinha à frente, e embalo. A dada a altura, surge um cotovelo apertadíssimo que quase não consigo fazer. Travo demasiado com o travão de trás a roda traseira levanta, alivio o travão, a roda volta a pousar o chão, insisto no travão da frente , inclino-me ligeiramente e por instantes pensei que era o fim da minha prova, Ainda hoje não sei como consegui dominar a bicicleta naquelas condições. Por muito pouco que não me estatelava no chão. Seria trágico se isso acontecesse, pois a última vez que tinha olhado para a velocidade, circulava a 71 kms/h. Nasci de novo.
Ao km 72 encontro o Jordão, sigo um pouco com ele, convido-o para me acompanhar, mas este, com receio da sua lesão no joelho, manda-me seguir. Posteriormente, ao passar na vila de Arvieux, começo a sentir alguma dificuldade, não entendendo muito bem porquê, dado que a subida era bem ligeira, na ordem dos 2 a 5%. Mais à frente começam a surgir as maiores pendentes para os 2400 metros do Col d’Izoard. Aí, apesar de mais inclinadas e de me mover lentamente, senti-me um pouco melhor. O público, que era constante na subida, apoiava-nos naquele esforço e também eles faziam parte da prova e gozavam com a nossa presença.
Chegado ao cume, tempo para trocar de bidon, comer umas coisas na banca dos “comes e bebes”, e descer em direcção a Briançon. Mais ao menos ao km 120 encontro o Sica que descia cautelosamente. Seguimos juntos, conversamos um pouco e a dada altura surge a encosta de Pallon, uma pendente de cerca de 2 kms, com uma percentagem bem perto dos 14%, por esta altura a minha síndrome da banda iliotibial já me estava a incomodar, havia pois de aguentar os restantes quilómetros sem exercer muita pressão no pedal esquerdo. Continuamos, e entre subidas e descidas começamos a fazer a aproximação à cidade de Embrun, mas sem antes nos deliciarmos com a cereja no topo do bolo, a encosta de Chalvet, com cerca de 4 ou 5 kms e uma média duns 8%. Quando começo a subir verifico que o Sica não me seguia, logo pensei que se tinha cortado nas descidas que antecederam a supradita subida. Chegado lá acima, parei para beber Coca-Cola, porque os meus bidons estavam totalmente vazios. Subo na burra, e um miúdo empurra-me uns metros até encaixar os pedais, por momentos senti-me um verdadeiro corredor da volta.
Começo a descer, entro no parque de transição, aprovisiono-me com o essencial e começo a correr. Este ano, mal comecei a correr não foi o vencedor que estava a chegar à meta como no ano passado, mas sim, a primeira mulher que estava a entrar na segunda parte da corrida (estou a fazer progressos, pensei eu, lol). Mal começo a correr, cruzo-me com o Hervé Faure, vencedor da prova. Nunca tal me tinha acontecido.
A dada altura sinto uma picadela na planta do meu pé direito, tentava aliviar a picada, mas esta teimava em não querer desaparecer, até que fui obrigado a parar, descalçar-me e verificar que afinal tinha um vidrinho espetado. O mesmo já se tinha enterrado bastante e após algum esforço lá consegui extraí-lo.
Entretanto, estava a manter um bom ritmo, sempre abaixo dos 5min/km, e estava mesmo esperançoso que conseguiria manter aquele ritmo até ao fim, todavia, a partir do km 21 comecei a acusar algum cansaço e quebrei bastante. Mantive sempre em cabeça, como de resto sempre acontece, que não podia parar, para além dos abastecimentos e foi o que aconteceu.
Pouco tempo depois, surge um ardor no meu calcanhar esquerdo, olho para o pé e verifico que a meia tinha descaído, estando a pele a roçar com a sapatilha. Voltei a parar, e recompus a meia. Uns kms mais adiante, novamente o mesmo problema, nova paragem, e aí verifico que já tinha uma enorme bolha. Puxei novamente a meia e continuei ignorando o fole que ali tinha despontado. Entretanto agarrava esponjas de água e espremia-as na cabeça, escorrendo a água em todo o corpo, mas também para o calcanhar que estava dorido. Isso aumentou a fricção, levando a irritar ainda mais a bolha.
Faltavam 4 kms e colei-me a um francês que segui a bom ritmo. Conversamos um pouco e lá seguimos até à recta da meta, onde o público fervia com a prova.
Transpus a linha que todos almejam pela segunda vez, com 13:05 horas, numa prova simplesmente sublime, onde a vontade de voltar está presente.
Sucedeu-se o Sica a cortar a meta, seguindo-se o Jordão Alves. Em ambos via-se a satisfação de terem concluído a prova.
Conclusões
A experiência de fazer o Embrunman é única. Quando estive presente na edição do ano passado não me tinha apercebido da grandeza da prova. Em 2010 a prova perdeu algum brilho, porque o tempo não estava bom: o frio, a chuva e o vento eram uma constante e assustaram muita gente que fruía o espectáculo. Este ano foi diferente, a temperatura estava agradável, rondando os 28ºC, o que permitiu elevar a prova ao seu mais alto nível.
Participar numa prova onde o esplendor da paisagem reina, faz-nos esquecer qualquer sofrimento que nos possa assolar. Embrun é uma pequena cidade no seio dos Alpes Franceses, onde toda a gente se conhece, é portanto fácil perceber que o dia 15 de Agosto é um grande dia para aquela localidade. É muito frequente ver nos estabelecimentos, cartazes dizendo: «este estabelecimento apoia o Embrunman», já para não falar da publicidade espalhada, e de alguns restaurantes abrirem de madrugada para servir massa aos atletas.
Consegui subtrair 25 minutos ao tempo do ano passado, o que é muito bom, dadas as circunstâncias de ter menos de 3 meses de treino e alguns percalços físicos na preparação. O último segmento era aquele em que estava mais à vontade, mas o facto de ter tido poucos treinos de bicicleta obrigaram-me a não conseguir tirar o melhor partido da corrida.
Felicitações
Congratulo-me com a participação de mais dois portugueses nesta prova, porém o meu regozijo vai para o Jordão Alves, que na sua primeira incursão pelo mundo dos Ironmans escolhe precisamente o mais difícil. Acresce ainda, que teve uma malograda preparação, com sucessivas ameaças a comprometerem a sua participação. Com energia, persistência, força de vontade e espírito de vencer, conseguiu chegar lá e cortar a meta. Com todas as dificuldades que o acompanharam, podemos dizer, que é um verdadeiro atleta, onde o espírito para se ter tornado Ironman esteve sempre presente.
Recomendação
Esta prova é altamente recomendável. Vão a Embrun e tenham o prazer de desfrutar de uma das mais belas provas do calendário mundial de Ironmans.
Embrunman é bom por todas as razões, entre outros predicados, destaco as soberbas paisagens, o acolhimento dos residentes, o entusiástico público sempre a dar ânimo e conforto, e um belíssimo local de turismo onde se tem à disposição várias actividades, sejam elas em terra, na água ou no ar. Não se assustem com a dificuldade da prova, pois tudo é exequível desde que haja uma franca vontade em vencer.
Sendo um desconhecedor do mundo dos Ironmans, atrevo-me a dizer que Embrunman é possivelmente, em todos os contextos, o superlativo dos Ironmans.
Agradecimentos
Como é habitual os meus agradecimentos recaem sobre todos aqueles que tiveram a paciência de aguentar as minhas ausências, sejam eles, pais, ou amigos.
Um especial obrigado ao Jordão Alves que muito insistiu para que estivesse presente nesta edição, e pela partilha de alguns treinos. Sem ele seguramente não teria estado presente.
Também um merecido agradecimento às ironwomens presentes (Helena Barbosa, Dulce e Martina), quer pelo apoio como pela reportagem da prova.
Projecção futura
Termino como comecei, completando: gostaria muito de repetir o Embrunman no aniversário da sua 30ª edição que se realiza em 2013. Muito ficou por fazer e dizer, desta vez seria interessante ir acompanhado de muitos mais portugueses, já se fala em charters, gostaria muito de marcar lugar nesse voo. Que as coisas se encadeiem desse modo e é sinal de vida. Até lá, bons treinos.
domingo, 28 de agosto de 2011
FILOMENA GOMES E RICARDO MENDES A CAMINHO DA PATAGÓNIA
Filomena Gomes (triatleta) e Ricardo Mendes a caminho da Patagónia por uma causa solidária - ajudar a "Operação Nariz Vermelho".
Saúdo os interveninetes pela forma voluntária como abraçaram esta causa. Que tudo lhes corra bem na expedição.
Vamos apoiar esta causa, não deixe de contribuir.
Mais informações AQUI
Saúdo os interveninetes pela forma voluntária como abraçaram esta causa. Que tudo lhes corra bem na expedição.
Vamos apoiar esta causa, não deixe de contribuir.
Mais informações AQUI
terça-feira, 2 de agosto de 2011
LESÃO COMPROMETE EMBRUNMAN
170 kms de bicicleta com 3600 metros de acumulado, seguidos de 2 horas de corrida, uma troca de sapatilhas, eis algumas das causas que poderão estar na origem de uma lesão no joelho que me acompanha há quase 3 semanas. Se é verdade que comecei a preparar a prova há menos de 3 meses, também é verdade que não me tenho sentido muito mal, porém, é bem possível que o acumular de treino em pouco tempo, possa estar na origem do problema físico que ora me importuna.
Segundo diagnóstico do ortopedista, trata-se de uma tendinite no retináculo radial da rótula (um pouco acima da "pata de ganso").
Tratamento? Sessões de fisioterapia com ionização local de voltaren injectável, calor húmido, massagem, gelo e juízo na cabeça.
Prognóstico? Reservado (lol)
Segundo diagnóstico do ortopedista, trata-se de uma tendinite no retináculo radial da rótula (um pouco acima da "pata de ganso").
Tratamento? Sessões de fisioterapia com ionização local de voltaren injectável, calor húmido, massagem, gelo e juízo na cabeça.
Prognóstico? Reservado (lol)
quinta-feira, 28 de julho de 2011
RESULTADOS IRONMAN FRANKFURT
Foi no passado Domingo, sob difíceis condições climatéricas, que se realizou a 1ª edição do Ironman de Frankfrut.
Uma grande comitiva representou a bandeira nacional,
- Sérgio Marques (PRO)- 08:57:53 horas
- Miguel Fragoso (45-49) - 09:39:45 horas
- Ricardo Lanceiro (30-34) - 09:41:58 horas
- Roberto Lúcio (35-39) - 10:08:25 horas
- Ricardo Carvalho (M30-34 ) - 10:26:03 horas
- Abel Condesso (35-39) - 11:16:12 horas
- Ricardo Vieira (40-44) - 11:16:12 horas
- João Durão (45-49) - DNF
Parabéns a todos pela participação, mas principalmente ao Abel Condesso que, no meio de vários desaires, soube gerir e mostrar o verdadeiro espírito IRONMAM.
