Juraj Jánošík, escultura, Janosik (Eslováquia)
Faz hoje um ano que participei no
Janosik Extreme Triathlon,
prova inserida no circuito dos ironman’s extreme. Na ocasião nada publiquei
sobre a minha prestação e resultados da mesma, na verdade, teve um sabor amargo.
Nunca até aquele dia eu tinha desistido numa prova, fosse
ela de remo, corrida, ou triatlo, mas pela primeira vez aconteceu.
Um ano depois vou tentar resumir a minha vivência em mais
uma fantástica prova.
Janosik começa à meia-noite e portanto, a natação e a
maioria do segmento de ciclismo são feitos de noite, o que de resto é muito
desafiante e esta foi uma das razões que me levou a alinhar nesta prova.
Natação
Entro na água, dá-se o tiro de partida e lá vou eu, nos
momentos iniciais alguma confusão, algum desconforto devido à visão reduzida,
mas engreno no meu ritmo. Entretanto, isolo-me, e levanto a cabeça, olho para a
frente e para trás e não vejo ninguém, não tinha qualquer noção da minha
posição, não conseguia ver nada, nem tampouco ouvia o bracejar dos outros
atletas. Isto deixou-me verdadeiramente confuso, porém, eu estava a manter o
percurso certo, e aquela sensação só se podia dever ao breu da noite.
Saio da água com 01:19h o que para mim é muito tempo, mas
ainda assim correspondeu a um 14º lugar. Assim que ponho os pés no chão e
começo a correr para o parque, dou uma valente topada no chão com um dedo,
agachei-me toquei no dedo e percebi logo que ali havia coisa. Desvalorizei no
momento, equipei-me, pego na bike e saio do parque.
Eu e Mister Conde no check-in
Ciclismo
Comecei a bike com algum cansaço, mesmo assim fui mantendo
sempre um ritmo razoável, o dedo estava quieto no sapato pelo que, embora a
doer, consegui ter algum conforto para pedalar. Este segmento não é de todo
fácil, desde logo porque se pedala de noite e existe redobrada atenção, mas
também porque existem muitas pendentes de 12% de inclinação e uma de 17%.
Tomo um brufen 600 que não teve qualquer impacto nas dores. Recupero
dois lugares e subo para 12º da geral, entro no parque de transição o Paulo
Conde (
Ironconde) que era o meu suporte na prova já lá estava à minha espera, e
começo a preparar-me para correr. Retiro o sapato e pela primeira vez olho para
o meu pé, tinha o dedo muito inchado, e claro, não o conseguia mexer. Tomo novo
Brufen 600.
A pergunta que se impôs naquele momento foi: como vou neste
estado correr 42 kms em trail? Calcei-me, e parti com o Mister Conde para 42
kms de trail.
2ª transição
Corrida
A partir daqui foi o massacre total. A coxear fui
palmilhando alguns kms em puro trail altamente agressivo. As dores obrigavam-me
a compensar com a outra perna. Ao km 15 tomo dois Tramadol. Para quem não está
habituado a medicação, estava a ter a sua boa dose de químicos.
Passados uns 20 minutos comecei a sentir tonturas, entretanto
normalizou e continuei.
Ao km 25 paro num posto de abastecimento e como coisas
estranhas, e bebo uma cola que parecia ter sido envenenada, ainda assim, na
falta de melhor, atestei o camelback. Na verdade teria sido preferível água
porque ainda hoje tenho aquele sabor na cabeça. Eu e o Mister Conde lá continuamos
e quando chego por volta do km 27, começo a sentir perder tudo, a sensação foi
tão semelhante à do “homem da marreta” que me convenci de que estava totalmente
vazio de tudo. Deixei de conseguir correr e só estava bem deitado de tão
exausto que me sentia.
Levantava-me e logo de seguida sentava-me, fui assim
durante algum tempo. Entretanto paro, e vomito tudo o que tinha no estômago,
ficámos uns minutos parados para ver se conseguia recuperar alguma coisa. Neste
tempo perdido fomos passados por alguns atletas, neste momento percebi logo que
a coisa não ia acabar muito bem.
Decido voltar a andar e começo a rejuvenescer, ter vomitado
aliviou-me imenso, e estava quase a sentir-me como novo, o que foi francamente
estranho. Afinal não tinha batido no muro! J
Nesta ocasião já o Mister Conde carregava a minha mochila o
que foi um grande alívio para mim. É nestes momentos que se percebe o porquê da
obrigatoriedade de apoio neste tipo de provas – Obrigado Mister. Mas também um
obrigado à Alexandra que deu sempre todo o apoio.
Continuamos, e só subíamos e descíamos. Escadas, correntes,
pendentes absurdas, uma doideira.
Estava desejoso de chegar ao km 32 e finalmente conseguimos.
Aqui havia um novo abastecimento onde eu esperava poder hidratar e comer,
todavia, qual não foi o meu espanto quando verifico que não conseguia ingerir
nada, o organismo estava a defender-se, mas de quê? O que se terá passado?
Porque vomitei? Tive uma paragem de digestão? Foi todo aquele cocktail de medicação
que tomei que me deixou naquele estado? Provavelmente terá sido um pouco de
tudo. Mas assustei-me porque não sabia se estava a sofrer um mal maior, uma
falência do rim ou fígado, situações não tão raras quanto se pode pensar.
Ao km 32 já levava 16 horas de prova, faltavam 8 kms para o
fim, e após conversa com o Mister decidimos abandonar a prova. Aqueles 8 kms iriam
consumir-me entre 2 a 3 horas para os fazer o que seria demasiado para o meu
estado de saúde periclitante. Não foi fácil desistir pela primeira vez numa
prova, mas foi sensato. Antes do prazer das provas prezo a minha saúde e esta é
a máxima a ter em conta sempre.
Informo a organização que vou desistir e que não consigo
regressar a pé, conversam entre eles e dizem que não têm lugar no jipe para
mim, indicam-me o caminho de regresso e lá fomos nós mais uns kms sempre a
descer em trail. Assistência péssima e muito longe de outras provas. Chego à
base peço apoio, entretanto vem uma ambulância, metem-me a soro, e vou
recuperando.
A levar soro na ambulância
Regresso ao meu alojamento, quando tiro a sapatilha até me
assustei ao ver o meu dedo grande do pé todo preto.
No dia seguinte fui ao hospital e confirmou-se uma fractura.
Fractura do dedo
Em jeito de conclusão posso dizer que adorei participar nesta
prova que é de elevada exigência e agora posso dizer, que o Norseman,
considerada a prova de triatlo mais dura, ao lado do Janosik não passa de um
mero mito. Em todos os Ironman’s extreme ou não nós retemos coisas boas e
coisas más, e efectivamente no Janosik sobressai a sua dureza.
Não ter acabado só me permitiu enriquecer as minhas
vivências. Fica a dúvida sobre uma futura participação nesta prova, a ver vamos
o que se avizinha em 2020.
Obrigado a todos pelo apoio.