Uma grande comitiva representou a bandeira nacional,
- Sérgio Marques (PRO)- 08:57:53 horas
- Miguel Fragoso (45-49) - 09:39:45 horas
- Ricardo Lanceiro (30-34) - 09:41:58 horas
- Roberto Lúcio (35-39) - 10:08:25 horas
- Ricardo Carvalho (M30-34 ) - 10:26:03 horas
- Abel Condesso (35-39) - 11:16:12 horas
- Ricardo Vieira (40-44) - 11:16:12 horas
- João Durão (45-49) - DNF
Parabéns a todos pela participação, mas principalmente ao Abel Condesso que, no meio de vários desaires, soube gerir e mostrar o verdadeiro espírito IRONMAM.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
DURO, MUITO, MUITÍSSIMO
São estas as palavras que descrevem o “Oh Meu Deus”.
No passado dia 30 de Abril estive em Manteigas (Serra da Estrela) para participar em mais uma aventura: a primeira edição do "Oh Meus Deus", uma ultramaratona de 102 kms. Deixo-vos pois os resultados, um relato da prova, algumas imagens e um vídeo.
"OH MEU DEUS"
Distância oficial: 102,362 kms
Distância reais: 104,5 kms
Acumulado positivo: 4125 metros
Altitude máxima: 1852 metros
RESULTADOS
Classificação geral: 24ª posição
Tempo: 19 horas e 07 min
Participantes: 71
Desistências: 24
FOTOS DA PROVA
VÍDEO
Trail Run "Oh Meu Deus" por chuvavasco1971
RELATO
Não tinha previsto nenhum relato para esta prova, porque apesar de me estrear nesta distância, julguei que haveria pouco para contar, para além do comentário à paisagem, percurso, meteorologia e organização. Estava redondamente enganado.
Não poderei relatar a prova, sem antes fazer uma referência aos treinos que estiveram implicados.
A GÉNESEUm belo dia recebo um e-mail do meu amigo Nuno Sacramento que anexava informação sobre uma ultramaratona que se apelidava “Oh Meu Deus”. Rapidamente o título me chamou à atenção e logo fiquei fascinado com as características da prova, contudo, vários problema se levantavam, é que a mesma era uma corrida de trail, e, nunca tendo corrido em montanha, para mim era uma grande novidade. Outra dificuldade era o pouco tempo que teria para treinar, estávamos no início de Fevereiro o que me dava menos de três meses para a preparação. Se o primeiro aspecto a ultrapassar podia ser decidido por mim, pois bastava eu querer começar a correr em montanha e a coisa resolvia-se, já o segundo dependia de uma opinião mais madura, por isso, consultei algumas pessoas da área, mormente, o Telmo Veloso e o Carlos Fonseca, a primeira, disputa sempre os primeiros lugares neste tipo de provas, enquanto que o segundo tem uma vastíssima experiência em ultramaratonas. Ambos foram peremptórios em afirmar que era tempo mais que suficiente, isto porque já tinha alguma base (maratonas e Ironmans) que se constituía como uma mais valia na prossecução deste objectivo. Ambos me incentivaram a empreender esse esforço.
A PREPARAÇÃOTer apenas 3 meses para me preparar para esta prova era para mim, independentemente das diversas opiniões, pouco tempo, portanto, encarei a preparação como algo que deveria crescer lentamente, mas sem grande demoras, quer isto dizer, que comecei por me adaptar à situação de correr em montanha, para logo de seguida incorporar volume. E foi assim que aconteceu, as três primeiras semanas contemplaram treinos de hora e meia a duas horas, só depois comecei a treinar mais tempo, com oscilações entre as três e as seis horas. Fiz muito treinos de três e quatro horas, alguns de cinco e apenas um único de seis horas, este último, diga-se, foi o que me correu melhor. A regra foi simples: não seguir a regra (lol), de facto, apesar de ter consultado o plano de treinos do Carlos Fonseca e de aquele me ter permitido alguma orientação, acabei por seguir um treino mais ad hoc, mais meu, sem preocupações de maior, centrado unicamente no volume de três treinos de corrida por semana, raramente quatro, complementados com 2 treinos semanais de trabalho de força para reforço muscular.
Os longos períodos de treinos, quase exclusivamente em modo solitário, foram muito desgastantes. É muito tempo a correr sozinho, sem ver ninguém, rodeado de árvores e sem tirar os olhos do chão. Costumo dizer que o trail é pior que natação em que o nadador só vê azulejos, mas com a vantagem de nunca cair, porque se cair será seguramente dentro de água (lol).
Algumas provas aliviavam a tensão e permitiam-me realizar treinos em ambiente competitivo, daí ter participado no Castelejo-Alvados (21 kms), Sicó (30 kms) e Trilhos de Almourol (39 kms).
Uma constante em todos os treinos foi uma dor que surgia sistematicamente na planta do meu pé esquerdo (zona carnuda próxima dos dedos). O Problema de pé cavo contribuiu para um total desconforto nos treinos, provocando uma dor, que por vezes se tornava lancinante, sobretudo quando pisava alguma pedra com aquela zona do pé. Fiz de tudo para contornar esse problema, desde ter experimentado todo o tipo de palmilhas, feito experiências com almofadinhas protectoras, consulta em podologista (Doutorpé), mas nunca nada resultou. Sabia que teria de suportar esse incómodo durante a prova.
O MATERIALTomada a decisão de fazer a prova, logo me vi a pesquisar qual seria o melhor equipamento para correr em montanha. Eram tantas as marcas e modelos como dúvidas, mas após algumas opiniões comprei dois pares de sapatilhas, a saber, ASICS Gel Trabuco e Salomon XA Pro 3D Ultra. Dois bons pares, mas com características distintas. Obviamente que a escolha deve ser individual e portanto sempre subjectiva, mas podemos dizer que as Salomon são muito escorregadias (apesar da sola Contragrip) em piso molhado, sobretudo em pedra, aderindo muito bem no piso seco, por outro lado, tem uma sola mais fina do que as ASICS o que permite maior sensibilidade no terreno, mas o que parece um benefício pode revelar-se uma grande desvantagem, dado que ao fim de algumas horas, os pés tornam-se mais sensíveis e sofrem mais com terrenos irregulares ou com pisos pedregosos, sobretudo para quem tem problemas de pés, como é o meu caso. Já as ASICS são mais confortáveis, com uma sola mais mole do que as Salomon, que possui uma rigidez muito grande, talvez fruto do “3D Chassi”. Ainda assim, a rigidez da sola das Salomon permite uma maior estabilização do pé. Importa ainda realçar que as ASICS são ligeiramente menos robustas que as Salomon, isto faz-se notar sobretudo quando se tropeça em pedras. As Salomon absorvem mais o impacto magoando menos os dedos.
Podemos inferir que as Salomon são mais tipo bota, enquanto as ASICS seguem mais a Linha das sapatilhas convencionais.
Face ao meu problema nos pés (pé cavo), tive, durante os treinos e provas, a oportunidade de verificar a qual dos dois modelos me adaptava melhor. Se as Salomon me davam maior estabilidade, as ASICS doíam-me menos, acabei portanto por escolher estas.
CHEGADA A MANTEIGASCheguei a manteigas cerca das 20 horas, tendo-me instalado na pensão “Manel das Feijocas”, um sítio pacato gerido por uma pessoa simples e humilde, o Sr. Manel. Depois de arrumar o material no quarto, fui jantar ao “Vale do Zêzere”, onde acabaram por me fazer uma coisa especial: uma pratada de massa à carbonara, coberta com muito queijo e acompanhada de um belo bife de porco. No final estava cheio e satisfeito.
O BRIEFINGDepois de jantar fui directamente ao local onde iriam ser dadas as indicações da prova. Julguei encontrar um local repleto de animação com uma pequena feira de venda de material, mas a verdade é que me deparei com um local despido de tudo isso. Isso retirou algum alento à expectativa que tinha mentalmente criado. Comecei então a perceber que a organização estava a ser pouco apoiada.
Às 21:30 em ponto, a organização, na pessoa de Paulo Garcia, deu início ao briefing. Obrigado Paulo pela pontualidade. Poucos eram os presentes, talvez nem 20 atletas.
Não entrando em pormenores sobre o discurso proferido, o acento foi colocado na dureza da prova e no cômputo geral, apenas retenho esta ideia: Acredito que caso as inscrições fossem feitas depois do briefing, haveria seguramente menos inscrições, pois só faltou a organização dizer para não fazermos a prova. Isto não é evidentemente uma crítica, mas sim um elogio, porque de facto a prova era bastante difícil e desse modo eu já ia um pouco preparado para algo de muito complicado.
Findo o briefing, voltei ao quarto, para tentar aliviar a tensão e arrumar as coisas para a prova.
Algumas dúvidas me foram suscitadas, nomeadamente que equipamento levar, dado que o tempo era uma incerteza. As previsões indicavam chuva. Optei por organizar a mochila com uma camisola suplente, um impermeável, um corta-vento, um par de meias, luvas, “passa montanhas”, para além do material obrigatório: frontal, manta de sobrevivência, telemóvel com bateria carregada, apito, stick luminoso, comida com o mínimo de 2500 Cal e 3 litros de bebida isotónica (o mínimo exigido era 1,5 lts.). Para além disto levei outro material opcional, como é o caso de uma nota de 20 euros (para despesas inesperadas), máquina fotográfica, pilhas suplentes para o frontal, bateria suplente para o telemóvel, um canivete multiuso, vaselina e creme antifricção, bússola, 3 ligaduras elásticas, adesivo, 1 compressa, 4 pensos. Organizei ainda um saco com uma muda de roupa que entreguei à organização que levaria para o km 56 (Observatório), local onde seria permitido a troca de roupa.
Muita coisa? Sim é verdade, no total isso correspondia a cerca de 6 kgs., mas esse excesso é fruto de ser “maçarico”, a inexperiência paga-se, e eu paguei com o corpo, porque andei sempre muito carregado, comparativamente a outros atletas que praticamente levavam em minúsculas mochila apenas o que era obrigatório, alguns dos quais era suspeito se estariam a cumprir o regulamento, aliás, momentos antes da partida, durante o controlo aleatório para verificação do equipamento, verificou-se que alguns atletas foram surpreendido sem o frontal, obrigando-os a organização a se regularizarem.
A PROVAChegado ao local da partida, já lá se encontravam muitos ansiosos. Alguma agitação e muito nervosismo. De repente, fui surpreendido com a ordem de partida e a grande maioria, onde eu me incluo, começou a andar, isto porque a prova começa logo a subir.
A temperatura estava agradável, mas com nevoeiro.
Os primeiros 10 kms possuem algumas partes técnicas de relativa dificuldade, e que se foi fazendo devagar. Esta é fase do aquecimento, e da adaptação ao meio, é também o momento onde se trocam palavras com outros atletas. Tempo ainda para ir tirando umas fotografias.
Um pouco mais à frente procuro enquadrar-me no ritmo e encontrar alguém que me pudesse ajudar a fazer a prova. Encontro dois atletas com os quais travo conhecimento, conversamos um pouco e andamos uns 4 kms juntos, mas rapidamente percebi que aquele ritmo era demasiado lento e portanto, deixei-os e segui em frente. Andei uns kms sozinho e passado algum tempo fui ultrapassado por um atleta, ao qual me “agarrei”. Segui-o por uns 4 kms, até ter parado para aliviar uma sensação de “pedra no sapato” que já tinha começado a atormentar-me. Retiro a sapatilha e nem uma pedra ou areia lá se encontrava. Coisa estranha. Continuei. Entretanto sou apanhado pelo grupo dos dois atletas que tinha inicialmente deixado. Rapidamente pensei que tinha de os deixar novamente e encontrar alguém com o meu ritmo, por isso uma vez mais afastei-me e continuei sozinho.
Mais uns kms sozinho e o incómodo no pé direito continuava.
Um pouco mais à frente encontro um grupo composto por três atletas, também estes do “Clube Millennium BCP”, pareciam-me coerentes no ritmo, por isso segui-os. Vítor Gomes, Eduardo Ferreira e Maria Gabriela Ribeiro eram os seus nomes, todos com uma enorme força de vontade e elevada resistência. Logo percebi que aquele grupo era muito inteligente e por isso julguei ter encontrado o “meu grupo” com quem poderia partilhar alguns kms.
Andámos vários kms até que fui obrigado a parar por causa do meu pé que continuava a incomodar-me e sem saber porquê. Desta vez retirei a meia e pude constatar que não era uma pedra que me atormentava, mas sim um enorme fole que ali tinha despontado. Fiquei preocupado pois estava apenas no início da prova e sabia que dali em diante aquela bolha iria dar-me muitas dores de cabeça, que é como quem diz, de pés. Quem já teve foles, sabe do que falo. Pude ainda constatar que tinha os pés todos engelhados e esbranquiçados, isto deveu-se ao facto de estar a correr com os pés molhados.
Outra curiosidade foi o facto da polaina do mesmo pé estar constantemente a abrir-se, obrigando-me por sucessivas vezes a fechá-la. Há ainda a realçar o facto de estar com os antebraços a doerem-me na zona do extensor radial longo. Tantos treinos que fiz e nunca me tinha aparecido uma única bolha, nem dor nos braços, nem sequer me tinha incomodado com as polainas. Daqui se pode inferir que: Por mais preparado que estejas, o inesperado espera-te!Entretanto chovia torrencialmente. Chegamos ao primeiro abastecimento de sólidos e líquidos ao kms 18, na zona do SkiParque (40º24’38,94’’ N; 07º28’5,93’’ W), tempo para vestir o impermeável, alimentar e abastecer de água. Depois de pronto, parti novamente atrás do grupo Millennium BCP. Não me podia permitir deixar fugir este grupo, porque desde o início percebi que eles sabiam gerir excepcionalmente bem o ritmo. Entre correr e caminhar lá se ia palmilhando terreno. Descobri com este grupo que não sei caminhar, cada vez que eles caminhavam eu ficava sempre para trás uns metros e eu só conseguia novamente alcançá-los dando um pequeno trote. Senti-me como a pequena e jovem cria que não consegue acompanhar a manada. Estão a ver o filme, não!?
No abastecimento seguinte, que deveria ser ao kms 32 (lugar de Azinha), verificamos que havia um atraso de 4 kms, estávamos portanto no km 36. Paramos um pouco para abastecer e metemo-nos novamente ao caminho.
Estava-me a sentir muito bem, mas a bolha dos pés estava cada vez mais a incomodar-me. Entretanto, chateado com o facto de estar constantemente a fechar a polaina, acabei por retirá-la, ficando apenas com a do pé esquerdo.
Continuamos e entretanto juntaram-se a nós mais dois atletas, o Tiago Dionísio e o Pedro Santos.
No km 60 (56 da organização), recebi o saco que tinha entregue na partida e aproveitei para trocar a roupa interior e o casaco, substitui também as meias e quando olho para os meus pés vejo que estes estão com as plantas todas brancas e a bolha estava enorme. Tinha também as sapatilhas cheias de pedrinhas e areia, o facto de andar com os pés molhados fez-me perder sensibilidade.
Neste posto de controlo apenas nos podíamos abastecer de água, contudo, vi toda a gente a receber comida externa, por essa razão, aproveitei e comi um pouco de aletria. Se a organização, o entender, que me desclassifique (lol).
Entretanto quando dou por mim já não via o meu grupo, estava claro que já tinham saído. Pensei que já seria difícil os recuperar, portanto, fiz-me à estrada e comecei a correr no seu encalço. Uns metros mais à frente o grupo seguia descontraído. Que bom não os ter perdido, pensei eu.
O próximo objectivo era passar pelas Penhas Douradas e chegar ao Cume, ou seja, ao km 71 (67 da organização), onde podíamos uma vez mais abastecer-nos, mas mais do que isso era atingir o ponto mais elevado da prova, 1854 metros de altitude. Sabíamos que dali em diante a prova seria muito difícil, pois esse troço tinha sido bem frisado no briefing, como sendo de extrema complexidade.
Continuamos portanto a nossa prova, sob um intenso nevoeiro, que já se fazia sentir desde manhã e alguma chuva que copiosamente teimava em não parar.
Chegamos ao posto de controlo nº 6 (Cume) por volta das 20 horas, esperava-nos o comandante da GNR de Montanha (Capitão Vítor Lima), que nos fez um breve briefing sobre aquilo que iríamos encontrar dali em diante, recordo-me bem das suas palavras: «vocês agora vão entrar na parte mais difícil da prova». Ele sabia bem o que estava a dizer, pois juntamente com a organização estiveram um dia inteiro para marcar apenas 8 kms.
Começamos a descida e a sentir a maior exigência técnica da prova. Seguíamos todos uns atrás dos outros: o Vítor à frente seguia-se o Eduardo e logo de seguida eu, atrás de mim vinha o Pedro, a Gabi e o Tiago.
A zona que estávamos a atravessar era de difícil acesso, onde não havia cobertura de rede e em que o resgate apenas seria possível de helicóptero. Se alguém tivesse o azar de lesionar-se naquele local podia ter a vida muito dificultada, passando de um estado de puro prazer a outro de sobrevivência. Se essa pessoa não seguisse em grupo, teria de esperar pelo atleta seguinte para ser avisado e voltar atrás, o que tornaria o processo lento, para além disso, havia que desencadear o processo de resgate, que naquelas condições não seria nada fácil, e o uso de helicóptero só seria possível se ainda fosse dia. Entretanto, a vítima poderia ter entrado em hipotermia e desfalecido. Alguns experientes da longa distância, consideraram uma grande irresponsabilidade fazer passar a prova naquele local, julgo que a hora em que a passagem nesse sítio estava a ser feita é que não foi a mais indicada. Fazer o percurso, por exemplo, em sentido inverso fazia toda a diferença.
Continuamos muito lentamente para não nos magoarmos, porém, o grupo foi-se fragmentando, dado que naquelas condições, os elementos tinham ritmos diferentes. Assim, o Vítor disparou, o Eduardo manteve-se um pouco afastado mas sempre atrás, e logo de seguida vinha eu, e o Pedro. O Tiago e a Maria mantiveram um ritmo mais lento e por isso foram-se afastando cada vez mais.
A minha bolha incomodava-me cada vez mais, sentia que esta estava repleta de líquido e no seu limite. Num certo momento, ao saltar um obstáculo calco uma pedra com o meu pé direito e a pressão foi tanta que a bolha acabou por rebentar. Naquele momento tive dores lancinantes, mas não podia parar, pois perdia o rasto ao Eduardo e portanto, fui coxeando um pouco até me habituar à dor.
Devido à chuva que não parava de cair, as pedras escorregavam, o nevoeiro era imenso, mal se conseguindo ver as bandeiras, e a noite estava bem próxima, o frio também não ajudava muito, pois o corpo, sobretudo as mãos, começavam a esfriar. Coloquei portanto as luvas e isso deu-me mais conforto. Cerca das 21 horas colocamos o frontal e apercebemo-nos, que, embora nos ajudasse ao perto, não nos permitia visualizar perfeitamente as bandeiras, daí que por vezes andámos um pouco desorientados à procura do caminho a seguir.
No início até estava a achar piada aquilo, até me ri algumas vezes, pois senti-me uma criança num parque de diversões, mas depois vi que a coisa era séria e comecei a saturar de estar sistematicamente naquele espaço a fazer a mesma coisa: ultrapassar obstáculos.
Um pouco mais à frente deparamo-nos com um rio que teríamos de atravessar caso quiséssemos continuar a prova. Procurei a melhor posição, entrei na água, tendo esta me submergindo as pernas até aos joelhos. Soubemos depois que uma rapariga se desequilibrou e caiu ao rio, tendo-se molhado completamente. Teve de recorrer à manta térmica e passou muito mal. Ao passar naquela água gelada o meu pé voltou a doer-me porque seguramente a água deve ter entrado dentro da bolha e ficou em contacto com a derme, uma espécie de álcool na ferida (lol). Porém, depois de continuar, verifiquei que a dor tinha aliviado ligeiramente. Continuei aliviando a pressão naquela zona do pé, apoiando este mais na sua zona externa. Sabia que aquela posição poderia levar-me a fazer uma entorse, mas tinha de aliviar as dores, portanto, assim continuei durante alguns kms, até que, pelo facto de estar a fazer esta compensação, comecei a ter dores na zona externa do pé. Estava claro que não podia continuar a suportar aquela postura durante muito tempo, corria o risco de me lesionar gravemente e arruinar a minha participação na prova. Prossegui durante mais alguns kms naqueles termos e depois fui gradualmente abandonando essa posição para passar a correr com toda a planta do pé assente no chão. Inicialmente doeu-me um pouco, mas fui-me adaptando e sobretudo, fui ignorando as dores.
Esta parte era de facto muito agreste, se tudo corresse bem, o tempo de corte para esta zona seria 00:30 horas, porém, dado que as condições climatéricas não eram boas, a GNR não permitiu a passagem além das 21 horas (não estou certo desta hora). Esta foi de facto uma decisão muito sensata.
Sete kms depois, ao km 77 (73 da organização) chegamos à localidade de Covão da Ametade (40º19’41,13’’ N; 07º35’12,77’’ W). Era totalmente noite. Abastecemos e esperamos uns minutos para saber notícias da Gabi e do Tiago que tinham ficado para trás e de quem nada sabíamos. Devido à demora acabamos por seguir os quatro em frente e palmilhamos 3 kms de asfalto sempre a subir. Ao fim Daquilo que julgamos ser os três kms ficamos desorientados devido à falta de sinalização. Vimos entretanto um grupo do nosso lado direito, mas sabíamos que deveríamos virar à esquerda, portanto só poderiam estar perdidos. Continuamos um pouco mais e lá encontramos a placa “Oh Meu Deus” que nos indicava que era ali a transição do asfalto para a terra.
Lá seguimos. O nevoeiro era muito e não conseguíamos visualizar as bandeiras, acresce a isto que a organização optou por colocar mais bandeiras de plástico em lugar de reflectoras. O curioso é que na parte diurna da prova a organização optou por colocar desnecessariamente bandeiras reflectoras, em vez de as poupar para o percurso que a maioria dos atletas iria fazer de noite. Para nós isso fez-nos perder muito tempo, mas para outros levou-os a perderem-se. A dada altura estávamos muito desorientados e não víamos uma bandeira que fosse, dispersámo-nos um pouco para alargar o campo de visão, mas nada. Neste meio tempo vimos ao longe um carro em marcha de urgência, liguei o meu frontal em modo SOS e este veio ter connosco. Era uma ambulância que vinha sinalizar aquele troço, dado que outros atletas eventualmente já teriam contactado a organização para se orientarem. Indicaram-nos o caminho e disseram-nos para seguir até encontrarmos uma nova ambulância. Assim foi, seguimos em frente e apanhamos uma estrada de terra batida. Continuamos em ritmo de marcha acelerada. Entretanto o Vítor distanciou-se de nós e seguia uns 100 metros à frente. As minhas pernas continuavam bem mas os meus pés doíam-me imenso. Sugeri que alternássemos entre marcha e corrida, porque sabia que correndo não sofria tanto dos pés. Isso revelou-se precioso para os meus pés, pois quando corria sentia um alívio enorme, tal situação sucede devido ao facto dos pés estarem mais tempo em contacto com o chão durante a marcha, do que na corrida em que estes mal o tocam. Neste momento, o Pedro também acusava dores num joelho, sobretudo quando corríamos.
Em dado momento, o Pedro como que num passe de mágica, diz: «tenho aqui umas amêndoas, alguém quer?» Ui! Ui! O que ele foi dizer, então não haveríamos de querer? Já há algum tempo que não comia nada salgado e portanto, aquele petisco soube-nos mesmo bem, desde logo a ver pela satisfação de todos enquanto roíamos. Até nos deu mais alento para continuar. O Vítor que já se tinha distanciado um bom bocado perdeu esta oportunidade única (lol).
Entretanto chegamos ao Alto da Portela ao kms 88 (84 da organização). Este ponto era de abastecimentos sólidos e líquidos, porém, apenas havia água. Por outro lado, disseram-nos que só faltavam 22 kms, mas pelas nossas contas não podia ser. Chegamos à conclusão que a distância mais provável seria 15 kms. Disseram-nos ainda que o caminho era bom e sempre a descer. Afirmação completamente errada. Por um lado, não foi sempre a descer e por outro, o terreno só no início é que era bom (tipo estradão), porque na verdadeira fase da descida, o piso era bastante irregular, o que obrigava a cuidados redobrados.
Então, nesses 15 kms finais apanhamos terra batida, onde se podia andar sem dificuldade, mas alguns kms à frente entramos numa zona com muita pedra solta o que nos dificultava o andamento, depois entramos numa zona de vegetação densa, onde nem sempre era fácil avistar as marcações do percurso, ainda assim, íamos progredindo. Finalmente começamos verdadeiramente a descer e entramos nos últimos kms. Víamos manteigas ao longe, totalmente iluminada. Por esta altura já o Vítor se tinha distanciado bastante, ele progride bem nos percursos técnicos e isso tornou-se evidente depois do Cume.
Neste momento, o frontal do Pedro quebra a luz por falta de pilhas, mas ele não queria perder tempo e portanto optou por não as substituir. Sugeri-lhe que andasse mais perto de nós, para se poder orientar melhor. O seu joelho começava a incomodá-lo bastante e deixou-se ficar ligeiramente para trás. Dado que ele se estava a afastar mais de nós, o Eduardo emprestou-lhe uma lanterna de mão para se poder deslocar com mais facilidade.
Seguimos em frente sempre a descer até que a dada altura estamos meios perdidos, não víamos nenhuma fita. Entretanto, lá a vejo e seguimo-la. Continuamos mais um pouco e novamente desorientados, aqui o Eduardo chama pelo Vítor e este que não estaria muito longe, grita: «é por aqui», percebemos logo por onde teríamos de passar.
Eu já estava farto daquela descida com um terreno totalmente irregular e ansiava por calcar alcatrão. Continuamos mais um pouco e finalmente uma estrada em paralelos, já estávamos em Manteigas, prosseguimos, e ao passarmos uma ponte estavam 2 pessoas que nos orientaram no resto do percurso, disseram-nos que dentro de 15 minutos cortávamos a meta, “Ainda!”, disse eu, é que 15 minutos são quase 3 kms. Continuamos e deparamo-nos com uma enorme subida em paralelo, era a “cereja no topo do bolo”, porque depois disso, chegamos a uma recta com uma ligeira subida onde finalmente cortei a meta com o Eduardo Ferreira, eram 3 horas da manhã e tínhamos andado naquela aventura durante 19 horas. 10 minutos depois aparece o Pedro, ele que também nunca tinha feito tamanha proeza, conseguiu terminar o “Oh Meu Deus”. Terminar esta prova, que sendo a primeira edição e seguramente se tornará mítica, foi um enorme prazer. Deu-me gozo do princípio ao fim. A chuva, o frio, o nevoeiro, todas as situações que deram origem a confusões, tudo o que correu menos bem fez parte da prova e nós conseguimos ultrapassar tudo isso.
Muita gente desistiu, uns porque devido às condições atmosféricas foram barrados no Cume, outros porque não suportaram a pressão do percurso, outros porque se perderam, outros ainda porque as condições climatéricas os obrigaram a abandonar, tendo mesmo alguns atletas entrado em hipotermia, enfim várias foram as razões, que não deixaram avançar estes atletas, podia-me ter acontecido a mim, mas quando empreendi o esforço de fazer esta distância pela primeira vez, apenas retive a ideia de nunca desistir. Quem me conhece sabe que sou muito obstinado e portanto eu tinha de acabar aquela prova.
Várias foram as pessoas que me perguntaram o que era mais difícil, se esta prova ou um Ironman. Bem, a resposta a esta pergunta é sempre individual e carregada de grande subjectividade, portanto, falando por mim, confesso que fico mais “destruído” nos Ironmans. Julgo que o facto de ter feito esta prova com alternância entre corrida e marcha, permitiu-me manter energia para continuar e diluir o esforço ao longo da prova. No “Oh Meu Deus”, fiquei com os pés desfeitos, mal conseguia andar depois de arrefecer e isso nunca me tinha acontecido em nenhum Ironman, não obstante, nestes, são as pernas que me deixam “empenado”.
Só vivenciando é que se sabe.
ESTA FOI UMA PROVA MUITO EXTENSA E NELA APRENDI MUITA COISA:- Aprendi que para terminar uma prova deste calibre, não é preciso treinar tanto como treinei. Pelas sondagens que fiz, há quem só treine 3 horas ao Sábado e 2 horas ao Domingo.
- Aprendi também que mais importante que o físico é a capacidade de ultrapassar psicologicamente os obstáculos.
- Aprendi que a caminhada tem tanta importância como a corrida, por isso lhe deve ser dada a devida atenção.
- Aprendi que nunca estás preparado para o que te propões fazer, como disse atrás, «Por mais preparado que estejas, o inesperado espera-te!»
- Por fim, aprendi que ainda há muita coisa por aprender neste mundo do trail
OS MEUS REPAROS À ORGANIZAÇÃO:Eu gostei da ousadia da organização em nos oferecer esta prova, felicito-a pela pontualidade do briefing e parabéns pela prontidão nas respostas aos meus e-mail, alguns dos quais muito chatos. Contudo, para uma melhor prova no futuro, atrevo-me a apontar algumas falhas:
- Falta de informação ou informação confusa nos diversos postos de controlo sobre os próximos postos (nomeadamente distâncias).
- Sinalização mal marcada. A partir do km 70 havia pouca sinalização de conforto.
- Sinalização pouco equilibrada: porquê bandeiras fluorescentes na parte de dia, quando faltaram à noite?
- Abastecimentos sólidos muito pobres. Quando alguém pede batata frita, a organização nunca pode dizer “acabou!”, isto não é aceitável numa prova desta dimensão.
- Ainda nos abastecimentos, poderiam ser fornecidos bebidas e alimentos quentes. A baixo custo podia servir-se um chá quente, e por exemplo uma sopa simples que poderia ser de batata passada.
- Por outro lado, a prova acaba depois de se cortar a meta, o que significa que termina aí a semi-autosuficiência, portanto, porque não uma banca com comida, essencialmente quente?
- Num próximo evento do género, se a organização quiser manter o mesmo percurso e fazer passar os atletas na zona para além do cume, julgo que será de todo conveniente colocar mais sinalização na zona e colocar meios humanos nas zonas mais técnicas para que possa rapidamente aceder a qualquer ocorrência. Dado que não há rede telefónica naquela zona, estas pessoas deveriam estar na posse de transmissores por radiofrequência.
- Outro pormenor, é a marcação exacta das distâncias que ficou aquém da realidade – psicologicamente desgasta.
- A organização deve ser sempre verdadeira nas afirmações. Sabemos que nenhum atleta fez todo o percurso a correr, pela simples razão de que é impossível fazê-lo, por conseguinte, não faz sentido publicitar que o percurso é todo ele “corrível”, quando na verdade sabemos que não é.
- Uma massagem no final da prova daria muito jeito para ajudar o início da recuperação.
UMA NOTA PARA TODOSTive a oportunidade de desfrutar dessa grande maravilha que é a Serra da Estrela, com paisagens lindíssimas e inesquecíveis, é pena que quando se fala da Serra apenas nos ocorre a Torre, conheço as duas coisas e garanto-vos que não existe comparação possível, mas infelizmente o turismo vende-se ao metro.
Da próxima vez que visitarem a Serra da Estrela, troquem a Torre por Manteigas e façam um percurso pedestre, a Serra tem 200 kms de percursos.
AGRADECIMENTOSQuero reiterar agradecimentos à Organização (Paulo Garcia e Sandra Costa) por ter tido a ousadia de nos prendar com esta prova, à GNR Montanha e de manteigas e aos bombeiros por terem feito um trabalho excepcional, aos escuteiros (que nunca vi), ao Carlos Fonseca e Telmo Veloso, por me terem esclarecido algumas dúvidas sobre o trail de longa distância, ao Canhola por se ter disponibilizado em me emprestar o seu GPS (a bateria aguentou a prova toda… que grande máquina), aos colegas que me acompanharam nos poucos treinos que fiz em conjunto, ao Vítor Gomes, Eduardo Ferreira, Maria Gabriela Ribeiro e Pedro Santos e Tiago Dionísio pela companhia e igualmente à Helena Barbosa.
No passado dia 30 de Abril estive em Manteigas (Serra da Estrela) para participar em mais uma aventura: a primeira edição do "Oh Meus Deus", uma ultramaratona de 102 kms. Deixo-vos pois os resultados, um relato da prova, algumas imagens e um vídeo.
"OH MEU DEUS"
Distância oficial: 102,362 kms
Distância reais: 104,5 kms
Acumulado positivo: 4125 metros
Altitude máxima: 1852 metros
RESULTADOS
Classificação geral: 24ª posição
Tempo: 19 horas e 07 min
Participantes: 71
Desistências: 24
FOTOS DA PROVA
"Oh Meu Deus" Trail Run 102 kms |
VÍDEO
Trail Run "Oh Meu Deus" por chuvavasco1971
RELATO
Não tinha previsto nenhum relato para esta prova, porque apesar de me estrear nesta distância, julguei que haveria pouco para contar, para além do comentário à paisagem, percurso, meteorologia e organização. Estava redondamente enganado.
Não poderei relatar a prova, sem antes fazer uma referência aos treinos que estiveram implicados.
A GÉNESEUm belo dia recebo um e-mail do meu amigo Nuno Sacramento que anexava informação sobre uma ultramaratona que se apelidava “Oh Meu Deus”. Rapidamente o título me chamou à atenção e logo fiquei fascinado com as características da prova, contudo, vários problema se levantavam, é que a mesma era uma corrida de trail, e, nunca tendo corrido em montanha, para mim era uma grande novidade. Outra dificuldade era o pouco tempo que teria para treinar, estávamos no início de Fevereiro o que me dava menos de três meses para a preparação. Se o primeiro aspecto a ultrapassar podia ser decidido por mim, pois bastava eu querer começar a correr em montanha e a coisa resolvia-se, já o segundo dependia de uma opinião mais madura, por isso, consultei algumas pessoas da área, mormente, o Telmo Veloso e o Carlos Fonseca, a primeira, disputa sempre os primeiros lugares neste tipo de provas, enquanto que o segundo tem uma vastíssima experiência em ultramaratonas. Ambos foram peremptórios em afirmar que era tempo mais que suficiente, isto porque já tinha alguma base (maratonas e Ironmans) que se constituía como uma mais valia na prossecução deste objectivo. Ambos me incentivaram a empreender esse esforço.
A PREPARAÇÃOTer apenas 3 meses para me preparar para esta prova era para mim, independentemente das diversas opiniões, pouco tempo, portanto, encarei a preparação como algo que deveria crescer lentamente, mas sem grande demoras, quer isto dizer, que comecei por me adaptar à situação de correr em montanha, para logo de seguida incorporar volume. E foi assim que aconteceu, as três primeiras semanas contemplaram treinos de hora e meia a duas horas, só depois comecei a treinar mais tempo, com oscilações entre as três e as seis horas. Fiz muito treinos de três e quatro horas, alguns de cinco e apenas um único de seis horas, este último, diga-se, foi o que me correu melhor. A regra foi simples: não seguir a regra (lol), de facto, apesar de ter consultado o plano de treinos do Carlos Fonseca e de aquele me ter permitido alguma orientação, acabei por seguir um treino mais ad hoc, mais meu, sem preocupações de maior, centrado unicamente no volume de três treinos de corrida por semana, raramente quatro, complementados com 2 treinos semanais de trabalho de força para reforço muscular.
Os longos períodos de treinos, quase exclusivamente em modo solitário, foram muito desgastantes. É muito tempo a correr sozinho, sem ver ninguém, rodeado de árvores e sem tirar os olhos do chão. Costumo dizer que o trail é pior que natação em que o nadador só vê azulejos, mas com a vantagem de nunca cair, porque se cair será seguramente dentro de água (lol).
Algumas provas aliviavam a tensão e permitiam-me realizar treinos em ambiente competitivo, daí ter participado no Castelejo-Alvados (21 kms), Sicó (30 kms) e Trilhos de Almourol (39 kms).
Uma constante em todos os treinos foi uma dor que surgia sistematicamente na planta do meu pé esquerdo (zona carnuda próxima dos dedos). O Problema de pé cavo contribuiu para um total desconforto nos treinos, provocando uma dor, que por vezes se tornava lancinante, sobretudo quando pisava alguma pedra com aquela zona do pé. Fiz de tudo para contornar esse problema, desde ter experimentado todo o tipo de palmilhas, feito experiências com almofadinhas protectoras, consulta em podologista (Doutorpé), mas nunca nada resultou. Sabia que teria de suportar esse incómodo durante a prova.
O MATERIALTomada a decisão de fazer a prova, logo me vi a pesquisar qual seria o melhor equipamento para correr em montanha. Eram tantas as marcas e modelos como dúvidas, mas após algumas opiniões comprei dois pares de sapatilhas, a saber, ASICS Gel Trabuco e Salomon XA Pro 3D Ultra. Dois bons pares, mas com características distintas. Obviamente que a escolha deve ser individual e portanto sempre subjectiva, mas podemos dizer que as Salomon são muito escorregadias (apesar da sola Contragrip) em piso molhado, sobretudo em pedra, aderindo muito bem no piso seco, por outro lado, tem uma sola mais fina do que as ASICS o que permite maior sensibilidade no terreno, mas o que parece um benefício pode revelar-se uma grande desvantagem, dado que ao fim de algumas horas, os pés tornam-se mais sensíveis e sofrem mais com terrenos irregulares ou com pisos pedregosos, sobretudo para quem tem problemas de pés, como é o meu caso. Já as ASICS são mais confortáveis, com uma sola mais mole do que as Salomon, que possui uma rigidez muito grande, talvez fruto do “3D Chassi”. Ainda assim, a rigidez da sola das Salomon permite uma maior estabilização do pé. Importa ainda realçar que as ASICS são ligeiramente menos robustas que as Salomon, isto faz-se notar sobretudo quando se tropeça em pedras. As Salomon absorvem mais o impacto magoando menos os dedos.
Podemos inferir que as Salomon são mais tipo bota, enquanto as ASICS seguem mais a Linha das sapatilhas convencionais.
Face ao meu problema nos pés (pé cavo), tive, durante os treinos e provas, a oportunidade de verificar a qual dos dois modelos me adaptava melhor. Se as Salomon me davam maior estabilidade, as ASICS doíam-me menos, acabei portanto por escolher estas.
CHEGADA A MANTEIGASCheguei a manteigas cerca das 20 horas, tendo-me instalado na pensão “Manel das Feijocas”, um sítio pacato gerido por uma pessoa simples e humilde, o Sr. Manel. Depois de arrumar o material no quarto, fui jantar ao “Vale do Zêzere”, onde acabaram por me fazer uma coisa especial: uma pratada de massa à carbonara, coberta com muito queijo e acompanhada de um belo bife de porco. No final estava cheio e satisfeito.
O BRIEFINGDepois de jantar fui directamente ao local onde iriam ser dadas as indicações da prova. Julguei encontrar um local repleto de animação com uma pequena feira de venda de material, mas a verdade é que me deparei com um local despido de tudo isso. Isso retirou algum alento à expectativa que tinha mentalmente criado. Comecei então a perceber que a organização estava a ser pouco apoiada.
Às 21:30 em ponto, a organização, na pessoa de Paulo Garcia, deu início ao briefing. Obrigado Paulo pela pontualidade. Poucos eram os presentes, talvez nem 20 atletas.
Não entrando em pormenores sobre o discurso proferido, o acento foi colocado na dureza da prova e no cômputo geral, apenas retenho esta ideia: Acredito que caso as inscrições fossem feitas depois do briefing, haveria seguramente menos inscrições, pois só faltou a organização dizer para não fazermos a prova. Isto não é evidentemente uma crítica, mas sim um elogio, porque de facto a prova era bastante difícil e desse modo eu já ia um pouco preparado para algo de muito complicado.
Findo o briefing, voltei ao quarto, para tentar aliviar a tensão e arrumar as coisas para a prova.
Algumas dúvidas me foram suscitadas, nomeadamente que equipamento levar, dado que o tempo era uma incerteza. As previsões indicavam chuva. Optei por organizar a mochila com uma camisola suplente, um impermeável, um corta-vento, um par de meias, luvas, “passa montanhas”, para além do material obrigatório: frontal, manta de sobrevivência, telemóvel com bateria carregada, apito, stick luminoso, comida com o mínimo de 2500 Cal e 3 litros de bebida isotónica (o mínimo exigido era 1,5 lts.). Para além disto levei outro material opcional, como é o caso de uma nota de 20 euros (para despesas inesperadas), máquina fotográfica, pilhas suplentes para o frontal, bateria suplente para o telemóvel, um canivete multiuso, vaselina e creme antifricção, bússola, 3 ligaduras elásticas, adesivo, 1 compressa, 4 pensos. Organizei ainda um saco com uma muda de roupa que entreguei à organização que levaria para o km 56 (Observatório), local onde seria permitido a troca de roupa.
Muita coisa? Sim é verdade, no total isso correspondia a cerca de 6 kgs., mas esse excesso é fruto de ser “maçarico”, a inexperiência paga-se, e eu paguei com o corpo, porque andei sempre muito carregado, comparativamente a outros atletas que praticamente levavam em minúsculas mochila apenas o que era obrigatório, alguns dos quais era suspeito se estariam a cumprir o regulamento, aliás, momentos antes da partida, durante o controlo aleatório para verificação do equipamento, verificou-se que alguns atletas foram surpreendido sem o frontal, obrigando-os a organização a se regularizarem.
A PROVAChegado ao local da partida, já lá se encontravam muitos ansiosos. Alguma agitação e muito nervosismo. De repente, fui surpreendido com a ordem de partida e a grande maioria, onde eu me incluo, começou a andar, isto porque a prova começa logo a subir.
A temperatura estava agradável, mas com nevoeiro.
Os primeiros 10 kms possuem algumas partes técnicas de relativa dificuldade, e que se foi fazendo devagar. Esta é fase do aquecimento, e da adaptação ao meio, é também o momento onde se trocam palavras com outros atletas. Tempo ainda para ir tirando umas fotografias.
Um pouco mais à frente procuro enquadrar-me no ritmo e encontrar alguém que me pudesse ajudar a fazer a prova. Encontro dois atletas com os quais travo conhecimento, conversamos um pouco e andamos uns 4 kms juntos, mas rapidamente percebi que aquele ritmo era demasiado lento e portanto, deixei-os e segui em frente. Andei uns kms sozinho e passado algum tempo fui ultrapassado por um atleta, ao qual me “agarrei”. Segui-o por uns 4 kms, até ter parado para aliviar uma sensação de “pedra no sapato” que já tinha começado a atormentar-me. Retiro a sapatilha e nem uma pedra ou areia lá se encontrava. Coisa estranha. Continuei. Entretanto sou apanhado pelo grupo dos dois atletas que tinha inicialmente deixado. Rapidamente pensei que tinha de os deixar novamente e encontrar alguém com o meu ritmo, por isso uma vez mais afastei-me e continuei sozinho.
Mais uns kms sozinho e o incómodo no pé direito continuava.
Um pouco mais à frente encontro um grupo composto por três atletas, também estes do “Clube Millennium BCP”, pareciam-me coerentes no ritmo, por isso segui-os. Vítor Gomes, Eduardo Ferreira e Maria Gabriela Ribeiro eram os seus nomes, todos com uma enorme força de vontade e elevada resistência. Logo percebi que aquele grupo era muito inteligente e por isso julguei ter encontrado o “meu grupo” com quem poderia partilhar alguns kms.
Andámos vários kms até que fui obrigado a parar por causa do meu pé que continuava a incomodar-me e sem saber porquê. Desta vez retirei a meia e pude constatar que não era uma pedra que me atormentava, mas sim um enorme fole que ali tinha despontado. Fiquei preocupado pois estava apenas no início da prova e sabia que dali em diante aquela bolha iria dar-me muitas dores de cabeça, que é como quem diz, de pés. Quem já teve foles, sabe do que falo. Pude ainda constatar que tinha os pés todos engelhados e esbranquiçados, isto deveu-se ao facto de estar a correr com os pés molhados.
Outra curiosidade foi o facto da polaina do mesmo pé estar constantemente a abrir-se, obrigando-me por sucessivas vezes a fechá-la. Há ainda a realçar o facto de estar com os antebraços a doerem-me na zona do extensor radial longo. Tantos treinos que fiz e nunca me tinha aparecido uma única bolha, nem dor nos braços, nem sequer me tinha incomodado com as polainas. Daqui se pode inferir que: Por mais preparado que estejas, o inesperado espera-te!Entretanto chovia torrencialmente. Chegamos ao primeiro abastecimento de sólidos e líquidos ao kms 18, na zona do SkiParque (40º24’38,94’’ N; 07º28’5,93’’ W), tempo para vestir o impermeável, alimentar e abastecer de água. Depois de pronto, parti novamente atrás do grupo Millennium BCP. Não me podia permitir deixar fugir este grupo, porque desde o início percebi que eles sabiam gerir excepcionalmente bem o ritmo. Entre correr e caminhar lá se ia palmilhando terreno. Descobri com este grupo que não sei caminhar, cada vez que eles caminhavam eu ficava sempre para trás uns metros e eu só conseguia novamente alcançá-los dando um pequeno trote. Senti-me como a pequena e jovem cria que não consegue acompanhar a manada. Estão a ver o filme, não!?
No abastecimento seguinte, que deveria ser ao kms 32 (lugar de Azinha), verificamos que havia um atraso de 4 kms, estávamos portanto no km 36. Paramos um pouco para abastecer e metemo-nos novamente ao caminho.
Estava-me a sentir muito bem, mas a bolha dos pés estava cada vez mais a incomodar-me. Entretanto, chateado com o facto de estar constantemente a fechar a polaina, acabei por retirá-la, ficando apenas com a do pé esquerdo.
Continuamos e entretanto juntaram-se a nós mais dois atletas, o Tiago Dionísio e o Pedro Santos.
No km 60 (56 da organização), recebi o saco que tinha entregue na partida e aproveitei para trocar a roupa interior e o casaco, substitui também as meias e quando olho para os meus pés vejo que estes estão com as plantas todas brancas e a bolha estava enorme. Tinha também as sapatilhas cheias de pedrinhas e areia, o facto de andar com os pés molhados fez-me perder sensibilidade.
Neste posto de controlo apenas nos podíamos abastecer de água, contudo, vi toda a gente a receber comida externa, por essa razão, aproveitei e comi um pouco de aletria. Se a organização, o entender, que me desclassifique (lol).
Entretanto quando dou por mim já não via o meu grupo, estava claro que já tinham saído. Pensei que já seria difícil os recuperar, portanto, fiz-me à estrada e comecei a correr no seu encalço. Uns metros mais à frente o grupo seguia descontraído. Que bom não os ter perdido, pensei eu.
O próximo objectivo era passar pelas Penhas Douradas e chegar ao Cume, ou seja, ao km 71 (67 da organização), onde podíamos uma vez mais abastecer-nos, mas mais do que isso era atingir o ponto mais elevado da prova, 1854 metros de altitude. Sabíamos que dali em diante a prova seria muito difícil, pois esse troço tinha sido bem frisado no briefing, como sendo de extrema complexidade.
Continuamos portanto a nossa prova, sob um intenso nevoeiro, que já se fazia sentir desde manhã e alguma chuva que copiosamente teimava em não parar.
Chegamos ao posto de controlo nº 6 (Cume) por volta das 20 horas, esperava-nos o comandante da GNR de Montanha (Capitão Vítor Lima), que nos fez um breve briefing sobre aquilo que iríamos encontrar dali em diante, recordo-me bem das suas palavras: «vocês agora vão entrar na parte mais difícil da prova». Ele sabia bem o que estava a dizer, pois juntamente com a organização estiveram um dia inteiro para marcar apenas 8 kms.
Começamos a descida e a sentir a maior exigência técnica da prova. Seguíamos todos uns atrás dos outros: o Vítor à frente seguia-se o Eduardo e logo de seguida eu, atrás de mim vinha o Pedro, a Gabi e o Tiago.
A zona que estávamos a atravessar era de difícil acesso, onde não havia cobertura de rede e em que o resgate apenas seria possível de helicóptero. Se alguém tivesse o azar de lesionar-se naquele local podia ter a vida muito dificultada, passando de um estado de puro prazer a outro de sobrevivência. Se essa pessoa não seguisse em grupo, teria de esperar pelo atleta seguinte para ser avisado e voltar atrás, o que tornaria o processo lento, para além disso, havia que desencadear o processo de resgate, que naquelas condições não seria nada fácil, e o uso de helicóptero só seria possível se ainda fosse dia. Entretanto, a vítima poderia ter entrado em hipotermia e desfalecido. Alguns experientes da longa distância, consideraram uma grande irresponsabilidade fazer passar a prova naquele local, julgo que a hora em que a passagem nesse sítio estava a ser feita é que não foi a mais indicada. Fazer o percurso, por exemplo, em sentido inverso fazia toda a diferença.
Continuamos muito lentamente para não nos magoarmos, porém, o grupo foi-se fragmentando, dado que naquelas condições, os elementos tinham ritmos diferentes. Assim, o Vítor disparou, o Eduardo manteve-se um pouco afastado mas sempre atrás, e logo de seguida vinha eu, e o Pedro. O Tiago e a Maria mantiveram um ritmo mais lento e por isso foram-se afastando cada vez mais.
A minha bolha incomodava-me cada vez mais, sentia que esta estava repleta de líquido e no seu limite. Num certo momento, ao saltar um obstáculo calco uma pedra com o meu pé direito e a pressão foi tanta que a bolha acabou por rebentar. Naquele momento tive dores lancinantes, mas não podia parar, pois perdia o rasto ao Eduardo e portanto, fui coxeando um pouco até me habituar à dor.
Devido à chuva que não parava de cair, as pedras escorregavam, o nevoeiro era imenso, mal se conseguindo ver as bandeiras, e a noite estava bem próxima, o frio também não ajudava muito, pois o corpo, sobretudo as mãos, começavam a esfriar. Coloquei portanto as luvas e isso deu-me mais conforto. Cerca das 21 horas colocamos o frontal e apercebemo-nos, que, embora nos ajudasse ao perto, não nos permitia visualizar perfeitamente as bandeiras, daí que por vezes andámos um pouco desorientados à procura do caminho a seguir.
No início até estava a achar piada aquilo, até me ri algumas vezes, pois senti-me uma criança num parque de diversões, mas depois vi que a coisa era séria e comecei a saturar de estar sistematicamente naquele espaço a fazer a mesma coisa: ultrapassar obstáculos.
Um pouco mais à frente deparamo-nos com um rio que teríamos de atravessar caso quiséssemos continuar a prova. Procurei a melhor posição, entrei na água, tendo esta me submergindo as pernas até aos joelhos. Soubemos depois que uma rapariga se desequilibrou e caiu ao rio, tendo-se molhado completamente. Teve de recorrer à manta térmica e passou muito mal. Ao passar naquela água gelada o meu pé voltou a doer-me porque seguramente a água deve ter entrado dentro da bolha e ficou em contacto com a derme, uma espécie de álcool na ferida (lol). Porém, depois de continuar, verifiquei que a dor tinha aliviado ligeiramente. Continuei aliviando a pressão naquela zona do pé, apoiando este mais na sua zona externa. Sabia que aquela posição poderia levar-me a fazer uma entorse, mas tinha de aliviar as dores, portanto, assim continuei durante alguns kms, até que, pelo facto de estar a fazer esta compensação, comecei a ter dores na zona externa do pé. Estava claro que não podia continuar a suportar aquela postura durante muito tempo, corria o risco de me lesionar gravemente e arruinar a minha participação na prova. Prossegui durante mais alguns kms naqueles termos e depois fui gradualmente abandonando essa posição para passar a correr com toda a planta do pé assente no chão. Inicialmente doeu-me um pouco, mas fui-me adaptando e sobretudo, fui ignorando as dores.
Esta parte era de facto muito agreste, se tudo corresse bem, o tempo de corte para esta zona seria 00:30 horas, porém, dado que as condições climatéricas não eram boas, a GNR não permitiu a passagem além das 21 horas (não estou certo desta hora). Esta foi de facto uma decisão muito sensata.
Sete kms depois, ao km 77 (73 da organização) chegamos à localidade de Covão da Ametade (40º19’41,13’’ N; 07º35’12,77’’ W). Era totalmente noite. Abastecemos e esperamos uns minutos para saber notícias da Gabi e do Tiago que tinham ficado para trás e de quem nada sabíamos. Devido à demora acabamos por seguir os quatro em frente e palmilhamos 3 kms de asfalto sempre a subir. Ao fim Daquilo que julgamos ser os três kms ficamos desorientados devido à falta de sinalização. Vimos entretanto um grupo do nosso lado direito, mas sabíamos que deveríamos virar à esquerda, portanto só poderiam estar perdidos. Continuamos um pouco mais e lá encontramos a placa “Oh Meu Deus” que nos indicava que era ali a transição do asfalto para a terra.
Lá seguimos. O nevoeiro era muito e não conseguíamos visualizar as bandeiras, acresce a isto que a organização optou por colocar mais bandeiras de plástico em lugar de reflectoras. O curioso é que na parte diurna da prova a organização optou por colocar desnecessariamente bandeiras reflectoras, em vez de as poupar para o percurso que a maioria dos atletas iria fazer de noite. Para nós isso fez-nos perder muito tempo, mas para outros levou-os a perderem-se. A dada altura estávamos muito desorientados e não víamos uma bandeira que fosse, dispersámo-nos um pouco para alargar o campo de visão, mas nada. Neste meio tempo vimos ao longe um carro em marcha de urgência, liguei o meu frontal em modo SOS e este veio ter connosco. Era uma ambulância que vinha sinalizar aquele troço, dado que outros atletas eventualmente já teriam contactado a organização para se orientarem. Indicaram-nos o caminho e disseram-nos para seguir até encontrarmos uma nova ambulância. Assim foi, seguimos em frente e apanhamos uma estrada de terra batida. Continuamos em ritmo de marcha acelerada. Entretanto o Vítor distanciou-se de nós e seguia uns 100 metros à frente. As minhas pernas continuavam bem mas os meus pés doíam-me imenso. Sugeri que alternássemos entre marcha e corrida, porque sabia que correndo não sofria tanto dos pés. Isso revelou-se precioso para os meus pés, pois quando corria sentia um alívio enorme, tal situação sucede devido ao facto dos pés estarem mais tempo em contacto com o chão durante a marcha, do que na corrida em que estes mal o tocam. Neste momento, o Pedro também acusava dores num joelho, sobretudo quando corríamos.
Em dado momento, o Pedro como que num passe de mágica, diz: «tenho aqui umas amêndoas, alguém quer?» Ui! Ui! O que ele foi dizer, então não haveríamos de querer? Já há algum tempo que não comia nada salgado e portanto, aquele petisco soube-nos mesmo bem, desde logo a ver pela satisfação de todos enquanto roíamos. Até nos deu mais alento para continuar. O Vítor que já se tinha distanciado um bom bocado perdeu esta oportunidade única (lol).
Entretanto chegamos ao Alto da Portela ao kms 88 (84 da organização). Este ponto era de abastecimentos sólidos e líquidos, porém, apenas havia água. Por outro lado, disseram-nos que só faltavam 22 kms, mas pelas nossas contas não podia ser. Chegamos à conclusão que a distância mais provável seria 15 kms. Disseram-nos ainda que o caminho era bom e sempre a descer. Afirmação completamente errada. Por um lado, não foi sempre a descer e por outro, o terreno só no início é que era bom (tipo estradão), porque na verdadeira fase da descida, o piso era bastante irregular, o que obrigava a cuidados redobrados.
Então, nesses 15 kms finais apanhamos terra batida, onde se podia andar sem dificuldade, mas alguns kms à frente entramos numa zona com muita pedra solta o que nos dificultava o andamento, depois entramos numa zona de vegetação densa, onde nem sempre era fácil avistar as marcações do percurso, ainda assim, íamos progredindo. Finalmente começamos verdadeiramente a descer e entramos nos últimos kms. Víamos manteigas ao longe, totalmente iluminada. Por esta altura já o Vítor se tinha distanciado bastante, ele progride bem nos percursos técnicos e isso tornou-se evidente depois do Cume.
Neste momento, o frontal do Pedro quebra a luz por falta de pilhas, mas ele não queria perder tempo e portanto optou por não as substituir. Sugeri-lhe que andasse mais perto de nós, para se poder orientar melhor. O seu joelho começava a incomodá-lo bastante e deixou-se ficar ligeiramente para trás. Dado que ele se estava a afastar mais de nós, o Eduardo emprestou-lhe uma lanterna de mão para se poder deslocar com mais facilidade.
Seguimos em frente sempre a descer até que a dada altura estamos meios perdidos, não víamos nenhuma fita. Entretanto, lá a vejo e seguimo-la. Continuamos mais um pouco e novamente desorientados, aqui o Eduardo chama pelo Vítor e este que não estaria muito longe, grita: «é por aqui», percebemos logo por onde teríamos de passar.
Eu já estava farto daquela descida com um terreno totalmente irregular e ansiava por calcar alcatrão. Continuamos mais um pouco e finalmente uma estrada em paralelos, já estávamos em Manteigas, prosseguimos, e ao passarmos uma ponte estavam 2 pessoas que nos orientaram no resto do percurso, disseram-nos que dentro de 15 minutos cortávamos a meta, “Ainda!”, disse eu, é que 15 minutos são quase 3 kms. Continuamos e deparamo-nos com uma enorme subida em paralelo, era a “cereja no topo do bolo”, porque depois disso, chegamos a uma recta com uma ligeira subida onde finalmente cortei a meta com o Eduardo Ferreira, eram 3 horas da manhã e tínhamos andado naquela aventura durante 19 horas. 10 minutos depois aparece o Pedro, ele que também nunca tinha feito tamanha proeza, conseguiu terminar o “Oh Meu Deus”. Terminar esta prova, que sendo a primeira edição e seguramente se tornará mítica, foi um enorme prazer. Deu-me gozo do princípio ao fim. A chuva, o frio, o nevoeiro, todas as situações que deram origem a confusões, tudo o que correu menos bem fez parte da prova e nós conseguimos ultrapassar tudo isso.
Muita gente desistiu, uns porque devido às condições atmosféricas foram barrados no Cume, outros porque não suportaram a pressão do percurso, outros porque se perderam, outros ainda porque as condições climatéricas os obrigaram a abandonar, tendo mesmo alguns atletas entrado em hipotermia, enfim várias foram as razões, que não deixaram avançar estes atletas, podia-me ter acontecido a mim, mas quando empreendi o esforço de fazer esta distância pela primeira vez, apenas retive a ideia de nunca desistir. Quem me conhece sabe que sou muito obstinado e portanto eu tinha de acabar aquela prova.
Várias foram as pessoas que me perguntaram o que era mais difícil, se esta prova ou um Ironman. Bem, a resposta a esta pergunta é sempre individual e carregada de grande subjectividade, portanto, falando por mim, confesso que fico mais “destruído” nos Ironmans. Julgo que o facto de ter feito esta prova com alternância entre corrida e marcha, permitiu-me manter energia para continuar e diluir o esforço ao longo da prova. No “Oh Meu Deus”, fiquei com os pés desfeitos, mal conseguia andar depois de arrefecer e isso nunca me tinha acontecido em nenhum Ironman, não obstante, nestes, são as pernas que me deixam “empenado”.
Só vivenciando é que se sabe.
ESTA FOI UMA PROVA MUITO EXTENSA E NELA APRENDI MUITA COISA:- Aprendi que para terminar uma prova deste calibre, não é preciso treinar tanto como treinei. Pelas sondagens que fiz, há quem só treine 3 horas ao Sábado e 2 horas ao Domingo.
- Aprendi também que mais importante que o físico é a capacidade de ultrapassar psicologicamente os obstáculos.
- Aprendi que a caminhada tem tanta importância como a corrida, por isso lhe deve ser dada a devida atenção.
- Aprendi que nunca estás preparado para o que te propões fazer, como disse atrás, «Por mais preparado que estejas, o inesperado espera-te!»
- Por fim, aprendi que ainda há muita coisa por aprender neste mundo do trail
OS MEUS REPAROS À ORGANIZAÇÃO:Eu gostei da ousadia da organização em nos oferecer esta prova, felicito-a pela pontualidade do briefing e parabéns pela prontidão nas respostas aos meus e-mail, alguns dos quais muito chatos. Contudo, para uma melhor prova no futuro, atrevo-me a apontar algumas falhas:
- Falta de informação ou informação confusa nos diversos postos de controlo sobre os próximos postos (nomeadamente distâncias).
- Sinalização mal marcada. A partir do km 70 havia pouca sinalização de conforto.
- Sinalização pouco equilibrada: porquê bandeiras fluorescentes na parte de dia, quando faltaram à noite?
- Abastecimentos sólidos muito pobres. Quando alguém pede batata frita, a organização nunca pode dizer “acabou!”, isto não é aceitável numa prova desta dimensão.
- Ainda nos abastecimentos, poderiam ser fornecidos bebidas e alimentos quentes. A baixo custo podia servir-se um chá quente, e por exemplo uma sopa simples que poderia ser de batata passada.
- Por outro lado, a prova acaba depois de se cortar a meta, o que significa que termina aí a semi-autosuficiência, portanto, porque não uma banca com comida, essencialmente quente?
- Num próximo evento do género, se a organização quiser manter o mesmo percurso e fazer passar os atletas na zona para além do cume, julgo que será de todo conveniente colocar mais sinalização na zona e colocar meios humanos nas zonas mais técnicas para que possa rapidamente aceder a qualquer ocorrência. Dado que não há rede telefónica naquela zona, estas pessoas deveriam estar na posse de transmissores por radiofrequência.
- Outro pormenor, é a marcação exacta das distâncias que ficou aquém da realidade – psicologicamente desgasta.
- A organização deve ser sempre verdadeira nas afirmações. Sabemos que nenhum atleta fez todo o percurso a correr, pela simples razão de que é impossível fazê-lo, por conseguinte, não faz sentido publicitar que o percurso é todo ele “corrível”, quando na verdade sabemos que não é.
- Uma massagem no final da prova daria muito jeito para ajudar o início da recuperação.
UMA NOTA PARA TODOSTive a oportunidade de desfrutar dessa grande maravilha que é a Serra da Estrela, com paisagens lindíssimas e inesquecíveis, é pena que quando se fala da Serra apenas nos ocorre a Torre, conheço as duas coisas e garanto-vos que não existe comparação possível, mas infelizmente o turismo vende-se ao metro.
Da próxima vez que visitarem a Serra da Estrela, troquem a Torre por Manteigas e façam um percurso pedestre, a Serra tem 200 kms de percursos.
AGRADECIMENTOSQuero reiterar agradecimentos à Organização (Paulo Garcia e Sandra Costa) por ter tido a ousadia de nos prendar com esta prova, à GNR Montanha e de manteigas e aos bombeiros por terem feito um trabalho excepcional, aos escuteiros (que nunca vi), ao Carlos Fonseca e Telmo Veloso, por me terem esclarecido algumas dúvidas sobre o trail de longa distância, ao Canhola por se ter disponibilizado em me emprestar o seu GPS (a bateria aguentou a prova toda… que grande máquina), aos colegas que me acompanharam nos poucos treinos que fiz em conjunto, ao Vítor Gomes, Eduardo Ferreira, Maria Gabriela Ribeiro e Pedro Santos e Tiago Dionísio pela companhia e igualmente à Helena Barbosa.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
REPORTAGEM "OHMEU DEUS"
Eis a reportagem da prova "Oh Meu Deus", realizada por uma televisão local (Localvisão TV). O conteúdo da mesma não define as características da prova, ainda assim, é um contributo.
Se não conseguirem visualizar o vídeo, clique aqui
Também poderão encontrar as fotos da organização aqui
Brevemente o meu relato com texto, imagens e vídeo.
Se não conseguirem visualizar o vídeo, clique aqui
Também poderão encontrar as fotos da organização aqui
Brevemente o meu relato com texto, imagens e vídeo.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
"OH MEU DEUS", UMA PROVA COM 3 DIGITOS
"Ultra é um pouco de orgulho e muita humildade"
in regulamento UTMB
É já no próximo Sábado que se realiza a primeira edição do "Oh Meu Deus", Ultramaratona na Serra da Estrela.
"Oh Meu Deus", é a única prova em Portugal a pontuar 3 pontos para o UTMB (Ultra Trail do Mont-Blanc). A partir deste momento, juntando os 2 pontos do Ultra Trail da Serra da Freita, já não é necessário sair do país para participar no UTMB, que obriga a um mínimo de 5 pontos.
À organização os parabéns por levar a cabo tamanha proeza e a todos os participantes desejo uma boa prova.
DADOS DA PROVA
- Local: manteigas (partida e chegada)
- Data: 30 de Abril 2011
- Hora: 08:00 h
- Distância: 102,362 kms
- Acumulado positivo: 4125
- Declive máximo: 30,1% / -29,5%
- Declive médio: 8,4% / -6,8%
- Elevação (min, méd, max): 565 m, 1179 m, 1852 m)
- Tipo de prova: trail em semi auto-suficiência
- Equipamento obrigatório: telemóvel com bateria carregada; mochila com reservatório de água com capacidade mínima de 1 litro; uma manta de sobrevivência; Apito (fornecido pela organização); 1 recipiente com um mínimo de 15 cl; casaco corta-vento ou impermeável para enfrentar a chuva ou temperaturas mais baixas; frontal com outro conjunto de pilhas; stick luminoso (fornecido pela organização); comida com o mínimo de 2.500 Cal.
- Equipamento recomendado: consultar o site do evento
- Postos de controlo:
À organização os parabéns por levar a cabo tamanha proeza e a todos os participantes desejo uma boa prova.
DADOS DA PROVA
- Local: manteigas (partida e chegada)
- Data: 30 de Abril 2011
- Hora: 08:00 h
- Distância: 102,362 kms
- Acumulado positivo: 4125
- Declive máximo: 30,1% / -29,5%
- Declive médio: 8,4% / -6,8%
- Elevação (min, méd, max): 565 m, 1179 m, 1852 m)
- Tipo de prova: trail em semi auto-suficiência
- Equipamento obrigatório: telemóvel com bateria carregada; mochila com reservatório de água com capacidade mínima de 1 litro; uma manta de sobrevivência; Apito (fornecido pela organização); 1 recipiente com um mínimo de 15 cl; casaco corta-vento ou impermeável para enfrentar a chuva ou temperaturas mais baixas; frontal com outro conjunto de pilhas; stick luminoso (fornecido pela organização); comida com o mínimo de 2.500 Cal.
- Equipamento recomendado: consultar o site do evento
- Postos de controlo:
- Tempos de corte:
- Nº de inscritos (até 27.04): 81 (74 homens e 7 mulheres)
- Duração máxima da corrida: 24 horas
- Prémios: não existem prémios em dinheiro. Todos os atletas terão uma recordação do feito.
- Percurso: para aceder ao percurso através, descarregue este ficheiro e abra-o com o Google Heart. Em alternativa cole o seguinte link na caixa de pesquisa do Google Map: http://www.ohmeudeus.com/trailrun/ultra_102km.kml
terça-feira, 19 de abril de 2011
TRAILS DE ALMOUROL, SICÓ, ALVADOS
Na minha preparação para a Ultramaratona “Oh Meu Deus” estiveram envolvidos não só treinos, mas também algumas provas. Dado que oportunamente não tive disponibilidade para anunciar os resultados, deixo abaixo o registo das minhas três primeiras provas de trail em que participei (Trilho do Castelejo – 21 kms, Sicó – 30 kms, Trilhos de Almourol – 39 kms).
TRILHOS DE ALMOUROL – 3 de Abril de 2011
Uma prova relativamente técnica, com momentos rolantes. Paisagem interessante.
Também com a participação do figueirense José Maçarria.
Distância: 39 kms
Acumulado positivo: cerca de 1000 metros.
Participantes: 185
Tempo final: 04:39:28 horas
Resultado: 68º classificado
Resultado de José Maçarria: 155º classificado (05:35:49 horas)
II TRAIL DE CONÍMBRIGA TERRAS DE SICÓ – 27 de Fevereiro de 2011
Prova relativamente técnica, com uma bonita paisagem.
Também com a participação dos atletas: Abel Condesso, Nuno Gameiro, José Maçarria, Rui Oliveira, Ricardo Vieira, Paulo Vieira, Iete Gonçalves
Distância: 30 kms
Acumulado positivo: cerca de 1200 metros.
Participantes: 243
Tempo final: 03:12:05 horas
Resultado: 96º classificado
Resultado no escalão: 47º classificado
Resultado de Abel Condesso: 95º (46º) classificado (03:12:04 horas)
Resultado de Nuno Gameiro: 97º (48º) classificado (03:12:05 horas)
Resultado de José Maçarria: 118º (15º) classificado (03:18:02 horas)
Resultado de Ricardo Vieira: 156º (73º) classificado (03:30:52 horas)
Resultado de Paulo Vieira: 157º (21º) classificado (03:30:53 horas)
Resultado de Iete Gonçalves: 165º (3º) classificado (03:33:27 horas)
Resultado de Rui Oliveira: DNF – ao 20º kms fez uma entorse e não terminou a prova
TRAIL DOS ALVADOS-CASTELEJO
Prova muito técnica, com uma paisagem deslumbrante.
Distância: 21 kms
Acumulado positivo: cerca de 1000 metros.
Participantes: 114
Tempo final: 02:42:41 horas
Resultado: 40º classificado
Resultado no escalão: 20º classificado
Reportagem TVi sobre o Trail dos Alvados-Castelejo
(começa ao minuto 44)
TRILHOS DE ALMOUROL – 3 de Abril de 2011
Uma prova relativamente técnica, com momentos rolantes. Paisagem interessante.
Também com a participação do figueirense José Maçarria.
Distância: 39 kms
Acumulado positivo: cerca de 1000 metros.
Participantes: 185
Tempo final: 04:39:28 horas
Resultado: 68º classificado
Resultado de José Maçarria: 155º classificado (05:35:49 horas)
Trail de Almourol |
II TRAIL DE CONÍMBRIGA TERRAS DE SICÓ – 27 de Fevereiro de 2011
Prova relativamente técnica, com uma bonita paisagem.
Também com a participação dos atletas: Abel Condesso, Nuno Gameiro, José Maçarria, Rui Oliveira, Ricardo Vieira, Paulo Vieira, Iete Gonçalves
Distância: 30 kms
Acumulado positivo: cerca de 1200 metros.
Participantes: 243
Tempo final: 03:12:05 horas
Resultado: 96º classificado
Resultado no escalão: 47º classificado
Resultado de Abel Condesso: 95º (46º) classificado (03:12:04 horas)
Resultado de Nuno Gameiro: 97º (48º) classificado (03:12:05 horas)
Resultado de José Maçarria: 118º (15º) classificado (03:18:02 horas)
Resultado de Ricardo Vieira: 156º (73º) classificado (03:30:52 horas)
Resultado de Paulo Vieira: 157º (21º) classificado (03:30:53 horas)
Resultado de Iete Gonçalves: 165º (3º) classificado (03:33:27 horas)
Resultado de Rui Oliveira: DNF – ao 20º kms fez uma entorse e não terminou a prova
II TRAIL DE CONÍMBRIGA TERRAS DE SICÓ |
TRAIL DOS ALVADOS-CASTELEJO
Prova muito técnica, com uma paisagem deslumbrante.
Distância: 21 kms
Acumulado positivo: cerca de 1000 metros.
Participantes: 114
Tempo final: 02:42:41 horas
Resultado: 40º classificado
Resultado no escalão: 20º classificado
Reportagem TVi sobre o Trail dos Alvados-Castelejo
(começa ao minuto 44)
Trail Alvados-Castelejo |
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
OH MEU DEUS
Os objectivos para este ano passam por realizar uma ultramaratona e mais um ironman. Relativamente ao primeiro objectivo proponho-me realizar uma ultramaratona de 102 kms no nosso maior maciço montanhoso, a Serra da Estrela. Trata-se da primeira edição de uma prova que tem uma vertente "trail bike" e outra "trail run". Com partida em Manteigas, esta corrida tem a modalidade "maratona" de 50 kms e "ultramaratona" de 102 kms, esta última com tempo limite de 24 horas. A dificuldade torna-se evidente pelos seus 4125 metros de acumulado positivo, por se tratar de uma prova em semi auto-suficiência, bem assim como por parte do percurso não ter trilhos definidos, com passagem pelo mítico e protegido Vale Glaciar. Para além disso, quem prever fazer mais de 12 horas de prova (e.g. o meu caso) terá de correr de noite, o que adiciona dificuldade à prova. Pode consultar o regulamento aqui Site da prova aqui
Eu vou à UltraMaratona de corrida e tu?
Quem não se quiser aventurar nesta prova, pode sempre optar pelo passeio pedestre de 15 kms com 1000 metros de acumulado. Relativamente ao segundo objectivos, gostaria de voltar aos Alpes e concluir mais um Embrunman.
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